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A terra arenosa, com pouco mais de 10% de argila, não é das melhores para a prática da agricultura. Mas quando se trata de futebol, o terreno parece ter a combinação perfeita. Ao menos é isso que mostra a tabela do Campeonato Paranaense após as 10 primeiras rodadas. As equipes da região Noroeste do estado dominavam amplamente a competição.

Adap Galo, Cianorte e Paranavaí, distantes não mais do que 100 quilômetros entre si, também estão bem próximos no topo da classificação – o Engenheiro Beltrão, o outro representante do pedaço, não vai bem, mas entrou às pressas no Estadual. Com folga, as três equipes confirmam a mudança que vem ocorrendo nos últimos anos na geografia futebolística do interior do estado.

Afinal, se o perigo antes morava ao lado, na parte Norte do Paraná, quando o assunto é futebol a distância entre as duas regiões está cada vez maior. Na terra do "onde tudo o que se planta dá" parece que a bola foi mesmo substituída pelo milho e a soja.

Portuguesa, Roma e Nacional brigam entre si para escapar da lanterna desde o começo do Estadual. E o Londrina, equipe das mais tradicionais do certame paranaense, caminha rapidamente para se juntar ao grupo.

O clube da segunda maior cidade do Paraná era o único representante do Norte a fazer frente ao crescente futebol dos vizinhos. Nos últimos quatro anos, o Tubarão se manteve sempre entre os oito primeiros do Paranaense. Em 2003 (pelo Coritiba), 2004 e 2005 (diante do Atlético) só foi parado nas semifinais.

Mas já era pouco comparado à façanha do Paranavaí, em 2003, e da Adap, no ano passado, que disputaram o título do Estadual e acabaram em segundo. Ou mesmo contra o bom desempenho do Cianorte na Copa do Brasil em 2005, um ano após o Londrina dar adeus à Série B. Agora, então, o Tubarão parece ter desandado mesmo.

"Está cada vez pior. E a tendência não é melhorar", afirma Flávio Campos, 65 anos, comentarista da Rádio Brasil Sul, há mais de 40 anos vivenciando o futebol da região. Ele é enfático ao analisar o caso: "Não está sobrando nada. Já foi o Matsubara, o União Bandeirante e o Apucarana. Agora é a vez do Londrina. Antes eu dizia que não podíamos deixar o Londrina morrer. Hoje falo que temos de ressuscitá-lo, pois ele já está morto".

Para Campos, a raiz do problema está na falta de bons dirigentes, ao contrário do que ocorria no passado, quando na região atuavam de uma só vez Serafim Meneghel (União), Carlos Antônio Franchello (Londrina) e Jesus Vicentini (Apucarana). Hoje, essa virtude passou para o outro lado.

"O futebol empresa, futebol de dono está funcionando aqui. É assim no Adap Galo e não é diferente no Cianorte. O futebol do Noroeste teve muitos desmandos, mas voltou a funcionar com a chegada de empresários sérios", afirma Cláudio Viola, comentarista da Rádio Cultura, de Maringá. Para ele, é essa nova forma de administração que fez a gangorra virar. "Os times do Norte continuam apostando em clubes associativos, com aquelas briguinhas internas, etc... Talvez por isso tenham tido essa queda", aponta.

Mas para quem esta lá embaixo, e sente na pele os efeitos da fraca campanha, a má fase teria um motivo um pouco diferente: falta de apoio da comunidade.

"Precisamos de mais apoio. O clube não é do presidente, é da cidade. Todos tem de estar envolvidos", afirma Peter Silva, presidente do Londrina.

"Enquanto Cianorte e Adap têm vários empresários por trás do clube, nós não temos apoio de ninguém. Não temos nem torcida, temos apenas simpatizantes", reclama Amarildo Vieira Martins, presidente da Portuguesa Londrinense.

Indignado, ele "largou os betes": nas partidas contra Coritiba e Paraná, respectivamente na 12.ª e 14.ª rodadas, com mando da Portuguesa, Martins preferiu atuar na capital, utilizando o Estádio Pinheirão.

"Quando jogamos aqui (Londrina) com o Paranavaí tinha 30 torcedores da gente e 150 deles. Então é melhor ir a Curitiba, assim talvez os rivais dos nossos adversários venham nos apoiar", justifica.

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