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Alex Arseno vencendo na Volta do Paraná de 2007: curitibano corre o risco de pegar dois anos de suspensão | Roberto Custódio / Jornal de Londrina / Arquivo
Alex Arseno vencendo na Volta do Paraná de 2007: curitibano corre o risco de pegar dois anos de suspensão| Foto: Roberto Custódio / Jornal de Londrina / Arquivo

Substância que causou polêmica e indignação no ciclismo europeu, a eritropoietina (EPO) já chegou ao Brasil. Na última sexta-feira, o presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), José Luis Vasconcelos, anunciou que quatro atletas que competição na Volta de Santa Catarina, em abril deste ano, foram pegos no exame antidoping. Além do vencedor da prova, o pernambucano Alex Diniz, o curitibano Alex Arseno e os cascavelenses Cléberson Weber e Alcides Vieira também foram pegos.

O trio paranaense compete pela mesma equipe, a Dataro/Sel/Cordeirópolis, e já corre o risco de perder o emprego, caso exista a confirmação por parte dos atletas ou a indicação positiva nos testes de contraprova. Quem conhece Arseno, Weber e Vieira não consegue entender os porquês que levaram os ciclistas a apareceram na relação divulgada pela CBC.

"Já tinha ouvido os boatos, mas ninguém sabia de nada porque todos fizeram os exames. É surpreendente e uma pena, ninguém nunca quer passar por isso", disse o ciclista Gregory Panizo, companheiro do trio na Dataro, à Gazeta do Povo. "A equipe inteira pode ser prejudicada por conta disso, é algo que ninguém gostaria de viver. Pode perder patrocínios, o que esperamos que não ocorra, mas há o lado bom de que mais exames estão sendo feitos".

Substância de difícil detecção, a eritropoetina, popularmente chamada de EPO, é utilizada geralmente por atletas de provas de fundo, como atletismo, esqui e ciclismo. Ela aumenta o número de glóbulos vermelhos no sangue, melhorando a troca de oxigênio e a resistência física de quem a utiliza. O corpo humano carrega quantidades de eritropoetina, já que os rins a produzem. Entretanto, taxas mais elevadas, se encontradas, indicam o doping.

O técnico dos atletas e da equipe Dataro, o ex-ciclista Hernandes Quadri Júnior, ainda prefere aguardar o comunicado oficial por parte da CBC, porém não escondeu a decepção com a notícia.

"Nem sei o que dizer. Como atleta jamais usei, passei por mais de 50 controles e nunca fui pego com nada. Nós proibimos, não incentivamos de forma alguma e consta até no contrato deles que, se forem pegos por doping, serão dispensados. Evidentemente todos dizem que não tomam, mas para nós é difícil de controlar também, não fazemos hemogramas mensais com eles. Somos uma das principais equipes do país, é uma pena. Creio que mais exames farão mais gente aparecer", analisou.

A suspensão padrão para casos de doping, de acordo com as normas da União Internacional de Ciclismo (UCI), é de dois anos. José Luis Vasconcelos afirmou que nesta segunda-feira todos os envolvidos estarão devidamente notificados e terão cinco dias para se manifestarem sobre as amostras colhidas em abril. Se optarem em manter o silêncio, a CBC vai entender que os ciclistas admitem a culpa no caso e punição será automática.

"Nosso objetivo é fazer com que o nosso esporte seja limpo e os ciclistas que estão com problemas, nós vamos tirar fora da prática esportiva. Essa é a nossa ideologia e sempre foi", disse Vasconcelos ao programa "Tá na Área", do Sportv. A reportagem da Gazeta tentou entrar em contato com os três paranaenses envolvidos no escândalo, mas eles estão sendo poupados do contato com a imprensa e devem se pronunciar oficialmente durante a semana.

"Não sei como eles estão ainda, são meus amigos. Ainda lamento muito tudo isso", completou Gregory Panizo. No caso de Alex Diniz, que venceu a Volta de Santa Catarina, o atleta deve perder o título se ficar confirmado o doping.

Melhoria dos custos dos exames pode render novos casos em breve

Procurado para comentar os quatro casos já confirmados, o ex-atleta e atual técnico da seleção brasileira de estrada, Mauro Ribeiro, lamentou a autuação dos quatro ciclistas, porém crê que outros casos podem acabar surgindo em pouco tempo. O único brasileiro a vencer uma etapa da Volta da França explicou que os testes que detectam o EPO só estão mais acessíveis graças a uma melhoria nos custos por parte de laboratórios na Europa, em uma trabalho intenso da UCI contra o doping.

"Acho bem desagradável tudo isso, mas é algo que existe. Não digo que o EPO chegou aqui agora, mas os exames na América Latina de maneira geral ganharam importância para a UCI apenas recentemente. Os europeus viveram um período de combate a isso, todos queremos um ciclismo limpo. Para você ter ideia, o atual campeão mundial (o suíço Fabian Cancelara) passou neste ano por 72 exames antidoping. Foi o mais controlado. Hoje em dia temos laboratórios no Canadá, na França e na Espanha que estão credenciados. Assim o custo caiu de 5 mil euros para US$ 500 dólares", detalhou.

Anteriormente, a eritropoietina só era encontrada no sangue, mas o método atual a encontra também na urina, o que facilitou o processo. Segundo Ribero, a legislação brasileira também traz entraves para que o sangue seja enviado para outro país para exames como esse e a simplificação do processo tende a possibilitar o aparecimento de outros casos em um futuro próximo, e não apenas pelo uso de EPO.

"Se o anúncio foi feito pela CBC, foi com autorização e confirmação da UCI. Nunca vi eles cometerem um erro em casos assim. Diria que não ficaria surpreso se novos casos aparecerem, a abrangência em caráter mundial dos exames está aumentando", disse Mauro Ribeiro, sem esconder também a sua surpresa com os nomes envolvidos. "O Alex Arseno esteve comigo na equipe Caloi/Suzano no ano passado. Trabalhamos junto e não vi nada de anormal, porém é difícil porque não entramos na intimidade de ninguém", finalizou.

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