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O paranaense Emanuel se despede do vôlei de praia com três medalhas olímpicas. | MPC Rio/Divulgação
O paranaense Emanuel se despede do vôlei de praia com três medalhas olímpicas.| Foto: MPC Rio/Divulgação

Não deu mais. Depois de desistir da aposentadoria duas vezes, Emanuel Rego, 42 anos, o maior nome da história do vôlei de praia e principal atleta do Paraná, anunciou o adeus das areias na última segunda-feira (29).

O curitibano, torcedor do Atlético, despede-se da vida de atleta com mais de 150 títulos e três medalhas olímpicas: ouro em Atenas-2004 e bronze em Pequim-2008 com o principal parceiro, Ricardo, e prata em Londres-2012 com Alison. Antes, será homenageado pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), no próximo dia 13, no encerramento do Grand Slam da Federação Internacional de Voleibol (FIVB), no Rio.

Em entrevista à Gazeta, Emanuel afirma que teve a real noção do que representou para o esporte que adotou quando o pai, Manoel Fernando Rego, se emocionou ao ver sua estátua de 5 m de altura em frente ao local de prova na última Olimpíada. “Ficaria muito satisfeito se tivessem outras estátuas de heróis brasileiros do vôlei”, comenta.

Veja fotos que retratam a carreira de Emanuel

Você está preparado para a aposentadoria?

Sim, mas a cada dia, a cada mensagem dos meus amigos está dando para testar o coração.

Em que momento você decidiu parar?

Nos dois últimos meses estive pensado mais, mas tive outros momentos. A primeira vez foi em 2009. Logo depois da Olimpíada de 2008, queria priorizar a parte pessoal. Na época, terminei a parceria com o Ricardo para morar no Rio, ficar perto da Leila [ex-jogadora, esposa de Emanuel], com quem eu estava recém-casado, e tentar fazer um projeto diferente, que era jogar com um garoto, passar experiência para ele e parar. Só que o projeto com o Alison tomou magnitude, tanto que a gente foi campeão mundial, pan-americano, brasileiro e prata em Londres. A segunda vez que pensei em parar foi em 2013. Mas aí a CBV montou o sistema de seleção e me convidou para passar experiência aos atletas. Aceitei e estiquei mais um pouco a vida de atleta. Daí chegou nesse ponto de tentar classificar para a Olimpíada do Rio.

O fato de você não ter se classificado para a Rio-2016 pesou?

Contou bastante porque já estou com 42 anos. E também pesou o fato que a geração atual está jogando em alto nível e eu talvez não conseguiria mais jogar dessa forma.

Edson Militão: Emanuel (ou Mãos abençoadas nas areias)

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É difícil aceitar que não dá mais para jogar em alto nível?

Sempre tive muita consciência de onde eu estava, quem eu sou e o que estou fazendo. Fiz sempre essa análise. Para eu me motivar sem ir para a Olimpíada, teria que pensar no Mundial de 2017. Seria praticamente um ano em que eu teria que me capacitar para jogar bem.

O lado pessoal pesou também, já que você tem um filho pequeno?

Tenho dois filhos, um de 18 anos,o Matheus, e um de 5 anos, o Lucas. O mais velho está jogando no juvenil do Flamengo, está encaminhado na vida. O mais novo começou a me ver jogar agora. É difícil parar nesse momento. Gostaria que o mais novo tivesse mais oportunidades de me ver jogar. Por outro lado, vou ter mais tempo para ele. Tanto que no projeto de parar em 2009 eu já estava dando prioridade para o meu lado pessoal por isso, ter um filho, que nasceu em 2010. Queria parar naquele momento para ter uma qualidade de vida melhor, ficar mais calmo em casa, com mais tranquilidade. Agora é isso que vou fazer.

Vai dar para ver os jogos do Atlético?

Sim! Na verdade eu já fazia isso mesmo jogando. Na final da Copa do Brasil [2013], fui com meu filho mais velho ao Maracanã. Ano passado, no final do Brasileiro, fui assistir Atlético e Sport na Baixada com toda minha família. Já tenho esse costume e os meus filhos fazem parte dessa cultura comigo.Tenho uma relação com o Atlético muito sentimental pois remete muito à minha relação com meu pai. Uma das principais fontes de conversa que a gente tem sempre é o Atlético.

Olhando o seu passado, com três medalhas olímpicas, como você avalia a sua carreira?

Primeiro, uma missão realizada e completa com sucesso. Meu primeiro desejo era jogar vôlei. Depois, representar bem o Brasil e jogar uma Olimpíada. Em 1984, eu tinha 11 anos e acompanhei a geração de prata nos Jogos de Los Angeles. Foi quando me apaixonei por vôlei. E consegui realizar esse sonho, não só de participar, mas de ser campeão olímpico, ter medalhas. Me sinto muito completo com toda minha carreira. E confesso que não tinha noção da amplitude de tudo isso, do respeito que tenho dos fãs, dos jogadores. Isso tem a ver com carreira sólida que tive.

Estátua de Emanuel em frente ao local de prova na Olimpíada Londres-2012.Gazeta do Povo/Marcos Xavier Vicente

Você começou numa época em que o esporte engatinhava e numa cidade sem praia. Foi difícil?

Eu jogava vôlei de quadra no Clube Curitibano. Em 1991, eles tinham montado uma equipe para a Liga Nacional. Eu tinha contrato, recebia para jogar. Só que ao mesmo tempo começaram as etapas do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia e eu e um amigo, o Clésio, saíamos de Curitiba nos finais de semana e para jogar vôlei de praia em Guaratuba. Foi assim que começou. Depois comecei a jogar etapas do Brasileiro ao mesmo tempo em que treinava na quadra. Aí em 1992 decidi me dedicar somente à praia.

Por que essa decisão?

Eu jogava de central no Curitibano e naquela época já havia exigência de que os jogadores da posição tinham que ter mais de 2 m de altura. Eu tenho com 1,90 m, fazia bem a função, mas acho que teria uma vida muito curta se seguisse na quadra. Como central teria só mais dos anos de carreira. Iria parar com 19, 20 anos e teria que mudar meus projetos. Então tomei a decisão de jogar vôlei de praia, mesmo que o esporte ainda não tivesse toda a expressão de hoje. Eram poucos eventos, só de exibição. Era como se fosse o início de um esporte.

Quando você percebeu que o vôlei de praia tinha potencial?

Vi potencial porque no período de um ano houve um crescimento grande. No primeiro ano em que joguei, em 1991, foram apenas cinco etapas no Brasil. Em 1992 foram 16. Por isso fiz a escolha. Na época fui criticado porque tinha contrato, salário, uma estrutura sólida no Curitibano. Mas joguei tudo para cima e decidi me arriscar.

Foram 12 parceiros na areia desde 1991. O que deu para aprender com eles?

Cada um foi uma escola. O Clésio foi o início de tudo e a gente foi audacioso, não tinha medo de jogar contra campeões brasileiros, tinha audácia. O Aloísio era 10 anos mais velho, tinha jogado em grandes clubes, então aprendi a ter maturidade e a entender o que era treinamento e preparação física. Com o Zé Marco aprendi que amizade na quadra é muito importante para dar certo. Já com o Loiola aprendi que para ser profissional você não precisa ser amigo, tem que ir lá e executar. Com o Tande aprendi a ser atleta fora da quadra, porque ele era campeão olímpico e me ensinou a lidar com patrocinadores, imprensa, a como tratar os fãs. O Alison, na realidade, eu passei mais experiência para ele, a gente conciliou juventude e experiência. Com o Ricardo fiz esse conjunto completo. Todas essas experiências que tive com os parceiros anteriores executei com o Ricardo e culminou no ouro em 2004.

Como foi dizer para o Ricardo que você ia parar?

Foi difícil. Ele se emocionou muito, ficou muito triste e disse “poxa, eu estou vendo em você o que eu vou passar daqui a pouco”. Foi um papo franco, como a gente sempre teve. Nossa relação é de irmão.

Emanuel e Ricardo, campeões olímpicos em 2004.Arnaldo Alves

A Federação Internacional de Vôlei fez uma homenagem a você, com uma estátua de 5 m que era exposta no Circuito Mundial e estava em frente ao local de prova na Olimpíada de Londres em 2012. O que você sentiu dessa homenagem?

Vou responder como meu pai falou quando foi a Londres na Olimpíada e viu a estátua: “filho, você muitas vezes é mais reconhecido fora do nosso país”. Jogando lá fora eu sentia isso. As pessoas queriam conversar, tirar foto, diziam que eu era uma lenda, o melhor dos melhores, que eu estava há muito tempo fazendo com que o Brasil fosse um dos melhores. Esse tipo de conversa que no Brasil não tinha com tanta intensidade. Mas agora que estou parando de jogar sinto que o brasileiro sempre teve isso também, só não colocava para fora. Todo mundo está demonstrando esse sentimento.

Emanuel conversa com crianças do projeto Leões do Vôlei em Curitiba.Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Você não quis levar a estátua para casa?

Não dá, ela é gigantesca [risos]. Ela fez parte de um programa chamado “Heróis do Vôlei”, da Federação Internacional. Hoje ela fica na sede da federação [em Lausanne, na Suíça] e nos grandes eventos eles levam. Mas ficaria muito satisfeito se tivessem outras estátuas de heróis brasileiros do vôlei.

Qual a emoção de se aposentar tendo um ouro olímpico no peito?

Quando voltei ao Brasil depois da Olimpíada de Atenas, vi o quanto a medalha traz orgulho à nossa população e isso é uma responsabilidade gigante. Por isso tentei fazer dela um incentivador para outros atletas. A medalha de ouro foi um grande marco para o vôlei de praia. Muitos atletas começaram no esporte por causa disso, os eventos melhoraram. O efeito do ouro não foi só para mim.

Você praticamente cresceu com o desenvolvimento do vôlei de praia. Como avalia seu papel na consolidação da modalidade?

Eu passei por todas as fases do vôlei de praia até se tornar esporte olímpico, que foi a grande virada. Antes era realmente uma luta para ter exposição de mídia. Sinto que o vôlei de praia é como se fosse um irmão próximo: temos quase a mesma idade. E o esporte evoluiu muito com as minhas conquistas também e a minha disposição de estar pronto pra ser embaixador desse esporte.

O que você planeja fazer agora aposentado da areia?

Vou tentar um outro tipo de participação no esporte. Ainda não sei se vou ter um cargo institucional. Vou aproveitar um pouco esse tempo, pelo menos dois meses, para começar a me preparar para gestão esportiva, que é meu desejo. Sou uma pessoa muito intensa, preciso ter um objeto de trabalho, alguma coisa que me motive. Sou formado em marketing e também fiz cursos de gestão esportiva no Comitê Olímpico já para tentar fazer um pós-carreira.

Já tenho esse costume [de ver os jogos do Furacão] e os meus filhos fazem parte dessa cultura comigo. Tenho uma relação com o Atlético muito sentimental, pois remete muito à minha relação com meu pai. Uma das principais fontes de conversa que a gente tem sempre é o Atlético

Emanuel, jogador de vôlei de praia

Você toca com o Giba um projeto social na região de Curitiba, o Leões do Vôlei. Pensa em ampliá-lo?

O Leões do Vôlei foi criado em 2008 e atendeu mais de 2.600 crianças da rede escolar municipal de áreas de alto risco social. As crianças têm aulas de vôlei no contraturno e para participar têm que ter rendimento escolar. São 15 núcleos em Curitiba. É um projeto público e privado, com o apoio da Secretaria de Educação de Curitiba e da Mate Leão. Nossa ideia é tentar levar o projeto para outros esportes e outras cidades.

A paranaense Ágatha está indo forte para Olimpíada. Você acha que ela pode chegar ao pódio?

Sim. Ela tem um time muito consistente. A dupla dela [com a carioca Bárbara] é muito técnica, não comete muitos erros. Nos últimos anos foram campeãs brasileiras, mundiais e o time ainda vem crescendo. Elas estão maduras e prontas para grandes desafios. Eu ficaria muito satisfeito se elas conquistassem o ouro.

O destino não foi um pouco injusto com você em não permitir que participasse da Olimpíada aqui no país, em Copacabana, justamente o lugar onde você treina?

Participar de cinco Olimpíadas já é um prêmio. A sexta seria uma glória, mas tenho consciência de que fiz tudo para participar. Tentei me capacitar e não consegui, mas tenho tranquilidade em dizer que estou satisfeito. Vou torcer muito para nossos atletas nos Jogos.

  • Emanuel e Ricardo, ouro na Olimpíada de Atenas-2004.
  • Estátuas da americana Kerri Walsh e do paranaense Emanuel em frente ao local de prova do vôlei de praia na Olimpíada Londres-2012.
  • Emanuel treina na praia na Olimpíada Atenas-2004
  • Emanuel em treino da Olimpíada de Pequim-2008.
  • Emanuel comemora o ouro nos Jogos Pan-Americanos Rio-2007.
  • Os pais de Emanuel, Manonel e Maria Rego, comemoram a conquista do ouro em Atenas-2004.
  • Emanuel treina na Olimpíada Pequim-2008.
  • Emanuel com a medalha de ouro no desembarque do aeroporto de Curitiba em 2004.
  • Emanuel recebe do governador Beto Richa o prêmio de melhor atleta do Paraná em 2012.
  • Emanuel e Ricardo na conquista do bronze na Olimpíada Pequim-2008.
  • Alison e Emanuel com a medalha de prata na Olimpíada Londres-2012.
  • Emanuel comemora ponto na Olimpíada Londres-2-12.
  • Emanuel e Ricardo jogam vôlei com estudantes em Curitiba.
  • Emanuel com o ouro na Olimpíada Atenas-2004.
  • Emanuel na Olimpíada Londres-2012.
  • Emanuel e Ricardo em ação na conquista do ouro em Atenas-2004.
  • Emanuel e Ricardo no Pan-Americano do Rio em 2007.
  • Emanuel e Ricardo, campeões da etapa do Circuito Mundial de 2003.
  • Alison e Emanuel em ação na Olimpíada Londres-2012.
  • Emanuel autografa bola em Curitiba.
  • Emanuel disputa amistoso an praia de Caioabá.
  • Emanuel e Ricardo comemoram o ouro no Pan-Americano de 2007.
  • Emanuel comemora ponto na Olimpíada Londres-2012.
  • Emanuel e Ricardo com o ouro no Pan-2007,
  • Emanuel e Ricardo em ação no Pan-2007
  • Alison e Emanuel, parceiros na Olimpíada Londres-2012.
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