Os irmãos Thomaz e Nicholas Pitlak estão acostumados a buscar informações e fazer pesquisas em diferentes plataformas digitais.
Os irmãos Thomaz e Nicholas Pitlak estão acostumados a buscar informações e fazer pesquisas em diferentes plataformas digitais.| Foto: Arquivo pessoal

Até pouco tempo atrás, era comum o estudante passar no vestibular e entrar em choque com a diferente realidade da vida universitária. Isso porque era apenas na faculdade que ele passava a se tornar responsável pela construção do próprio conhecimento. Até o ensino médio, o currículo escolar brasileiro estava programado para oferecer os conteúdos “prontos” aos alunos. E era só na graduação que a maioria desses jovens acabava percebendo a necessidade de buscar suas próprias fontes de pesquisa e técnicas de estudo. Com a modernização do sistema de ensino e a disputa cada vez mais acirrada no mercado de trabalho, esse modelo precisou ser revisto. Hoje, o aluno precisa ser protagonista do próprio aprendizado.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), legislação que está em vigor no Brasil desde 2018 e dá as diretrizes da educação básica no país, estabelece competências que os estudantes precisam desenvolver em cada fase da vida escolar.

A BNCC propõe que as crianças sejam protagonistas de seus próprios aprendizados, tendo cada vez mais voz e participação nos processos de aprendizagem. Em resumo: é aquele estudante que compreende que, para alcançar o sucesso, ele não pode depender exclusivamente da estrutura oferecida pela instituição de ensino. Precisa ir atrás de suas próprias fontes, fazer suas próprias pesquisas e descobertas. Criar o seu diferencial educativo, algo que ele vai levar para a universidade e, depois, para a vida profissional.

A neuropedagoga Janaína Spolidorio afirma que ocorreram importantes mudanças na busca para implementar novas metodologias e até novas teorias na área da educação. Porém, ela ressalta que o debate ainda está focado no sistema, mas é necessário que ele seja direcionado ao aluno. “Um professor que viveu a vida toda sendo ensinado dentro de um determinado sistema, passa a acreditar que assim deve ser. Passamos a vida escolar tendo que cumprir a finalização de um livro didático, estudar para uma prova, passar em um vestibular. Pouco se olha para a necessidade de vivência do aluno, a habilidade que faltaria desenvolver”, observa.

Janaína salienta que o educador precisa ser treinado para estimular o estudante a assumir esse protagonismo. Mas enfatiza o papel da instituição de ensino, enquanto sistema, nesse contexto: “a escola precisa permitir, dar espaço. Se não ocorrer em conjunto, não é efetivo”, reforça.

DIFERENÇAS

A advogada Cristheane Zarpellon Pitlak, 41 anos, percebe enormes diferenças entre o perfil do modelo de ensino que ela frequentou e a de hoje, que seus filhos frequentam. Mãe de dois meninos – Thomaz Pitlak, 14, 9.º ano e de Nicholas, 9, 4.º ano –, para ela, aquele formato tende a não existir mais. “As práticas pedagógicas eram voltadas para o ato de decorar os conteúdos, além de utilizar recursos cansativos, como as cópias e os cadernos de caligrafia”, relembra.

Ela cita como exemplo as pesquisas que costumavam ser feitas diretamente em livros e enciclopédias como a Barsa – objeto que inclusive era considerado patrimônio em muitas famílias. “Meus filhos nasceram em um mundo dominado pela tecnologia. Como alunos, eles têm acesso a informações a todo momento, vindas de todas as formas e todos os lugares, vivem em um universo completamente dominado pela multimídia”, pondera.

Cristheane fala que um dos itens dos materiais escolares exigidos na lista dos meninos foi a aquisição de um notebook para utilizar em sala de aula. “Isso faz com que tenham uma postura mais ativa em busca de informações e utilizem a internet para esse fim, todos os dias”, enfatiza a advogada, que considera de suma importância o aluno participar de forma ativa do processo de aprendizagem.

“Dessa forma, eles passam a ser os protagonistas e desenvolvem habilidades sociais e emocionais que irão levar para o resto de suas vidas. Tudo o que é aprendido de forma participativa é guardado para sempre em nossas memórias para o resto da vida”, ressalta.

A opinião é similar à da designer gráfico Mônica Borio, que é mãe do Murilo, 10, e da Marina, 8 anos, que em 2021 estavam no 5.º e 3.º ano do ensino fundamental. Segundo ela, em função dos avanços tecnológicos, mudou o perfil dos estudantes e também o perfil da escola, que precisou se adaptar aos novos tempos. “Eu percebo também que já há um foco muito grande na questão profissional e na produtividade, desde muito cedo”, relata Mônica, destacando a preocupação com o nível de ansiedade ainda na infância e na adolescência.

Por outro lado, ela comenta que, apesar de muitas mudanças no cenário, outras questões relativas ao espaço escolar continuam iguais: “A essência continua a mesma, a de ser mais um local onde a gente aprende a se relacionar com os outros”, analisa.