Nos restaurantes de Beto Madalosso, a preocupação vai além da qualidade da comida: todo resíduo orgânico passa pelo processo de compostagem.
Nos restaurantes de Beto Madalosso, a preocupação vai além da qualidade da comida: todo resíduo orgânico passa pelo processo de compostagem.| Foto: Divulgação

O Brasil gera, em média, aproximadamente 80 milhões de toneladas de resíduos todos os anos. Deste total, a estimativa é de que apenas 4% desse volume passe por um processo de reciclagem, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Quando o assunto é o lixo orgânico, os restaurantes, bares e cafés estão no topo da lista dos estabelecimentos que mais produzem esse tipo de material, que também poderia receber um tratamento adequado a partir da compostagem e ser reaproveitado, evitando impactos ao meio ambiente.

Em Curitiba, diversos estabelecimentos já adotaram essa prática e os resultados são bastante significativos. Só nos cinco restaurantes do Grupo Tutano, do empresário Beto Madalosso, por exemplo, 93 toneladas de resíduos orgânicos já foram compostados. O trabalho, realizado em parceria com a Composta +, começou em julho de 2020, na unidade do Madá Pizza e Vinho, no Centro, e gradualmente foi se estendendo para os outros estabelecimentos.

Típico filho de imigrante que veio para o Brasil e que sabe a importância dos cuidados com a terra, Madalosso conta que a decisão de implantar a compostagem em seus restaurantes – e em sua própria residência – foi pelo fato de não ter clareza sobre a forma da destinação final desse lixo, que é bastante volumoso, depois que ele saía dos restaurantes. “A minha preocupação era com o processo de separação e tratamento desses resíduos. Porque tudo isso volta para a terra. Se é feito um processo adequado, esse material pode ser usado como fertilizante na produção de novas plantas. Basicamente foi essa a minha decisão”, recorda.

No Grupo Tutano, a compostagem está presente nas duas unidades do Madá Pizza e Vinho (Centro e Bigorrilho), no Carlo Ristorante e nos dois estabelecimentos inaugurados este ano, o Sambiquira e o Trolha. Além das 93 toneladas de resíduos orgânicos compostados, juntos os restaurantes deixaram de lançar na atmosfera 136,45 toneladas de CO2 (gás carbônico) e, com esse processo, economizaram 9.960 sacos plásticos para colocação do lixo – que, posteriormente, seriam descartados no meio ambiente.

Química básica

Um dos princípios da química é de que “na natureza tudo se transforma”. Os resíduos orgânicos – compostos principalmente por materiais biodegradáveis, como restos de comida, resíduos de jardim e outros tipos de materiais –, quando não recebem um tratamento adequado e são encaminhados aos aterros sanitários podem se decompor e, ao longo do tempo, liberar gases como metano, um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

Somente no Carlo Ristorante, 37,68 toneladas de resíduos orgânicos foram processados e deixaram de ser lançados no meio ambiente. | Foto: Munir Bucair Filho
Somente no Carlo Ristorante, 37,68 toneladas de resíduos orgânicos foram processados e deixaram de ser lançados no meio ambiente. | Foto: Munir Bucair Filho

Igor Gonçalves Oliveira, diretor de marketing e co-fundador da Composta +, explica que a compostagem é um processo utilizado para lidar com resíduos orgânicos de forma mais sustentável, transformando-os em nutrientes que podem ser utilizados como fertilizante natural.

No caso dos restaurantes, o diretor destaca ainda as vantagens operacionais para o estabelecimento, uma vez que a mão-de-obra que seria investida no processo de manejo do lixo é aproveitada para outras atividades mais específicas da rotina do estabelecimento. “Tudo isso é feito pela Composta + e o funcionário ganha em produtividade”, relata Oliveira.

No lugar dos sacos plásticos, é instalada uma nova lixeira onde é destinado o lixo orgânico – um recipiente de 50 litros, ou “bombona”, como é chamada geralmente. “Nos restaurantes, por exemplo, é possível inclusive ter uma noção melhor do que é desperdiçado de alimentos, permitindo um maior controle interno”, finaliza o diretor de marketing.