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“Nós fizemos a história do Paraná na década de 90, o período de ouro. Era um time pouco conhecido que surgiu grande. Infelizmente, pessoas despreparadas estão destruindo tudo que fizemos dentro de campo.” | Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo
“Nós fizemos a história do Paraná na década de 90, o período de ouro. Era um time pouco conhecido que surgiu grande. Infelizmente, pessoas despreparadas estão destruindo tudo que fizemos dentro de campo.”| Foto: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

Entrevista com Saulo, ex-jogador e técnico.

Saulo estreou no Paraná na Série B de 91 contra o Criciúma. Logo no pri­­­­meiro jogo, marcou um gol. Deixou o campo aplaudido, es­­pecial­­mente pela vontade incomum de buscar o jogo e tentar o gol. Depois disso, o camisa 9 jogou mais 207 partidas pelo clube – e sempre com a mesma disposição e competência. No total, venceu os goleiros 104 vezes. A história bonita do hoje treinador lhe dá o direito de desabafar, cobrar resultados, criticar dirigentes, agir como torcedor. E ele faz isso.

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O Paraná completa 20 anos e não tem como falar do clube sem ouvir você...

Putz... Não queria falar sobre o Paraná mais. O pessoal no mundo da bola me trata como torcedor do clube e isso tem atrapalhado minha carreira de técnico. Essas manias que os dirigentes têm. Uma pena.

Mas não pode falar nada?

A única coisa que posso dizer é como atleta. Nós fizemos a história do Paraná na década de 90, o período de ouro. Era um time pouco conhecido que surgiu grande. Infelizmente, pessoas despreparadas estão destruindo tudo que fizemos dentro de campo.

Como foi a sua vinda para o clu­be?

O Aramis Tissot que me trouxe. Ele acertou tudo com o meu em­­pre­sário. Tinha um nome em Mi­­nas por ter feito um bom campeonato pelo Valeriodoce. Aí fui pa­­­­ra o Atlético-MG. Mas me ma­­chuquei e quando estava recuperado o Gérson (artilheiro de três edições da Copa do Brasil, morreu em 1994, vítima de toxoplasmose) era titular absoluto. Pe­­di para ser negociado e surgiu o Pa­­raná. Tinha várias propostas, inclusive do Coritiba. Mas optei pelas informações que tinha, além da me­­lhor condição financeira.

Por que o projeto paranista não seguiu forte?

O Paraná, na verdade, era para ser um dos maiores times do país. Dei­­xou de estar no Clube dos 13 por so­­lidariedade ao Coritiba e ao Atlé­­­tico, que na época também não fa­­ziam parte. Pessoas incompetentes tomaram essa atitude de forma equivocada. Dirigente de futebol, antes de tudo, deve pensar no seu clube.

Fale sobre o clube. Como era jo­­gar em um time sem rivais no estado?

Era um sucesso mesmo. Grandes jogadores e pagamento em dia. Nesse ponto é bom salientar uma coisa: o Paraná nunca pagou grandes salários, mas era pontual pra caramba. Também tinha uma política de multiplicar bichos em jogos importantes. Em clássico, por exemplo, o bicho de US$ 200 passava para US$ 1.500. Era a ideia do seu Aramis, um cara que motivava o time por ser muito próximo dos jogadores e incentivava com prêmios desse tipo.

Como agiam os dirigentes da época?

O Paraná nunca, no meu tempo, deixou de ser refém de técnicos e jogadores. Por isso, teve sucesso. Jamais fazia a vontade e mimos de empresários e seus atletas. Aramis, Darci Piana e Ocimar Bolicenho foram meus presidentes e tinham postura firme.

Como você vê o Paraná hoje em dia?

Temo pelo Paraná. É possível que chegue no fundo do poço como já aconteceu com Bahia e Flumi­­nense. Torço para que isso não aconteça, mas é sério o risco. Às vezes é preciso ir para a Terceira para que as pessoas que atrapalham tomem a decisão de sair.

Qual o seu grande momento com a camisa do clube?

Todo mundo acha que o meu gran­­de momento com a camisa do Paraná foi o gol contra o Vitó­­ria (final da Série B de 1992), mas não foi. Esse episódio foi, sem dúvida, marcante, mas divido com 18 atletas e comissão técnica. Sei que aquele feito alegrou toda uma torcida. Agora, como atleta, no meu íntimo, foi o centésimo gol. Mar­­quei ele contra o Palmeiras e, pessoalmente, fiquei muito emocionado. Pou­­­cos atletas conseguiram essa façanha por um clube. Eu consegui.

Quem foram seus grandes companheiros de time?

Adoílson e João Antônio. O Adoí­­l­­son pela capacidade rápida de pensar as jogadas. O João Antônio pela facilidade que tinha de marcar e chegar à frente. Era um grande finalizador. Sem contar o fato de ser ambidestro.

E a carreira de técnico?

Não estou trabalhando como técnico, por enquanto. Preferi me dedicar aos meus negócios. Além disso, assumi um projeto beneficente na Vila Torres, próximo ao colégio Esperança, com 65 garotos. Estou me realizando com isso. Ver essa gurizada se distraindo com o futebol é uma vitória. Estou bem em­­polgado. É muito gratificante esse trabalho.

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* Saulo da Fé de Freitas é o maior goleador da história do Paraná. Foram 104 gols em 208 jogos. Artilheiro do Campeonato Paranaense de 1991, ajudou o clube a conquistar o título da Série B de 1992 e o Paranaense de 1996.

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