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Marino reclama que casos de racismo viraram moda no futebol brasileiro. | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Marino reclama que casos de racismo viraram moda no futebol brasileiro.| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Uma madrugada longa sucedeu o dia mais triste da carreira de Marino. O volante de 28 anos, do São Bernardo, só conseguiu dormir depois de conversar com a mulher, Francielle, e com os companheiros do time. Todos tentavam tranquilizar e aconselhar o jogador, vítima de racismo na partida em que seu time foi derrotado por 3 a 1 pelo Paraná, na noite desta quinta-feira (10), pela Copa do Brasil.

Na manhã desta sexta, pouco antes de o São Bernardo deixar Curitiba, Marino conversou com exclusividade com a Gazeta do Povo. Sereno, mas ainda indignado, lembrou em detalhes a ofensa de dois torcedores paranistas no momento em que ele, expulso, deixava o gramado. Contou que chegou a tentar pular o alambrado para ir atrás de quem o xingou e prometeu levar o caso até as últimas consequências.

Como foi a noite passada? Conseguiu dormir que horas?Lá pelas três horas da manhã. Cheguei no hotel meio abalado. Meus companheiros me deram alguns conselhos, falei com a minha esposa. Ela é da minha cor, sabe como é. Perguntou como eu estava me sentindo, falou dos nossos filhos. Fiquei mais tranquilo. Mas é complicado. Achei que nunca ia passar por isso. Está ficando cada vez pior, é em todo lugar. Virou moda. Mas a gente supera. Dá a volta por cima fácil.

Como foi o episódio?O juiz deu os acréscimos e eu fui expulso. Estava saindo de campo e os torcedores começaram a xingar. Até aí, beleza. Tinha dois caras - um senhor mais de idade e um outro. O senhor me chamou uma vez de macaco. Nem liguei, fiquei de boa, na minha. Aí começou a falar várias vezes, cara. Aí não dá. Subiu o sangue. Joguei um copo d’água nele e bateu no vidro de proteção. Aí o outro do lado dele começou a xingar também. Começou a xingar, xingar, xingar… O resto da torcida saiu de perto e o segurança foi atrás, mas os dois saíram correndo. Entrei para o vestiário, fiquei triste. Chorei de raiva. Fica fácil para eles, do lado de fora, xingarem a gente. Dentro do campo estamos sujeitos a tudo, não podemos fazer nada. Se estou do lado de fora, ele não xinga, não. Fica mansinho.

Você já tinha passado por isso?Nunca. Nem passava pela minha cabeça. Ainda mais no Brasil, onde a maioria da população é negra. Você está trabalhando sério e chega um 'zé ninguém' para te ofender? É brincadeira, né? Se xingasse de outra coisa, até relevava. Estou acostumado.

Coincidentemente, no mesmo dia o Esportivo foi rebaixado no Campeonato Gaúcho pelo racismo de torcedores contra o árbitro Márcio Chagas da Silva. Esse é o caminho?Tem de ser desse jeito, com punição severa. Aí aprende. Eu jogo, mas também sou torcedor. E sei torcer, sei o meu limite. Tem cara que enche a cara de cachaça, perde a noção do que faz e acaba prejudicando o clube. Vai ver se no Rio Grande do Sul alguém vai xingar de macaco de novo. Nunca mais.

Alguém do Paraná falou algum coisa?O presidente foi na salinha, falou alguma coisa, mas também não dei muita moral.

Você consegue reconhecer quem te xingou?Consigo. Tentei até pular o alambrado para pegar o cara. O segurança do Paraná pôs a mão no meu peito, senão eu ia fazer uma cagada facinho, facinho. Se pegar esses caras, não vai ter chorinho, não. Vai ficar preso.

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