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Em evolução, o ponta-grossense Cassio Rippel espera surpeender na próxima Olimpíada | Divulgação
Em evolução, o ponta-grossense Cassio Rippel espera surpeender na próxima Olimpíada| Foto: Divulgação

Quando entrou na Academia de Cadetes do Exército em 1995, Cassio Rippel decidiu participar de duas atividades extramilitares: basquete e tiro esportivo. Como a agenda das modalidades coincidiu, ele foi pedir a opinião do seu treinador nas quadras. O técnico acabou conseguindo, educadamente, dispensar o aluno que destoava de outros jogadores e sugeriu o caminho das armas. Ele nem sabia que a pontaria do paranaense seria mesmo mais eficiente para acertar os alvos do que com as cestas. "Agradeço ele até hoje", admite Rippel entre risos.

Quase 20 anos depois, é com um status inédito que o atirador iniciou neste fim de semana o Campeonato de Tiro das Américas, em Guadalajara. Com a passagem pelo México, Rippel encerra a temporada internacional na qual conseguiu escalar até a oitava colocação no ranking mundial – o posto mais alto ocupado por um atleta do país.

A ascensão na carreira do major de infantaria do Exército brasileiro, hoje com 36 anos, viveu uma guinada em 2013. Ele terminou como o melhor atirador da modalidade carabina deitado das Américas e como o 12º melhor do ranking mundial. Também bateu o recorde sul-americano durante na etapa de Milão da Copa do Mundo, ao somar 598 pontos dos 600 em disputa. Além disso, somou dois quintos lugares em etapas de Copa do Mundo (Fort Benning, nos EUA; e Granada, na Espanha), fazendo finais inéditas para os brasileiros. "Conseguimos quebrar todos os tabus e chegar a um nível que o tiro esportivo brasileiro nunca tinha chegado", avaliou.

Este ano, terminou em 11º na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 7º na Eslovênia e 6º na China. A decepção veio no Mundial, quando fico apenas em 46º. Ainda assim, manteve a evolução e vê ainda mais nítido o foco de buscar uma medalha olímpica. Seria, quase um século depois, o reencontro do Brasil com o pódio que rendeu o primeiro ouro nos Jogos, com Guilherme Paraense, na Olimpíada de 1920, na Antuérpia.

Como país-sede em 2016, o Brasil possui vaga garantida e os desempenhos o credenciam a ocupar uma lugar nos estandes no Rio. "Acho possível. O que eu preciso até lá é continuar me preparando para poder chegar em boas condições de competir", avaliou o atirador, que estava nos Estados Unidos e conversou por telefone com a Gazeta do Povo. A equipe brasileira fazia um camping nos EUA antes da disputa no México.

O caminho olímpico seria mais simples e as chances talvez maiores se Cassio Rippel conseguisse se livrar da burocracia. O ponta-grossense está desde janeiro tentando aprovar um projeto no Ministério do Esporte que o ajudaria a bancar uma equipe multidisciplinar de treinamento – ele mora em Campinas. "Ainda não recebo o Bolsa Pódio. O Plano Brasil Medalhas é bem amplo e dentro dele está inserido o Bolsa Pódio como apoio direto ao atleta. A cada dia é uma exigência nova. A última foi o pedido de uma tradução juramentada das especificações da arma para poder importá-la. Até entendo a necessidade. Mas não poderiam ter dito isso lá atrás para adiantar?", questionou. "Era de janeiro a janeiro o projeto. Agora já atualizei para novembro e novembro e vamos esperar", acrescentou, na torcida mensal pela difícil aprovação.

Hoje ele recebe ajuda do Comitê Olímpico Brasileiro e da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo para disputar torneios. No dia a dia, contudo, os equipamentos são bancados com ´consideráveis´ recursos próprios. Cassio treina seis horas por dia a parte técnica, mais duas horas de trabalhos físicos, cinco vezes por semana. Só em munição, são cerca de R$ 200 por dia. A arma custa R$ 18 mil e o alvo eletrônico que ele precisou adquirir para se preparar custa outros 15 mil. "O tiro é um sistema entre eu, minha arma e a munição. Posso ser o melhor atirador do mundo, mas se eu não tiver os melhores equipamento eu não vou chegar. Costumo dizer que não adiantaria dar uma McLaren [atual] ao Senna, por exemplo", explicou.

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