Lagos e ciclovias fazem parte do bairro, que já tem empreendimentos  em funcionamento. | Divulgação
Lagos e ciclovias fazem parte do bairro, que já tem empreendimentos em funcionamento.| Foto: Divulgação

O arquiteto dinamarquês Jan Gehl é a principal referência para arquitetos e urbanistas que pensam um conceito de cidade para as pessoas, que preza pela qualidade de vida e a convivência — Gehl, cujo lema é pensar espaços como um todo, e não em edificações individuais, afirma que a dimensão humana foi seriamente negligenciada no planejamento urbano nos últimos 50 anos. Para ele, as cidades não promovem o convívio por falta de locais comuns, como parques e áreas verdes, e outras formas de modal para transporte, como a bicicleta, por exemplo.

Quando adquiriu, em 2006, uma área de 3 milhões de metros quadrados em Guarapuava, entre a PR 466 e a BR 277 , o empresário Odacir Antonelli, um dos sócios e idealizador da Cidade dos Lagos, bairro planejado que já está em funcionamento e em expansão na região do Parque das Araucárias, em Guarapuava, queria justamente aplicar o que se conhece como o novo urbanismo: um local onde o compartilhamento e a convivência sejam prioridades, e que o habitante possa morar, trabalhar e se divertir sem precisar de grandes deslocamentos. “Diante de estudos e pesquisas, vimos que havia um hiato em Guarapuava, que a gente podia preencher com um projeto dessa natureza”, diz Antonelli.

Antes de virar um bairro, a área de mais de 240 hectares foi usada para cultivo de soja e plantio de eucaliptos. “Em agosto de 2011 iniciamos o nosso planejamento e os primeiros projetos, como passar de perímetro rural para urbano, adequar as questões ambientais e elaborar as primeiras plantas”, conta o sócio Vilso Dubena. A equipe do empreendimento foi buscar informações em projetos urbanísticos que são referência mundial, em cidades como Barcelona (Espanha), Orlando (EUA) e Porto (Portugal).

A preocupação com a infraestrutura sempre foi um dos pontos de maior relevância do empreendimento. Segundo os proprietários, a tendência natural é que Guarapuava se expandisse justamente para a região da Cidade dos Lagos, que já estava praticamente abraçada pelo perímetro urbano — tanto que as obras englobam também a requalificação urbana dos bairros do entorno (Primavera, Feroz e Xarquinho).

Pontes de acesso, os lagos (são cinco no total) e parques de reposição de áreas degradadas para formação de novos foi outra prioridade. No total, o empreendimento conta com 100 hectares de área verde, ou seja, 1 milhão de metros quadrados.

De acordo com a arquiteta Sandra Lazaretti, responsável pela execução do plano diretor do bairro, o empreendimento criou parâmetros urbanísticos específicos, como taxa de ocupação, via de adensamento, quoeficiente de aproveitamento e taxa mínima de impermeabilização do solo. “Com a proximidade com o Parque das Araucárias, mais a área verde do bairro, formou-se um pulmão verde imenso, que as pessoas poderão aproveitar e usufruir”, frisa.

O conceito

A realização do projeto do bairro planejado levou em conta a máxima do arquiteto Jan Gehl, de resgatar a escala humana: que as pessoas morem bem, convivam e compartilhem. Por isso, o bairro contará com uma série de serviços como hipermercado (já em funcionamento), shopping (o primeiro de Guarapuava, cuja construção está avançada e prevista para abril de 2018), hospital, universidades (UTFPR Guarapuava e Escola de Saúde da Campo Real), posto de gasolina, entre outros.

Além da priorização da área verde, o empreendimento, que segue cinco pilares principais (segurança, saúde, educação, geração de empregos e qualidade de vida) dá atenção à mobilidade, com a inclusão de ciclofaixas em 12 quilômetros que contornam o empreendimento, além de ciclovias, passeios e trilhas nas áreas verdes, facilitando o deslocamento a pé e de bicicleta. Futuramente, a ideia é que a Cidade dos Lagos tenha uma linha de ônibus gratuita que circule pelo bairro, embora o principal objetivo seja o de fazer as pessoas adotarem a caminhada.

O cuidado com o ecossistema também tem especial dedicação, com aproveitamento das águas das chuvas, coleta seletiva do lixo, manutenção dos parques, lagos e ruas e uso de lâmpadas LED (que são mais econômicas) na iluminação pública. De acordo com os sócios, já está avançado o desenvolvimento de um projeto com iluminação solar.

Comércios no térreo e cuidado com a geração e destinação do lixo (com compostagem e coleta por meio de contêineres, para que os resíduos não fiquem expostos) são outras maneiras para incentivar maior convivência e apropriação do bairro – que deve ser também a principal responsável pela segurança, junto com boa iluminação e monitoramento nos três portais de acesso.