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| Foto: GILBERTO ABELHA/GAZETA DO POVO

Prato sueco em "homenagem" à última vítima

Não houve conversa no primeiro contato entre Natália Falavigna e a mãe logo após a conquista da primeira medalha da história do tae kwon do brasileiro em Olimpíadas. Só lágrimas. "Ela começou a chorar. Falei pra ela: ‘você chegou lá!’. E é o que me disseram: medalha olímpica não tem cor. Um pódio olímpico coroa todo o trabalho de um atleta. Ela e toda equipe estão de parabéns", disse uma orgulhosa dona Ana Maria Falavigna.

Também não houve tempo para preparar a festa em Londrina, o que deve acontecer terça ou quarta-feira, quando a lutadora medalha de bronze em Pequim estará de volta à cidade. Os pais de Natália preferiram receber a imprensa na escola de inglês da família.

Dona Ana estava eufórica, aliviada. Mal havia conseguido assistir às lutas da filha pela tevê, tamanho o nervosismo. O filho foi quem avisou que a irmã havia ganho da sueca Karolina Kedzierska na luta pelo terceiro lugar.

"As lutas de noite foram mais tensas, essa última é que foi mais tranqüila. Mas Olimpíada é difícil. Essa medalha é uma gratidão. Estamos muito agradecidos.

É bronze, mas tem gosto de ouro para nós", afirmou a mãe.

Ela imagina que a filha vá querer saborear a medalha comendo um belo estrogonofe, seu prato preferido, mas dona Ana tem outros planos para recebê-la. "Vai ser um prato sueco, quero curtir a Suécia na minha casa", brincou, em referência à naturalidade da adversária de Natália na luta histórica.

Diego Prazeres, do JL

Medalha olímpica não tem cor. Ainda mais para a paranaense Natália Falavigna, que ontem entrou para a história do tae kwon do brasileiro como a primeira atleta da modalidade a subir no pódio em uma Olimpíada. Foi a terceira na categoria acima de 67 kg, um bronze estrategicamente perfeito para que o Brasil atingisse a 15ª medalha, igualando Atlanta-96, o recorde até então.

Até ontem, o país somava 14 no quadro de medalhas, mas, com a decisão do vôlei masculino, na madrugada de hoje, teria mais um pódio assegurado para igualar a marca. Se Marílson Gomes dos Santos ou Frank Caldeira seguirem o exemplo da paranaense e surpreenderem na maratona, o país pode deixar Pequim com recorde de medalhas.

Natália contribuiu como pôde. "Com certeza (tenho consciência de que estou entrando para a história). Vim em busca do ouro, mas é como a minha mãe me falou agora: medalha olímpica não tem cor. Tive alguns tropeços, mas soube dar a volta por cima", falou a atleta, que chorou após conversar com a família ao telefone (veja matéria ao lado), logo após a luta que decidiu um dos bronzes – no tae kwon do são dois terceiros lugares.

O choro fez parte dos dois dias decisivos da lutadora. Na véspera, ficou sozinha no apartamento da Vila Olímpica – o restante dos atletas da modalidade já foram embora, Natália embarca hoje cedo. E ficou passando o tempo entre a internet, música e o choro espontâneo, uma mescla de nervosismo e ansiedade, para aliviar a pressão.

Ontem, após a derrota para a norueguesa Nina Solheim, por decisão dos árbitros, novamente entrou no vestiário com lágrimas nos olhos, por perder a chance de disputar o ouro, mas foi contida pelo treinador. "Viemos aqui para conquistar uma medalha", disse Fernando Madureira, que trouxe a lutadora de volta. E, na luta do bronze, Natália venceu fácil a sueca Karolina Kedzierska, por 5 a 2.

A conquista da lutadora para a modalidade teve nuances diferentes desta vez. Acostumado a ver os atletas reclamando das condições de treino, da estrutura e da confederação a cada vitória importante, ontem Natália mudou um pouco o discurso.

"Sei que agora as coisas vão acontecer. Vou poder ter quatro anos para planejar e espero ter um pouco de apoio para poder sair mais do país e chegar em Londres com mais condições de brigar pelo ouro", disse.

Depois, surpresa: elogiou, comedidamente, o trabalho da entidade que rege o tae kwon do no país. "Não jogo pedras. Está crescendo, a preparação já foi diferente desta vez. Viajamos, fizemos intercâmbio. De Atenas para cá melhoramos os resultados. De Pequim até Londres, temos de melhorar ainda mais. Esse processo é algo que leva tempo também".

Madureira, contudo, quer que a medalha acelere o processo: "Com essa medalha e os resultados que temos, terá de vir mais verba para a gente. Pois é difícil você ver outros que conquistam bem menos ganhando o mesmo que você", reclamou.

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