Danilo Caymmi, o mais novo dos filhos de Dorival Caymmi, está morando em Curitiba desde 2018.
Danilo Caymmi, o mais novo dos filhos de Dorival Caymmi, está morando em Curitiba desde 2018.| Foto:

Curitiba tem um Caymmi que não pertence mais à Bahia. Dos originais, pelo menos. Os filhos de Dorival: Nana, Dori e Danilo estão longe das terras do pai. A família mais musical do Brasil se espalhou entre a capital do Rio de Janeiro, Petrópolis (RJ) e – quem diria – Curitiba! Danilo Caymmi, 72 anos, o mais novo dos três, trocou o mar de Copacabana pelo verde das araucárias. Sorte dos paranaenses.

Músico, intérprete, compositor, produtor e atual presidente da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), Danilo mora em Curitiba desde 2018, quando deixou as areias e as altas temperaturas do Rio de Janeiro, onde nasceu, e escolheu o frio da capital paranaense – que, aliás, ele diz adorar.

PEIXE NADA FORA D’ÁGUA

Se o currículo de Danilo dispensa apresentações, a curiosidade da população fica aguçada para saber como alguém tão associado ao “Brasil tropical” e seu mar veio parar e se estabelecer em Curitiba, onde as pessoas são comparadas ao clima da cidade, destoando de todo o restante do país.

Enquanto a maioria das pessoas nasce e vai permanecendo onde está, sem muita movimentação, para Danilo, Curitiba foi uma opção. Ele escolheu a cidade em suas “andanças”. Aliás, Andança, eternizada na voz de Beth Carvalho, é uma das suas composições mais célebres: “por onde for quero ser seu par...”.

Com um olhar de quem não finge costume, Danilo fala de suas inspirações e da cidade pela qual é apaixonado há cerca de 50 anos. “Eu gosto de Curitiba desde o Projeto Pixinguinha (nos anos 1970). Mais tarde, acabei conhecendo a Patricia (a publicitária Patricia Mannarino), com quem estou casado e cá estou. Eu tenho uma visão de outsider sobre Curitiba. Tudo que eu vejo me agrada muito: o céu, os pássaros, o sabiá que me acorda às 4h da manhã quando é época de acasalamento”, destaca.

Até a localização geográfica ele encara de forma positiva. “O fato de ser uma cidade alta, o silêncio, não tem aquela situação chata de poluição sonora que é muito difícil pra quem trabalha com música. Com minha quase formação em Arquitetura, observo muito a construção da cidade e seu urbanismo. O líquen das árvores significa que a poluição é muito baixa. Curitiba fez meu cortisol cair bastante”, relata o músico que abandonou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no último período do curso graças ao “estouro” de Andança.

CHEIRO VERDE OU CHEIRO DE ARAUCÁRIA?

Pra quem não sabe, Cheiro Verde é o primeiro disco de Danilo Caymmi, que hoje é um LP cultuado e disputado. Por isso, entre os atuais projetos do músico está o relançamento do álbum.

“Gravei muito com Milton Nascimento, o primeiro disco do Fagner e entrei como músico na Banda Nova – o grupo de músicos e intérpretes que formavam a banda de Tom Jobim. Na Banda Nova, atuei também como produtor de palco. O Tom, aliás, foi quem insistiu para que eu cantasse. Até então eu achava que não era ‘minha praia’, que eu cantava errado, fora de tom. Tom Jobim era muito generoso e me apresentou no Carnegie Hall para cantar o Samba do Avião e A Felicidade. A filha caçula do Tom com a Ana, a Maria Luiza, é minha afilhada”, comenta.

Se a pandemia limitou a vida social e a criação de um amplo círculo de amizades, Danilo diz que os amigos que fez em Curitiba “são muito queridos”. Posso citar o Paulo Juk (Blindagem), o Vidal que é muito amigo mesmo (Luiz Gustavo Vidal, diretor do Museu Alfredo Andersen), o Ballão (o advogado Wilson Andersen Ballão), o João Egashira (maestro) e pessoas que fui conhecendo aos pouquinhos, como meus vizinhos Janaína e Cezario, que são muito especiais”, enfatiza.

Danilo ressalta a “efervescência cultural” em Curitiba, que, segundo ele, “é muito forte” e lamenta ter chegado às vésperas da pandemia. “Mesmo assim, consegui conhecer algumas pessoas e desenvolver alguns trabalhos, ainda inéditos”, comenta.

Nos dois últimos anos, conforme os protocolos sanitários, Danilo se afastou do público e manteve o isolamento social. Agora, com as três doses da vacina, prepara-se para voltar à estrada e aos palcos – o lugar que mais sente falta. Entretanto, o músico não usou a pandemia para descansar. Compôs muito, preparou um show inédito, resgatou outro espetáculo de sucesso com Claudio Nucci (músico do Boca Livre que, ao lado de Danilo, rodou o Brasil apresentando sucessos da dupla) e pintou.

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As diversas tribos que presenteiam Curitiba em seus 329 anos.

Além da música, Danilo Caymmi aproveitou o período para exercitar seu talento com as tintas, pincéis e outros elementos experimentais. Danilo lembra que seu pai, Dorival Caymmi, também pintava e essa referência, somada ao estudo da Arquitetura, deu as bases para essa arte.

E ele se diverte lembrando da irreverente proposta recebida do prefeito Rafael Greca de Macedo, que ofereceu um túmulo em Curitiba para que Danilo não precise sair da cidade “nem morto”. “Estou e sou muito feliz aqui em Curitiba e me sinto realmente um ‘curitibinha’”, afirma.