A Rússia não vai poder competir nas provas de atletismo nos Jogos do Rio de Janeiro, em agosto. Nesta sexta-feira, a Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) decidiu punir a federação russa por causa das evidências reveladas sobre o doping generalizado no esporte russo e manter a suspensão sobre toda as federações de atletismo de Moscou. Essa é a primeira vez que, numa das principais provas da Olimpíada, um país inteiro é banido por conta do doping.
Segundo a agência de notícias France Press (AFP), o presidente da entidade, Sebastian Coe, admitiu abrir exceções. Esses atletas, cujos casos seriam avaliados individualmente, teriam de competir sob a bandeira olímpica caso fossem considerados inocentes das acusações de doping que rondam o país.
Apenas o Comitê Olímpico Internacional (COI) poderá amenizar a punição. Na próxima terça-feira, a entidade convocou sua reunião de cúpula para avaliar se permitirá que uma equipe composta apenas por atletas comprovadamente limpos possam estar no Rio. Para isso, terá de decidir se seguirá o princípio da “justiça individual” ou da “responsabilidade coletiva”.
O que o COI teme é que atletas “inocentes” possam abrir processos legais. É o que promete uma das principais estrelas da Rússia, Yelena Isinbayeva, do salto com vara. Ela já anunciou que pretende entrar na Justiça contra a decisão. “É uma violação dos direitos humanos. Não posso ficar calada, vou tomar medidas. Pretendo buscar uma corte de direitos humanos”, afirmou a grande rival da brasileira Fabiana Murer à agência TASS, sem citar um tribunal específico.
Já uma parte do movimento olímpico defende uma punição geral, como forma de demonstrar que o doping patrocinado e organizado pelo estado não pode ser tolerado.
Nesta sexta-feira, foi o próprio presidente russo, Vladimir Putin, quem fez um apelo à IAAF, reunida em Viena. Mas, por maioria de votos, a entidade entendeu que os russos não cumpriram as exigências de reformas e continuam suspensos de todas as competições internacionais.
Governo russo
Em novembro do ano passado, um informe realizado pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) indicou que o governo russo estava patrocinando e organizando o doping de seus atletas. Uma suspensão foi decretada a todos os esportivas do país em competições internacionais no atletismo. Mas a esperança era de que uma reforma fosse realizada para permitir que esses atletas pudessem ira o Rio.
O Kremlin, que inicialmente negou qualquer envolvimento e chegou a dizer que os informes eram “especulativos”, mudou de postura depois de contratar uma agência de comunicação dos Estados Unidos e passou a garantir que iria “limpar” o esporte. Moscou também prometeu que não colocaria em seu time nenhum atleta com algum tipo de histórico de doping em seu passado.
Mas, desde então, dois ex-funcionários dos laboratórios russos morreram em situações inusitadas e atletas passaram a treinar em centros militares, sem acesso público. As investigações também apontaram como mais de 1,4 mil amostras de sangue e urina foram destruídas antes da chegada de inspetores.
A decisão promete causar uma série de protestos. Nesta semana, a russa Yelena Isinbayeva, medalha de ouro em 2004 e 2008, indicou que poderia ir à corte de direitos humanos se fosse excluída, apesar de jamais ter sido pega em exames de doping. Com a decisão desta sexta, a estrela do salto com vara ficaria de fora daquela que seria a sua quinta Olimpíada.
“A fraude de pessoas desonestas não pode afetar a carreira de atletas inocentes ou implicar a reputação de um país inteiro”, disse a russa numa carta ao COI assinada ao lado de 12 outros atletas.
Manobras
Nas últimas semanas, porém, a Wada voltou a revelar as manobras do governo russo para impedir que atletas fossem alvo de testes por parte de inspetores internacionais. Num informe publicado nesta semana, a Wada ainda alertou que seus funcionários foram ameaçados em Moscou.
De acordo com a entidade, 73 dos 455 testes em atletas não puderam ser coletados. Outros 736 testes foram cancelados. Vinte e três amostras simplesmente desapareceram e, ainda assim, outros 52 casos foram registrados como “adversos”. No documento, a Wada conta como um atleta foi visto escapando de um estádio, enquanto outros tentaram dar propinas.
A situação mais constrangedora ocorreu com os investigadores internacionais, ameaçados por agentes de segurança de serem expulsos da Rússia se entrassem em determinados locais.
Na próxima terça-feira, o COI ainda convocou sua cúpula para considerar “a difícil decisão entre a responsabilidade coletiva e a justiça individual”. Em outras palavras, a entidade vai tentar decidir se o doping sistemático pode ser punido com uma suspensão generalizada ou se atletas limpos seriam injustamente afetados pela decisão.