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 | Mauro Campos
| Foto: Mauro Campos

Você lembra qual foi a última grande briga entre torcidas organizadas nos estádios de Curitiba? Poucos deixarão de começar a frase com um abstrato "faz tempo". E com certa razão. Foi no dia 17 de outubro de 1999, quando um Atletiba no Couto Pereira, pelo Brasileiro, virou campo de guerra nas arquibancadas. Mas a mais recente confusão de porte envolvendo apenas uma organizada ocorreu dia 11 de fevereiro de 2001, quando atleticanos destruíram a casa alviverde após um jogo pelo Paranaense. As grades de proteção dos anéis superiores do Alto da Glória ficaram penduradas pelos poucos pedaços que não foram arrancados.

Esse período de aproximadamente seis anos sem atos de barbárie dentro do estádios não serviu para limpar a barra das torcidas organizadas com a sociedade. Uma pesquisa promovida pela Paraná Pesquisas entre os dias 21 e 22 de março apontou que 69,72% dos curitibanos consideram essas associações violentas. Um número parecido, de 67,10%, confessou achar que os estádios seriam locais mais seguros sem elas. Reflexo, talvez, de deslizes imperdoáveis como a briga entre jogadores e torcedores do Coritiba no aeroporto, no ano passado, assim como entre atleticanos na Arena, na semifinal da Sul-Americana.

Depois da surpresa e do desapontamento iniciais, os chefes das três maiores torcidas organizadas da cidade afinaram o discurso de defesa. No mesmo tom, reclamaram primeiro que muitos dos entrevistados não costumam ir aos estádios e, por isso, têm conhecimento insuficiente para opinar. Também disseram que suas imagens são manchadas pela má fama das organizadas de Rio de Janeiro e São Paulo, acostumadas a dar vexame em rede nacional.

E a primeira tese encontra apoio na prática. Na consulta, 75,51% dos curitibanos admitiram não freqüentar as praças esportivas. Levando-se em consideração apenas os que vivem as partidas de perto, a má fama das organizadas cai sensivelmente. Somente 35,11% desse público considera essa turma de fãs violenta, contra 38,93% que os absolve da acusação.

A situação, nesse caso, melhora, mas não é certeza de aprovação. Acostumado a acompanhar o Atlético até em estados vizinhos, o securitário Marcos Antônio Suzuki Júnior, de 28 anos, revelou que a ausência de grandes tumultos não significa que as organizadas sejam pacíficas.

"Não sou radicalmente contra, mas já vi muita coisa que dá motivo para mesmo quem vai aos jogos considerar essas torcidas violentas. E não é só a violência em si, mas também a falta de respeito tanto no estádio quanto fora dele", opinou.

O fato é atestado pela Polícia Militar, que confirma a existência de atritos nos bairros e em pontos e terminais de ônibus. Segundo o chefe de planejamento do Comando do Policiamento da Capital (CPC) major Douglas Dabul, há uma evolução grande decorrente da conscientização dos torcedores e do amadurecimento das lideranças dessas torcidas, mas ainda há "falta de respeito com o torcedor adversário". Mesmo destacando a satisfação com a melhora do comportamento desses fãs do futebol, o oficial não se empolga e afirma que o trabalho precisa ser contínuo.

"Não é que elas [organizadas] não são violentas. Elas não estão violentas. E isso exige um monitoramento constante, até pela alta rotatividade dos torcedores", comentou.

Os representantes desse grupos de seguidores dos clubes admitiram que é impossível um controle rigoroso das ações de seus integrantes, lembraram que muita gente compra uniformes piratas das organizadas para, infiltrados, promoverem atos ilícitos e reclamaram que qualquer briga em campo de futebol ganha dimensão exagerada.

"Em um show, por exemplo, tem uns 300 casos de violência, crime, mas ninguém fala nada. Aí tem um caso em um jogo e fazem um carnaval porque o futebol tem muito espaço na mídia. Quem vê de fora pensa que esse tipo de problema é corriqueiro", explicou Luiz Fernando Corrêa, presidente da Império Alviverde.

Ele, Juliano Rodrigues (vice da Fanáticos) e João Luiz de Carvalho (vice da Fúria Independente) se defenderam argumentando que violência faz parte da sociedade, especialmente onde há aglomeração de pessoas, e que não é culpa das organizadas.

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