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Carlos Arthur Nuzman , presidente do Comitê Rio-2016. | YASUYOSHI CHIBA/AFP
Carlos Arthur Nuzman , presidente do Comitê Rio-2016.| Foto: YASUYOSHI CHIBA/AFP

A um mês da Olimpíada, as arenas de competição estão praticamente prontas, e o QG do Rio-2016 mantém o discurso de que o trabalho está sendo executado. No entanto, as agudas crises política e econômica do país, a falência do governo estadual e os sucessivos episódios de violência urbana na cidade fazem o principal cartola dos Jogos Olímpicos admitir que dificilmente o Rio seria eleito sede hoje. Nesta entrevista, o presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman admite o pequeno envolvimento do público com os Jogos.

Na situação de hoje, com as crises por que passa o Brasil, o Rio seria candidato e escolhido a receber os Jogos?

Em toda candidatura, na hora que entra em processo de julgamento, todos os fatores são pesados na balança pelo COI. Na situação que hoje está, eu acho que o Rio não seria escolhido.

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E o senhor apoiaria uma candidatura hoje?

É um “se” complicado. O COI tem uma comissão de avaliação. Essa comissão pode dizer “você não pode ser candidato, você não deve...” Brasília já foi candidata e saiu. Justamente pelas crises que vivemos, torna-se maior o reconhecimento do trabalho que fizemos. Lá atrás, nós defendemos que os Jogos fossem a outras regiões do mundo, que se desse oportunidade a regiões com características diferentes, e a gente chega hoje confirmando o que eu disse. Estamos fazendo os Jogos da maneira como era antes de Pequim e Londres, e como continuarão a ser feitos a partir de agora. O Rio começou antes da agenda 2020, que é agora o foco do COI.

Há graves crises nacionais, na política e na economia, a falência do estado e violência em alta na cidade. Dá algum constrangimento ou sentimento de alienação falar sempre em festa em meio a este cenário?

Nós temos o compromisso de organizar os Jogos e estamos organizando. Vários países já tiveram problemas antes dos Jogos. Londres ganhou os Jogos e, no dia seguinte, teve atentado no metrô. Em Seul, estudantes se imolaram em praça pública. Se for por esse raciocínio... Estamos entregando os Jogos como imaginamos, e eles são uma grande notícia, boa, para o Brasil.

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Este cenário se agravando em 2016 explica uma certa frieza da população com os Jogos? Há a impressão de um engajamento menor do que se poderia imaginar. Mesmo a venda de ingressos está um pouco abaixo do ideal...

Pode ser. Pode ser que influencie sim. Porque todos sentem, independente da área de cada um, todos sentem.

A falência do governo estadual afeta uma área vital como a segurança. É este o maior temor para os Jogos, a violência?

O projeto de segurança para os Jogos é muito bom. Nós não respondemos pela cidade, pelo dia a dia. Especialistas em segurança dizem que o planejamento é muito bom. Agora, se você pegar o histórico dos Jogos, talvez o maior esquema de segurança tenha sido nos EUA, e tivemos duas bombas em Atlanta (1996). Na China, com toda a operação, o sogro do técnico da equipe de vôlei americana foi assassinado a facadas, no meio da Praça da Paz Celestial. Ninguém está imune a um lobo solitário, como se diz. Nosso papel é que funcione como planejado.

A um mês dos Jogos, o Rio está sem laboratório para fazer o antidoping, depois de alto investimento do governo. Preocupa?

Em relação a doping, sou tolerância zero. O que aconteceu é lamentável. A Wada tinha aprovado, houve um erro e suspenderam. A Wada vem fazer a inspeção e esperamos que tenha uma solução positiva. O laboratório é espetacular, maquinário de primeiro mundo.

A última operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal no Rio encontrou indícios de corrupção em uma obra do Pan, que será usada também na Olimpíada, o Parque Aquático Maria Lenk. Construtoras que ergueram arenas olímpicas já fizeram delação premiada em que se confessaram corruptas. O senhor teme que no futuro surjam casos como estes nas obras olímpicas?

O comitê organizador não constrói arenas. O noticiado não diz respeito ao comitê. Cada um tem de se defender como melhor entender. Não vou misturar o comitê com nada, isso é claro. Não vou tratar em hipóteses. Depois dos Jogos, falemos sobre a imagem que fica.

O senhor pretende se reeleger para mais um mandato no COB em dezembro? A legislação agora restringiu o número de reeleições permitidas nas confederações esportivas.

Fui eleito bem antes da nova legislação. Não sei se serei candidato agora no fim do ano, é possível, e menos ainda se serei candidato novamente daqui a quatro anos, o que a lei ainda me permite. Será um período importante de prestação de conta dos Jogos e preparação do esporte brasileiro pós-Jogos.

Um dos atos do comitê para economizar e se manter no azul foi adiar o repasse de verbas publicitárias ao COB, como prevê a proposta de candidatura do Rio. O senhor é presidente das duas entidades...

Tudo o que foi garantido no dossiê da candidatura está sendo cumprido. Não está atrasado. As contas do comitê foram aprovadas em todos os anos. E não faltou dinheiro para a preparação das equipes brasileiras. Nenhum comitê organizador chega a um mês dos Jogos sem atrasar nenhum pagamento. Deveríamos ser elogiados. E sem dinheiro público. Isso nunca existiu.

O mês final é o mais caro para o comitê organizador, pela execução dos Jogos. É possível garantir que fecharão as contas sem recorrer a dinheiro público, compromisso assumido desde o início?

Nós vamos prestar as contas. Quando chegar o momento... O “se” é muito difícil. Não vou dar uma entrevista do “se”. Não vou prometer nada. O que eu acho que deveria ser elogiado é o comitê chegar a 30 dias sem dever a ninguém, e sem dinheiro público.

O senhor então não promete mais que o comitê fechará os Jogos sem ter recorrido a dinheiro público?

Não vou te responder essa pergunta. Não vou porque não posso prometer uma coisa que tem... Não vou dar uma entrevista do “se” ou do “eu prometo”. Nós assumimos o compromisso de fazer os Jogos sem dinheiro público, e estamos cumprindo. Faltam 30 dias.

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