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Improviso e falta de tradição derretem qualquer esperança do Brasil nos Jogos de Inverno de Turim 2006, que começam hoje na Itália. Mesmo com um investimento recorde, os brasileiros devem manter a sina dos países tropicais de nunca subirem ao pódio na Olimpíada gelada.

O verde-amarelo será representado na Itália por dez atletas, um a menos do que na edição de Salt Lake City (Estados Unidos), em 2002. Todos com vocação para figurantes, apesar do acréscimo de 609% no dinheiro gasto desde 2003. Foram R$ 282 mil para o evento nos EUA e R$ 2 milhões agora, graças à Lei Piva.

A verba repassada garantiu maior participação tupiniquim em eventos internacionais nesse período. Mas como a maioria dos atletas mora mesmo no Brasil, a distância contínua da realidade que será encontrada em Turim e a precariedade da preparação os transforma em inevitáveis coadjuvantes.

Para enfrentar a neve, os competidores recorrem a soluções inusitadas. "É tanto frio nos treinos no exterior que enrolo jornal nos pés", conta Claudinei Quirino, reserva do bobsled. A tática era usada pelos pracinhas que lutaram na Segunda Guerra Mundial.

O "jeitinho brasileiro" não tem limites. "Algumas pessoas passavam e diziam que se eu quisesse aparecer era melhor colocar uma melancia na cabeça", conta o funcionário público Hélio Freitas, representante no cross country. Sem um local adequado para se preparar, ele adaptou os esquis e treinava no canteiro central de uma das principais avenidas de Campinas.

Parte do treinamento da equipe de bobsled só não foi mais constrangedora porque dava para disfarçar. Sem equipamento, eles simulavam o impulso do trenó empurrando um carro. "Quem não sabia que eram atletas achava que estávamos ajudando alguém", brincou Edson Bindilatti.

O estilo pouco convencional lembra a odisséia da classificação da primeira equipe jamaicana de bobsled para a Olimpíada de Inverno, de Calgary, em 1988. A história virou filme, assim como deve se transformar a vida dos brasileiros. O roteiro, pouco original, dos Bananas Congeladas (apelido ganho pelos atletas em Salt Lake City), já está sendo escrito e vai se chamar Better Than Gold (Melhor que Ouro).

Outro problema é a falta de conhecimento do percurso. De todas as equipes que vão disputar os Jogos, apenas a brasileira ainda não desceu na pista de Cesana Pariol. O treino só deverá ocorrer às vésperas da estréia, no dia 24.

"É complicado, temos muitas dificuldades, mas só de representar o Brasil ficamos orgulhosos. É uma Olimpíada", pondera Armando dos Santos, integrante do bobsled.

A única exceção na equipe é Isabel Clark. No ano passado, ela conquistou o oitavo lugar na etapa de Whistler, no Canadá, da Copa do Mundo de snowboard. Os bons resultados foram decisivos para a escolha da atleta como porta-bandeira da equipe brasileira no desfile de abertura, hoje.

Cerimônia de abertura da Olimpíada de Inverno, às 17 h, no Sportv.

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