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A calçada da fama, sem as placas indicando os homenageados... | Antonio Costa/Gazeta do Povo
A calçada da fama, sem as placas indicando os homenageados...| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo
  • ... e o CT RIcardo Teixeira, completamente abandonado:

Na quarta-feira fará cinco anos que o torcedor paranaense viu pela última vez a seleção brasileira atuar no estado. Quem esteve no Pinheirão na noite de 19 de novembro de 2003 lembrará por um bom tempo da partida entre Brasil e Uruguai, embora não haja nada para se comemorar. Nem pelo jogo, válido pelas Eliminatórias da Copa de 2006, um eletrizante 3 a 3. Tampouco pela marca negra deixada por aquele confronto no estado. Nunca se pagou tão caro para assistir e realizar um jogo do selecionado brasileiro.

Em números, os 31 mil ingressos foram vendidos a preços de show internacional: entre R$ 60 e R$ 200. Na época, o então presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Moura, alardeava que a reforma em seu estádio havia custado R$ 3 milhões. A renda da partida foi pouco além da metade disso: R$ 1,6 milhão.

Tendo o tempo como juiz, hoje a percepção ultrapassa a análise simplista. O prejuízo financeiro é pouco se comparado ao ostracismo a que ficou relegada a administração do futebol do Paraná em nível nacional. Depois de Brasil e Uruguai, a FPF ficou ilhada, distante de qualquer ajuda da CBF. Recentemente, aquele fato de cinco anos quase respingou na candidatura de Curitiba à sede da Copa do Mundo de 2014.

"Aquele jogo foi a gota d’água para o futebol paranaense. A Federação se acabou, o Pinheirão se acabou, todo mundo se acabou com aquela partida", lembra Almir Zanchi, na época diretor-técnico da FPF.

A partida marcou o fim de uma união que parecia eterna: a do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, com o chefe do futebol no estado, Onaireves Moura. Desde 1989, quando Teixeira assumiu a confederação, Moura foi uma espécie de braço direito do genro do então presidente da Fifa, João Havelange. No período, o Paraná foi o estado onde a seleção mais jogou (leia texto nesta página).

Mas depois do rompimento, nem seleção nem Ricardo Teixeira voltaram a pisar no estado. No ano passado, em visita às cidades candidatas a sede de 2014, o presidente da CBF passou por São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre, pulando a capital do Paraná.

Mas o que aconteceu nos bastidores daquela partida para que uma amizade tão longa se rompesse em poucos minutos? A Gazeta do Povo conversou com várias pessoas que estavam na FPF e CBF na época e conseguiu esmiuçar um pouco mais a história que, por cinco anos, deixou o futebol do estado a mercê da sorte.

A versão da Confederação Brasileira de Futebol é de que a FPF deu o calote. Além de não repassar a renda da partida, não pagou o hotel no qual a delegação ficou hospedada por três dias. A versão é confirmada também por ex-funcionários da Federação, mas o ato de Moura não teria sido premeditado e sim desesperado.

Em umas das últimas jogadas para recuperar o que sempre afirmou ser o seu xodó, o Pinheirão, Moura teria arriscado alto. Fez muitos acordos, mas acabou só. Na verdade, a FPF não teria ficado devendo toda a renda do jogo para a CBF, mas R$ 1,2 milhão. O valor teria sido o preço pelo qual Moura "comprou" a partida de Teixeira.

Com a seleção "na manga", o dirigente pensou que conseguiria seduzir os políticos locais a colocar dinheiro público na reforma do estádio. Diz ter recebido até promessa de Roberto Requião – negada no Palácio Iguaçu. Mas o fato é que quem teve de arcar com todas as despesas foi a FPF.

Sem dinheiro para pagar os credores, a última tentativa de Moura foi apelar a Teixeira. Disse para o aliado que a partida não havia dado lucro e não teria repassado nem um centavo. Na CBF, o caso é lembrado com ironia. Afinal, nos corredores da entidade, o confronto entre Brasil e Uruguai é lembrado como o único da história da seleção a dar prejuízo.

"O governo ficou de ajudar e não ajudou. Daí ficaram umas dívidas", conta o então vice-presidente da federação, Jorge Dib Sobrinho.

Naquela noite, Teixeira voltou ao Rio de Janeiro com um empate amargo e de mãos abanando. Depois, a CBF ainda acabou no Serasa por não ter pago as diárias do hotel. Moura usou a renda para quitar parte das dívidas, mas o que ficou fez com que ele perdesse de vez a FPF do controle. Muito pior que isso, porém, foi o rompimento com seu maior aliado.

"Depois daquela partida a dívida da Federação acumulou muito", conta o advogado Vinícius Gasparini, que até o ano passado, quando fazia parte da entidade, lidava com algumas execuções de credores da época da partida. "Ela (a CBF) nunca cobrou nada. Mas também nunca mais ajudou."

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