• Carregando...
Vila Olímpica: apartamentos com uma série de problemas levaram o comitê da Rio-2016 a montar um força-tarefa | Daniel Ramalho/Agif/Folhapress
Vila Olímpica: apartamentos com uma série de problemas levaram o comitê da Rio-2016 a montar um força-tarefa| Foto: Daniel Ramalho/Agif/Folhapress

A publicitária Eliane Rodrigues, 50, pagou R$ 1,7 milhão por um apartamento de 160 metros quadrados no décimo andar do edifício Bourgogne, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. O imóvel está pronto, mas ela ainda não pode nem entrar no local.

Até setembro, a residência estará ocupada por algum atleta da Rio-2016. Eliane está entre os primeiros compradores dos apartamentos da Vila Olímpica. Na semana passada, foi surpreendida pela notícia de problemas constatados pelas delegações estrangeiras nas unidades, como infiltrações e entupimentos.

Comitivas da Austrália, México, Suécia e Argentina reclamaram publicamente das condições dos apartamentos.

Eliane ficou preocupada com os relatos que ouviu, mas disse confiar na “qualidade da construção”.

“Eu comprei o imóvel na planta, então eu acreditei em um projeto de alto nível e sustentável. Mas apesar dos problemas que estão aparecendo, eu ainda confio na qualidade da construção”, disse.

Os imóveis da Vila foram colocados à venda em setembro de 2014. As unidades serão usadas pelos competidores da Olimpíada e da Paraolimpíada. A previsão é que sejam entregues aos compradores em março de 2017.

Os imóveis da Vila Olímpica são classificados como de alto padrão e custam de R$ 720 mil (com 72 m2) a R$ 2,3 milhões (230 m2).

“Vou ficar decepcionada se eu pegar o imóvel com esses problemas. Mas são defeitos menores que apareceram. Não se discute a qualidade do acabamento nem a ocorrência de uma rachadura, por exemplo. Não é nada estrutural”, afirmou a publicitária. Ela programa a mudança para o local em julho de 2017.

Em abril deste ano, Eliane esteve no imóvel para conhecê-lo depois de pronto. Na ocasião, gostou do que viu, embora não tenha feito uma checagem completa para verificar se tudo funcionava perfeitamente.

O aposentado Jair dos Santos Menezes, 74, também ficou assustado quando viu as imagens dos apartamentos.

“Foi realmente uma surpresa ver as reclamações do Comitê Olímpico e das delegações. Tive uma impressão satisfatória quando visitei o apartamento. A olho nu estava tudo perfeito”, disse.

Menezes entrou no imóvel no início deste ano. Ele comprou um apartamento no Edifício Provence, no Condomínio Saint Michel. Não sabe dizer qual delegação ficou por lá. “Minhas perspectivas continuam positivas, o empreendimento é muito bom. A incompetência foi na vistoria prévia, que deixou de ser feita”, afirmou Menezes.

Ele não informou o valor que pagou pelo apartamento, que assim como o de Eliane, tem vista para a Lagoa de Jacarepaguá.

Mercado imobiliário

Entre os corretores de imóveis, o temor é de que a repercussão negativa dos problemas nos imóveis causem impacto nas vendas. A utilização dos apartamentos no evento esportivo tinha criado uma expectativa de impulsionar os negócios.

Até o momento, cerca de 250 apartamentos (7% do total) da Vila Olímpica foram vendidos desde que começaram a ser ofertados. A intenção dos investidores era chegar aos Jogos com pelo menos metade deles comercializados.

“Fiquei surpreso com as notícias que saíram, aquelas fotos, pois o empreendimento é de alto padrão, muito bem construído. Mas aquilo foi um problema de operação. Eu estive nos apartamentos prontos e estavam perfeitos, inclusive eu vendi uma cobertura no condomínio Saint Michel”, disse o corretor Darcio Molina.

O gerente de vendas Tony Bráulio trabalhou na comercialização das primeiras unidades colocadas à venda. Ele ressalta que os imóveis custam caro e são para clientes exigentes. “O público desse empreendimento é triplo A, são pessoas que não precisam comprovar renda para adquirir um apartamento por mais de R$ 1 milhão. Eles não comprariam algo ruim nesse preço”, argumentou.

O conjunto de 31 prédios residenciais que compõem a Vila Olímpica demandou um investimento de R$ 2,9 bilhões, financiados pela CEF (Caixa Econômica Federal). O empreendimento chama-se Ilha Pura e pertence à Carvalho Hosken e à Odebrecht -- a primeira entrou com o terreno e segunda realizou a obra.

De acordo com a Carvalho Hosken, o Comitê Olímpico assumiu por um ano a dívida das empresas com a CEF para poder usar os imóveis como alojamento de competidores. A organização das Olimpíada pagará R$ 250 milhões ao banco neste período.

Em nota, a Ilha Pura informou que “todos os apartamentos foram entregues ao Comitê Rio 2016 para atender aos jogos dentro das especificações olímpicas pré-definidas”.

“Após a hospedagem dos atletas, todas as unidades serão finalizadas, de acordo com os memoriais de especificação definitivos, para a entrega aos moradores a partir do segundo semestre de 2017”, diz o comunicado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]