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As vítimas da violência policial no clássico de domingo – atingidas com projéteis de borracha desferidos em frente à Arena – vivem um misto de revolta e indignação. Prometem ir às últimas conseqüências em busca de justiça.

Naraiana Cardoso, 15 anos, recebeu a chamada "bala não-letal" no olho esquerdo. Ao deixar a Arena (ainda na Madre Maria dos Anjos, rua de acesso ao estádio), ela escutou um estrondo, virou-se para o tumulto e foi alvejada. Segundo a família, terá de passar agora por uma cirurgia. E corre o risco de perder parte da visão.

"Estava indo pacificamente para casa. Ainda estou muito assustada... Só posso dizer que não tinha motivo para tanto. A Polícia Militar agiu mal. Havia pouca gente no local", recorda a menina, torcedora do Paraná. "Espero agora que o responsável seja punido."

Sérgio Bonato Cardoso, o pai da garota, reforça o discurso. "Minha filha estava sem a camisa do time, pois eu não deixo justamente por questão de segurança. É um absurdo o que aconteceu. Não dá para voltar atrás, no entanto iremos buscar uma solução jurídica (leia-se danos morais)."

A indignação traz um agravante. Jeferson Padilha, 20, namorado de Naraiana, também acabou atingido no rosto pelo tiro que deveria ser apenas de efeito moral. Encontrava-se ontem com a boca inchada e tendo alguma dificuldade para falar.

"Estávamos a uns 30 metros do portão de entrada quando começou o tumulto. Primeiro, o policiamento intensivo baixou o cacete. Em seguida, começaram a atirar em todo mundo. A bala veio direto em mim", relembra. "No mínimo, vou processar os responsáveis. Sou tricolor e vou há dez anos aos jogos. Jamais vi isso", avisa.

O major Sérgio Cordeiro de Souza, responsável pelo trabalho de segurança na Baixada, admite ter ocorrido ao menos uma falha – mas prefere aguardar os desdobramentos da investigação interna antes de dar um parecer.

"A orientação é atirar para o chão, nunca do peito para cima. Em caso de necessidade, deve-se atingir apenas os membros inferiores, evitando assim ferimentos graves", explica.

Na tarde de ontem, a Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp) determinou o afastamento preventivo do cabo Cristiano Araújo Pedro, acusado pela imprudência. Durante o desenrolar do processo que apura as lesões corporais, ele fará apenas trabalho administrativo. Caso seja condenado, poderá ser expulso da corporação.

Na justificativa da PM, a ação intempestiva veio em conseqüência de uma briga entre a Fúria Independente, torcida organizada, com os seguranças contratados pelo Atlético. "A facção quebrou cadeiras e banheiro. Ocorreu então uma resposta em defesa do patrimônio do clube. Poderia ser esse o estopim do incidente", avalia o major.

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