Regiane e a família conseguiram conduzir as aulas durante a pandemia graças à parceria com a escola.
Regiane e a família conseguiram conduzir as aulas durante a pandemia graças à parceria com a escola.| Foto: Arquivo pessoal

Do dia para a noite, notebooks assumiram o papel de quadros-negros, a comunicação entre estudantes e professores passou a ser por meio de plataformas digitais, atividades lúdicas e que visavam ao desenvolvimento socioeducativo passaram a acontecer dentro de casa mesmo. Foi assim que a pandemia de Covid-19 mudou a rotina e impactou no aprendizado de milhões de estudantes em todo o mundo. Porém, com a vida retornando aos poucos à normalidade, a tendência é de que muito do que foi utilizado durante o isolamento social seja absorvido à rotina da sala de aula. Aos poucos, as novas ferramentas utilizadas durante a pandemia vêm sendo absorvidas ao cotidiano da educação, mesmo após a retomada das aulas presenciais.

A designer instrucional EAD, Taciane Lemes, que atua no desenvolvimento de metodologias e-learning, destaca que o cenário educacional mudou com a pandemia. Segundo ela, além de reforçar a importância da relação entre aluno e professor na consolidação do conhecimento, impulsionou a troca do aprendizado. “O professor percebeu que não pode mais ficar apenas no palco. O aluno precisa colocar a mão na massa, ser o protagonista de toda a aprendizagem”, observa.

ESTATÍSTICAS

Com a suspensão das aulas por causa da pandemia, quase 48 milhões de estudantes da educação básica deixaram de ir à escola diariamente no Brasil, de acordo com os dados do Censo Escolar de 2019. Isso inclui todas as crianças, adolescentes e jovens matriculados desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e profissionalizante nas instituições de ensino das redes pública e privada.

Ao falar da importância de inovar na forma de atrair a atenção do estudante, Taciane destaca que não está se referindo apenas às ferramentas tecnológicas, mas principalmente a recursos simples, disponíveis em quase todas as instituições de ensino, que permitem explorar a criatividade, como objetos lúdicos, ferramentas gratuitas existentes na internet. “De nada adianta buscar as infinitas possibilidades de ferramentas tecnológicas se não estamos respeitando o tempo do professor e do aprendiz. É fundamental ter calma em relação à aplicabilidade das ferramentas tecnológicas. Ir no ritmo do professor, do aluno e das ferramentas que a escola tem para oferecer naquele momento”, comenta.

SOB CONTROLE

Para a professora Regiane Pinheiro Dionisio Porrua, 39 anos, que é mãe de dois meninos – Filipe, 8, e Benjamim, 4 –, a experiência com as aulas remotas durante o período de isolamento social só não foi mais exaustivo porque o colégio onde os meninos estudam soube dosar a carga, conforme percebia a adesão dos alunos. “A escola soube administrar muito bem a situação da transposição didática para o remoto”, avalia.

Segundo Regiane, a partir da observação do desenvolvimento dos estudantes, o colégio avançava ou recuava, conforme a necessidade de cada turma. “O tempo das aulas e a quantidade de atividades foram bem pensadas para não sobrecarregar as crianças que já se encontravam em um momento pandêmico”, avalia. Em seu ponto de vista, a professora considera que a educação presencial é fundamental para a formação básica escolar. “Não que alguns recursos on-line não possam ser utilizados. E em muitos casos devem ser. Mas a relação física com outros indivíduos é primordial para o desenvolvimento pleno do ser humano como cidadão”, enfatiza.

DOSES HOMEOPÁTICAS

A psicóloga Bárbara Snizek Ferraz de Campos, especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise e mestre em Antropologia Social, lembra que as crianças precisam ter um contato gradual com as telas. E o ideal é que esse contato só ocorra após os 2 anos. “Com a pandemia, isso aumentou muito, foi inevitável”, observa.

Porém, mesmo no caso das aulas on-line, Bárbara destaca que elas só se tornam eficientes em períodos mais curtos e bem dosados, lembrando que, no período que a criança passa na escola, ela tem outros tipos de interação que não apenas o momento de aprendizado. “A criança precisa ter a oportunidade de desenvolver atividades físicas, motoras e de fazer contato com outras pessoas e isso não pode ser deixado de lado”, reforça a psicóloga.