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Wang Liqin, Ma Lin e Wang Hao no pódio individual do tênis de mesa, esporte dominado pelos chineses. | Teh Eng Koon/ AFP
Wang Liqin, Ma Lin e Wang Hao no pódio individual do tênis de mesa, esporte dominado pelos chineses.| Foto: Teh Eng Koon/ AFP

Escolha como sede é sinônimo de melhor desempenho

A liderança do quadro de medalhas coroa a ascensão mais meteórica de um país nos Jogos. Participante da Olimpíada desde Los Angeles-1984, a China estreou com um quarto lugar nos EUA – ajudado pelo boicote socialista liderado pela União Soviética –, caiu para 11º em Seul e depois não mais saiu das quatro primeiras posições. Em Atenas, três anos depois de saber que sediaria os Jogos de 2008, liderou por alguns dias, mas perdeu o título para os americanos na segunda semana de competições.

A China não foi o único país a turbinar sua participação olímpica a partir da escolha como sede dos Jogos. Nos últimos 20 anos, abrigar a principal competição esportiva do planeta foi quase sempre sinômino de avanço signicativo no quadro de medalhas.

A Coréia do Sul foi o primeiro país a experimentar essa evolução. Nos Jogos de Montreal, em 1976, conquistou apenas um ouro (seis medalhas no total) e fechou a edição em 19º. Em 1981 recebeu o direito de organizar o evento sete anos mais tarde, em Seul. Já em Los Angeles, ajudada pelo boicote, acabou em 10º. Das seis Olimpíadas seguintes, só não ficou entre os dez melhores em Sydney (terminou em 12º). Em Pequim, chegou a ocupar a segunda posição nos primeiros dias de competição e fechou sua campanha em sétimo lugar.

Potência de um esporte só (a natação) até 1992, a Austrália protagonizou avanço semelhante. Nos Jogos realizados em Barcelona, terminou em décimo lugar. Em Atlanta-96, já escolhida sede da Olimpíada seguinte, acabou em sétimo. Foi quarto na sua casa e em Atenas, caindo para sexto em Pequim, com seus 17 ouros distribuídos por seis modalidades.

Um dos responsáveis pela queda australiana foi o Reino Unido. Após um pífio 36º lugar com apenas um ouro em Atlanta-96, os britânicos esboçaram reação com o 10º lugar na Austrália e na Grécia. Na China, um ano depois da escolha de Londres como sede da Olimpíada de 2012, conquistaram o maior número de medalhas douradas em 100 anos: 19, contra 56 da edição de 1908, também na capital inglesa. O terceiro lugar só foi perdido para os russos no sábado. Resultado de um investimento pesado que deve dar resultados reais daqui a quatro anos.

"Nós estamos investindo uma quantia recorde de dinheiro público em nossos atletas de elite e esperamos ver isso transferido para o sucesso de medalhas em Pequim, nesse verão, e em Londres, em 2012", disse Gerry Stucliffe, ministro dos esportes britânico, pouco antes do início dos Jogos. (LMJ, NF e SC)

Quando Berlim foi escolhida sede dos Jogos de 1936, a Alemanha queria mostrar ao mundo sua nova cara. Adolf Hitler via o palco perfeito para afirmar a pretensa superioridade da raça ariana. Uma falsa hegemonia que mergulharia o mundo na sua Segunda Grande Guerra três anos depois.

Quando Pequim foi escolhida sede dos Jogos de 2008, a China queria mostrar ao mundo sua nova cara. O governo local via o palco perfeito para mostrar as maravilhas que o socialismo de mercado proporcionou ao país, sem qualquer pretensão de superioridade. Embora ainda registre índices preocupantes de trabalho escravo e cerceamento às liberdades individuais, a única "ameaça" que o gigante asiático representa é a de se tornar a maior economia do planeta.

Mesmo com sutis semelhanças e diferenças significativas, as edições na Alemanha e na China têm algo marcante em comum. Foram as únicas, nos últimos 72 anos, em que o topo do quadro de medalhas não foi ocupado pela bandeira estrelada com listras dos Estados Unidos ou a foice e o martelo da União Soviética – em 1992, as 15 já ex-repúblicas socialistas soviéticas ainda competiram juntas e ficaram em primeiro, sob o nome de Comunidade dos Estados Independentes.

A vantagem chinesa no quadro final de medalhas é incontestável: 51 ouros, 21 pratas e 28 bronzes, 100 no total. Quinze ouros a mais que os norte-americanos, vencedores das três últimas edições dos Jogos.

Uma vitória que acima de tudo valoriza o modelo esportivo chinês, com centenas de centros de treinamento espalhados pelo seu território captando crianças de 4, 5 anos que tenham condições de brilhar em esportes individuais e "invisíveis". A explicação para um país que estreou nos Jogos apenas em 1984 ocupar, 24 anos depois, a liderança geral da competição.

A China não conquistou nenhum ouro em modalidades coletivas. O máximo que conseguiu foi uma prata no hóquei feminino e um bronze no vôlei feminino. Também fez mera figuração no atletismo e natação, disputas mais esperadas das Olimpíadas. Somados, os dois esportes distribuíram 81 medalhas de ouro. Apenas uma, a dos 200 m borboleta feminino, foi parar em pescoço chinês, o de Zige Liu.

Nos esportes "nanicos" – ao menos para o gosto ocidental –, contudo, foi raro não ver a bandeira vermelha e amarela no alto do pódio. O país levou 7 das 15 medalhas de ouro no levantamento de peso e 7 de 8 nos saltos ornamentais. No tênis mesa, modalidade mais popular da China, os anfitriões conquistaram todas as medalhas possíveis: ouro, prata e bronze no individual masculino e feminino; ouro nas competições por equipes. Só não ocupou os outros dois lugares no pódio na disputa coletiva porque o COI permite a inscrição de apenas um time por nação.

Na única briga direta com os norte-americanos, a China também levou a melhor. Sua contestada equipe de ginástica artística – suspeita de usar atletas com menos de 16 anos, idade mínima permitida – abocanhou nove ouros, contra apenas dois do time norte-americano.

Além disso, contou com o fracasso dos Estados Unidos no atletismo, modalidade em que a ainda maior nação esportiva do planeta pretendia tirar a diferença no número de ouros. O país deixou Pequim falando em profunda renovação para os Jogos de Londres. Reflexo dos tímidos sete ouros conquistados na pista e no campo – um a menos do que Michael Phelps conquistou sozinho nas piscinas.

O desempenho pífio no Estádio Nacional fez os americanos adotarem uma prática digna dos tempos da Guerra Fria. Na imprensa do país, a consagrada classificação pelo número de ouros foi trocada pela contagem total de medalhas. Assim, no seu território, os EUA venceram mais uma. Mas o resto do mundo sabe quem foi o verdadeiro ganhador dos Jogos Olímpicos de 2008.

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