Panorama
Asfixia financeira faz Paraná conviver com debandadas e greve
A mais nova crise em campo do Paraná se mistura aos problemas contábeis de sempre. A conta não fecha, os atrasos salariais persistem e devem comprometer a formatação da equipe para a disputa da Série B. "Como qualificar sem dinheiro? A diretoria faz todos os esforços possíveis. Mas as dificuldades são muito maiores do que se imagina", reconheceu o técnico Milton Mendes.
Em outros setores, além da paralisação, o clube sofre com a saída de funcionários. Só na última semana, três integrantes do staff da Vila Capanema se desligaram. Entre eles, Londre Borges Seixa, ex-roupeiro do clube e que trabalhava na manutenção no Érton Coelho Queiroz, onde os funcionários cruzaram os braços desde o início do mês. Ele trabalhava no Paraná há 25 anos.
"Todo mundo adora o clube. Mas não está mais dando conta. Sempre houve problemas, mas agora piorou demais. Ninguém aparece aqui para falar com a gente", afirmou um funcionário, que não quis se identificar e que está há 18 anos no clube.
No departamento médico, há funcionários que não recebem desde dezembro.
Sem receita, sem calendário e sem ânimo, o Paraná tenta se refazer da inesperada eliminação no Campeonato Paranaense. O adeus precoce mudou o foco para o restante da temporada, cujo futuro próximo é sombrio.
Reuniões durante toda a segunda-feira movimentaram a sede da Avenida Kennedy no dia seguinte à derrota para o Atlético. Tropeço deflagrado antes mesmo do clássico e que teve um vilão interno tão perigoso quanto o Rubro-Negro: o atraso de salários.
O problema financeiro crônico atingiu outro pico às vésperas do clássico e roubou a atenção da partida toda desenhada a favor do Tricolor vantagem no placar, torcida única e mando de campo e que terminou 2 a 0 para o Furacão.
"Aconteceram tantas coisas que tiraram totalmente o foco da partida, dificultaram a nossa concentração, perdemos a nossa rotina", relembrou o técnico Milton Mendes, à Gazeta do Povo, ao chegar para se reunir com a diretoria paranista na sede da Vila Guaíra.
O treinador foi questionado pela reportagem sobre os boatos de que teria dado R$ 25 mil para aliviar o rombo na conta dos atletas. "Não quero falar sobre isso", afirmou. "Fiz minha parte como técnico e coisas além disso. Procurei ser como um pai para esse grupo. Próxima pergunta, por favor", desconversou.
Com pendências salariais que se arrastam desde 2013, os jogadores não treinaram e ameaçaram não se concentrar no último sábado. "O foco da semana foi outro", admitiu o diretor de futebol Roque Junior, que denunciava nos os olhos vermelhos a exaustão de horas de reuniões com o presidente Rubens Bohlen e os vices Luiz Carlos Casagrande e Celso Bittencourt.
Um dos temas de ontem foi uma revisão no elenco, que sofrerá cortes. "É um passo natural para um grupo com 38 jogadores, que precisa se qualificar para definir suas metas para Série B", afirmou Mendes. Ele não quis citar carências ou excessos no plantel, mas alertou para uma política de contratações mais criteriosas. Dezenove atletas chegaram para esta temporada.
Sobre a comissão técnica, não houve mudanças anunciadas. "Decisões precisam ser tomadas. Mas isso [a troca de treinador] não foi falado na reunião", afirmou Roque Júnior, que reconheceu o baque da desclassificação. "Tem um impacto negativo porque perde calendário, bilheteria e, esportivamente, a chance de brigar pelo título", enumerou.
Ao desfalcado cofre paranista, o prejuízo mínimo estimado seria de R$ 150 mil líquidos, para um jogo de semifinal com um público aproximado de 10 mil torcedores. Além de grande possibilidade de maior arrecadação com ingressos valorizados em uma eventual final.
Agora, o Paraná se prepara para um longo hiato na agenda. Até o início da Série B, no dia 19 de abril, o time tem apenas um jogo agendado: a volta contra o São Bernardo pela Copa do Brasil, em 10 de abril, quando uma classificação pode amenizar o difícil cenário tricolor. Haverá outro mais à frente, com a paralisação para a disputa da Copa.
Passo a passo
Veja no que afeta a eliminação precoce do Paraná no Estadual:
1. Calendário - Com a eliminação no PR-2014, o Paraná vive um recesso forçado. Jogará agora apenas no dia 10/4, contra o São Bernardo-SP, no jogo de volta da Copa do Brasil. São 18 dias de recesso. Será o último teste antes da estreia na Série B, dia 19/4, com Sampaio Corrêa, no Maranhão.
2. Dinheiro - Com uma agenda de muito treino e poucos jogos, o clube perde a importante receita com bilheteria. Se fosse à final do PR-2014, teria ao menos dois jogos com 10 mil pagantes. Arrecadação estimada de R$ 150 mil líquido por jogo decisivo no regional.
3. Patrocínio - Embora com dificuldade para achar anunciantes na camisa, a decisão do Estadual abriria novas possibilidades para o Tricolor especialmente pela exibição em tevê aberta para o estado dos duelos na semifinal e final. No ano passado, o espaço na barriga girou em torno de R$ 30 mil por jogo.
4. RH - Salários atrasados e tempo ocioso é uma combinação explosiva na Vila Capanema. Sem a possibilidade de diversificar as receitas, tende a aumentar a insatisfação dos atletas e funcionários com a impontualidade nos pagamentos da remuneração. Em meio à crise, a diretoria precisa ainda reforçar elenco.
5. Sócios - A eliminação faz a diretoria temer um baque no processo associativo dos torcedores. Na semana passada, o clube fez uma campanha para angariar novos sócios e a ideia era intensificar esse processo na fase final do PR-2014.
6. Copa-2014 - Durante quase 40 dias o Paraná e os times da Série B ficarão sem jogar entre junho e julho, devido ao Mundial. Esse período já era considerado crítico pela diretoria para arrecadar recursos e manter a situação regularizada para o restante da disputa da Série B.
7. Treinador - Embora ninguém confirme, a situação de Milton Mendes ficou dramática na Vila Capanema. O treinador corre o risco de seguir os passos de Toninho Cecílio, descartado logo após a eliminação no Estadual e na Copa do Brasil.
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