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A polêmica decisão da Fifa de vetar jogos internacionais em cidades com mais de 2.500 metros de altitude virou até assunto de estado entre a entidade e os países afetados. A medida, baseada num relatório escrito por médicos brasileiros, protege o "fair play" e a integridade física dos atletas, diz a Fifa. Fisiologistas, no entanto, divergem sobre o mal que uma partida nos locais proibidos pode fazer a jogadores não acostumados com a altura.

Os riscos da atividade física em altitudes elevadas decorrem dos efeitos do chamado "mal da montanha", ou soroche, como dizem os bolivianos. À medida que a altitude aumenta, a pressão atmosférica diminui. No nível do mar, por exemplo, temos cerca de 10 km de ar fazendo pressão sobre nós. Numa altitude maior, com menos pressão externa – e, portanto, menos ar disponível –, o corpo acaba captando menos oxigênio.

Quem vive nessas altitudes desenvolve adaptações para contrabalançar a falta de oxigênio. A principal delas é o aumento da capacidade de transporte do elemento dentro do corpo, pela produção de maior número de glóbulos vermelhos. Quem chega nas regiões altas vindo de níveis mais baixos precisa de um tempo para criar essas adaptações, período conhecido como aclimatação. Numa cidade como La Paz, a 3.600 metros de altitude, o tempo de ajuste varia em torno de três semanas.

Num primeiro momento, porém, para se proteger, o corpo lança mão de dois mecanismos de ajuste rápido, conhecidos como aclimatação imediata. Um é a hiperventilação (a pessoa fica ofegante, para captar mais oxigênio) e o outro a taquicardia (aumento da freqüência cardíaca visando aumentar o transporte de oxigênio). "Esses dois mecanismos conseguem segurar por 3 ou 4 horas os efeitos da altitude. Por isso, a estratégia de muitos times é chegar na hora do jogo. No caso de La Paz, por exemplo, o time fica em Santa Cruz de la Sierra, no nível do mar, e sobe apenas pouco antes da partida", diz Paulo Zogaib, fisiologista do Palmeiras e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Quando o organismo não consegue se adaptar a essa nova situação é que os jogadores podem sofrer do "mal da montanha". "A pessoa começa a ter dores de cabeça, enjôo, falta de ar e pode inclusive sofrer um edema pulmonar ou cerebral", diz Zogaib. Até 4 mil metros de altitude esse risco é baixo, garante o médico, "mas é um risco".

Julimar Luiz Pereira, fisiologista do Paraná, time que jogou em abril em Potosí, na Bolívia, uma das cidades afetadas pela medida, concorda com o veto à altitude. "É melhor prevenir do que remediar", diz. Segundo ele, quase metade do elenco paranista teve o desempenho prejudicado no jogo na Bolívia. "Não são todos os atletas que são afetados pela altitude. Também depende da característica individual", afirma Pereira.

O técnico que liderou a Argentina na Copa do Mundo do México, em 1986, Carlos Bilardo, se declarou contrário à proibição da Fifa. "É claro que não é a mesma coisa jogar em Bogotá, Quito ou La Paz. Mas também não é bom jogar em altas temperaturas, como em Mali, com 50 graus, quando dirigia a seleção da Líbia", disse ele, que também é médico.

Teoria

O médico Paulo Zogaib defende que não é a capacidade aeróbica dos jogadores que faz os times brasileiros perderem jogos na altitude. "A troca de experiência com outros fisiologistas e a observação dos times que jogam lá mostram que os times brasileiros perdem o primeiro tempo, mas ganham ou empatam o segundo. Se fosse pela deficiência aeróbica, seria o contrário, porque o jogador iria cansar mais conforme o jogo fosse passando", diz. Segundo ele, o que mais interfere nos jogadores é a coordenação neuromuscular.

"O tempo e a velocidade da bola e a velocidade de deslocamento do adversário interferem mais. A medida que o jogador vai treinando durante o jogo, se coordenando, ele acaba jogando melhor o segundo tempo", acredita o médico.

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