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Nos Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá, em 1976, uma jovem romena colocou a ginástica mundial em xeque. Nunca os movimentos, a precisão e a graciosidade haviam sido tão primorosos. Atônitos, os juízes se renderam à perfeição e conferiram à pequena Nádia Comaneci o primeiro 10,00 da história da modalidade.

Trinta anos depois, a ginástica entra numa nova época: uma era sem limite. A partir do próximo ano passa a vigorar o novo código da Federação Internacional de Ginástica (FIG) e a perfeição não terá mais um parâmetro.

Será uma verdadeira revolução no sistema de pontuação do esporte. De cara, uma constatação bem simples: o atleta que tirar 10,00 dificilmente chegará à final de qualquer competição.

"Nós estamos mudando o código radicalmente porque o antigo se tornou obsoleto para a ginástica", afirmou ex-campeã olímpica Nellie Kim, que é presidente do comitê técnico feminino da Federação Internacional de Ginástica (FIG) e que também recebeu um 10,00 perfeito nos Jogos de 1976.

"Tecnicamente não muda muito. Mas será uma transformação enorme principalmente para o público. As notas podem chegar a 14,00, 17,00. Não há mais um teto máximo", explicou o técnico da equipe masculina da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), Frederico Hailer.

A mudança foi forçada pela polêmica disputa na Olimpíada de Atenas. Assim como a patinação artística precisou substituir seu antigo sistema de pontuação 6,00 devido a um escândalo de julgamento na competição por duplas nos Jogos de Inverno de 2002, a ginástica teve o seu momento divisor de águas na Grécia (leia matéria nessa página) e fez a FIG antecipar de 2009 para 2006 uma reforma nos códigos de pontuação.

A idéia é valorizar a dificuldade dos exercícios e também a execução perfeita. Ou seja, saltos complexos como os de Daiane (duplo-twist carpado e duplo-twist esticado) tenderão a diferenciar a nota da brasileira em relação às demais.

"Precisamos aumentar o espaço para que os juízes premiem realmente as performances que mais se destacarem. Necessitamos também valorizar o grau de dificuldade dos exercícios e aproximar a ginástica da matemática, para que os ginastas saibam: ‘se executar este exercício com precisão, terei um acréscimo de tantos décimos na minha nota’", diz o russo Leonid Arkaev, que foi técnico de 49 campeões olímpicos russos, recém-eleito vice-presidente da FIG.

Eliane Martins, coordenadora-geral da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) aprova a mudança. "Hoje uma ginasta muito boa se equipara a uma boa. Atualmente está relativamente fácil obter uma nota de partida 10,00", afirma Eliane. "Então, você acaba incentivando as ginastas a não tentarem muitas coisas novas, a não arriscar e isso é ruim para o esporte."

Antes do novo código a nota do ginasta era definida pelos descontos por cada erro de execução. Algumas diferenças eram estabelecidas pela nota de partida. Para sair de 10,00 o atleta tinha de realizar uma série de movimentos e quanto mais difícil, maior seria a pontuação.

A partir de 2006, a nota será formada de somas e descontos. A pontuação para cada exercício será dividida em dois: a) dificuldade do exercício e b) execução. Os pontos de execução são sempre maiores que dez, então pode-se dizer que o sistema antigo será mantido, mas a pontuação final será diferente.

Décimos serão subtraídos em cada erro, mas irá se estabelecer um valor pela execução certa das série. O conjunto de movimento pode chegar, por exemplo a 5,00 pontos, dependendo dos movimentos inseridos. A classe dos exercícios vai de A a F. O dos Santos, por exemplo, realizado por Daiane vale seis décimos e passa a ser um F no novo ranking – era um Super E, mas a categoria foi extinta.

"Acabou o limite e a idéia é buscar a perfeição dos movimentos. Não necessariamente uma série muito difícil e sim precisa", disse o técnico Frederico Hailer.

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