
Thiago Vinicius Rodrigues de Vasconcelos tem apenas 22 anos, formou-se em 2014 no curso de Licenciatura em Filosofia da PUCPR e hoje trabalha como professor em duas escolas particulares de Curitiba. O Prêmio Marcelino Champagnat, destinado ao aluno com melhor desempenho acadêmico em cada turma da graduação da universidade católica, lhe rendeu duas bolsas. Uma para mestrado, o qual deve terminar neste ano, e uma para doutorado, com início no ano que vem. Com a bolsa e o salário das aulas, seu rendimento mensal fica acima dos R$ 3 mil.
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Num país em que historicamente a profissão de professor é desvalorizada, apesar de avanços recentes, ele é um exemplo de como a boa formação e a dedicação são os maiores diferenciais para garantir um bom emprego após o fim da faculdade, mesmo em anos de crise econômica. E o futuro pode ser ainda mais promissor: com as inúmeras discussões para solucionar os problemas sociais no Brasil, a profissão deve necessariamente passar por uma significativa valorização.
“Acho que os futuros professores precisam lutar pela valorização da categoria, uma luta que está longe de acabar, mas também precisam fazer sua parte, que é continuar os estudos e se manter sempre bem informados. Não dá para se formar e parar de estudar, de se atualizar”, diz Vasconcelos, que dá aulas de Filosofia para ensino fundamental no Colégio Stella Maris e na Escola Nossa Senhora da Esperança.
O Brasil precisa de mais gente como Thiago. Um estudo do Ministério da Educação divulgado no ano passado mostra que 40% dos professores do ensino médio no Brasil, entre escolas públicas e privadas, estarão aptos a se aposentar nos próximos 5 anos. Quase metade do total de professores do ensino médio têm mais de 40 anos (veja no gráfico). Alguns especialistas apontam inclusive um risco de “apagão de docentes” no país.
A falta de mão de obra qualificada pode ser vista como uma oportunidade para quem pensa em fazer um curso de Licenciatura. Na economia, a lei da oferta e da demanda diz que em períodos em que a demanda é superior a oferta, a tendência é um aumento de preços – neste caso, um aumento no poder de negociação por parte dos professores, como melhores salários, benefícios e mais opções de onde trabalhar.
A realidade, porém, varia em cada região do país. No Paraná, a Secretaria de Estado de Educação (SEED/PR) afirma que enfrenta dificuldades de contratação sazonal em três disciplinas: Física, Inglês e Educação Artística. Mas o interesse pelos concursos públicos do estado mostra uma relação bem maior de candidatos/vagas. Em 2015, 400 mil professores se inscreveram no Processo Seletivo Simplificado (PSS), o programa de contratação temporária de professores que seleciona cerca de 20 mil profissionais por ano. No anterior foram 350 mil inscrições. Cada professor pode se inscrever em 13 concursos de PSS anualmente.
A mudança de percepção sobre a profissão de professor depende fundamentalmente de políticas públicas que valorizem mais a carreira, especialmente nas escolas públicas do ensino fundamental e médio. O Brasil está longe de um quadro satisfatório quando comparado a países mais ricos, mas vem fazendo avanços. Entre 2009 e 2015, o piso nacional do magistério saltou de R$ 950 para R$ 1.918 para a jornada de 40 horas semanais para professores com ensino médio. O salário fica cerca de 10% abaixo da média nacional de profissionais de outras áreas.
Fazer uma licenciatura e continuar os estudos com mestrado e doutorado, no entanto, faz diferença. No Paraná, o salário inicial dos professores concursados e licenciados nas escolas públicas estaduais é de R$ 3.600 para 40 horas semanais. Perto da aposentadoria, esse valor chega a R$ 10 mil para os professores mestres ou doutores. A remuneração tem também um acréscimo de 5% a cada cinco anos de trabalho.
Professor-Inovador
O movimento pela maior valorização dos professores é acompanhado por uma reinvenção do currículo do magistério nas universidades, buscando atrair mais jovens para a Licenciatura e dar uma formação multidisciplinar que garanta opções profissionais. Na PUCPR, o empreendedorismo social e a editoração, por exemplo, passarão a ser cadeiras optativas para os alunos a partir do ano que vem. Uma das ideias é fazer com que os trabalhos de conclusão de curso possam se tornar produtos viáveis para soluções educacionais, como materiais didáticos, objetos de aprendizagem e softwares educacionais.
“A cadeira de empreendedorismo (social/educacional) tem como objetivo principal estimular a criatividade e a autoconfiança, para que o futuro professor possa apresentar alternativas inovadoras aos desafios da sala de aula. Fazendo isso sempre de maneira responsável, competente e autônoma, sem perder a capacidade de trabalhar em grupo”, diz o Geovani Moretto, coordenador de Filosofia da PUCPR.
