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O projeto para novos tenistas reúne crianças  para ensinar o esporte e possibilitar às crianças chances de conquistar bolsas de estudos nos Estados Unidos | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
O projeto para novos tenistas reúne crianças para ensinar o esporte e possibilitar às crianças chances de conquistar bolsas de estudos nos Estados Unidos| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

150 crianças

O Instituto Ícaro é resultado da primeira incursão de Gustavo Kuerten em promover a popularização do tênis. Em 2000, quando chegou ao topo do ranking mundial queria escolinhas Brasil afora. Como já conhecia Duda, montaram a sede em Curitiba. O projeto não vingou, mas Marcolin decidiu manter as aulas para as crianças. Três anos depois, fundou o Instituto Ícaro. São 150 crianças, com planos de expandir para 330 alunos.

  • Duas gerações: os irmãos Fábio e Valbert treinam juntos

Pura brincadeira. Para boa parte das 150 crianças atendidas pelo Instituto Ícaro, em Curitiba, as aulas de tênis são momentos de diversão intensa. Isso não significa que a intenção seja apenas entreter a molecada. Pelo contrário: o objetivo da empreitada é formar atletas competitivos. Resultados que começam a aparecer com um grupo de 20 crianças que recebe treinamento e equipamentos de ponta: ocupam o terceiro lugar do ranking estadual infanto-juvenil, sete degraus acima da classificação de 2012.

Para chegar a essa evolução, foi preciso tempo. O que começou em 2000 como um projeto com foco educacional – além do tênis, as crianças recebiam apoio escolar –, há dois anos ganhou uma nova versão, com investimento em treinamentos e competições para os alunos que se destacam empunhando as raquetes.

É o caso de Lucas Amorim de Lima, 12 anos, líder do ranking estadual até 13 anos e nono colocado na lista de jogadores até 14 anos. Ele conheceu o projeto há seis anos, em uma conversa com colegas da escola. Para seguir treinando, convenceu o irmão mais velho, Emanuel, de 14, a trocar o futebol pelo tênis. "A escolinha era longe de casa. E eu prefiro muito mais o tênis. No futebol, o resultado não depende só de mim", diz o garoto, canhoto como o ídolo, o espanhol Rafael Nadal.

Coordenador do Instituto, Duda Marcolin, se empolga ao falar dos pupilos e conta que seu sonho é formar atletas que possam usar o esporte para a formação escolar. "As duas salas de aula hoje servem de depósito. Quero ter condições de voltar a usá-las para um professor de inglês. Com um bom tênis e falando inglês, terão chances de conseguir bolsas de estudos em escolas norte-americanas."

Para seguir adiante, precisa de apoiadores. Hoje conta com investidores via Lei de Incentivo ao Esporte federal (em que empresários destinam parte do valor pago ao Imposto de Renda para um projeto esportivo). Do cerca de R$ 1,6 milhão que o Ministério aprovou para captação, o instituto somou até agora cerca 10% do total. Outro parceiro é a prefeitura de Curitiba, via Fundação de Ação Social (FAS), que permite com que a entidade receba doações.

Pedagógico

As crianças que ingressam no projeto, a partir dos 5 anos, dificilmente trazem de casa alguma experiência com as raquetes, início diferente da maioria dos tenistas do topo do ranking mundial. O que pode ser uma vantagem: sem as exigências paternas de resultados precoces, terão mais tempo para se apaixonar pelo esporte e criar motivação para seguir entre forehands e backhands.

O processo de aprendizagem é diferente em relação ao dos grandes jogadores da atualidade. Se o multicampeão Andre Agassi sofria com os treinamentos feitos por seu pai, Mike, que incluíam torturantes sessões de rebater bolas atiradas por uma máquina, no Instituto Ícaro os treinos têm foco pedagógico. "Seguimos uma metodologia Play and Stay ["jogar e permanecer", campanha da Federação Internacional de Tênis], em que visamos a introduzir o esporte", fala Marcolin.

Das sete quadras do Ins­­tituto, duas foram construídas em dimensões menores, já que parte dos alunos ainda são mais baixos do que a rede de uma quadra oficial. Raquetes e bolinhas também são proporcionais aos pequenos. Quando começam, usam raquetes menores e bolas vermelhas, que têm 25% da velocidade de uma bola comum e, progressivamente, treinam com bolas mais velozes e quadras maiores.

Nova geração ganha em competitividade

Aos 14 anos, Fábio Francisco da Silva Rodrigues vive o tênis o dia todo. Depois da escola, segue para o treino e é um dos responsáveis por encordoar todas as raquetes usadas pelas crianças do projeto e dificilmente recusa convites para jogar com algum dos tenistas que frequentam a academia no bairro Santa Felicidade, onde o Instituto Ícaro está instalado.

O garoto de 1,70 m de altura só conheceu as quadras pela influência da primeira geração de tenistas formados pelo projeto. Seu irmão, Valbert, 22 anos, foi uma das primeiras crianças a aprender jogar tênis no local e, por causa da oportunidade nas quadras, escolheu a Educação Física como curso de graduação. Hoje é um dos monitores dos novos tenistas. Foi Valbert quem convidou os irmãos gêmeos Fábio e Mariane para jogarem. "Ainda venço o Fábio, mas os jogos estão ficando cada vez mais equilibrados", diz o irmão mais velho.

A competitividade da nova geração, diz Duda Marcolin, é maior do que as dos tempos de Valbert porque os mais novos têm os mesmos equipamentos e condições de treinamento dos clubes particulares do estado. "O tênis é preto no branco. O tenista joga sozinho, contra um adversário que quer o mesmo que ele. Agora, nossas crianças vão para os campeonatos sabendo que podem ganhar de filho de empresário, de filho de deputado e levam essa confiança para a vida", diz.

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