Ganho econômico com a adoção de tecnologias na agricultura pode chegar a US$ 21,1 bilhões, segundo o BNDES.
Ganho econômico com a adoção de tecnologias na agricultura pode chegar a US$ 21,1 bilhões, segundo o BNDES.| Foto: Gilson Abreu/AEN

No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro registrou aumento de 24,31%, representando 26,6% do PIB total do país – a participação do setor, em 2019, era de 20,5%. Em valores, o total produtivo do agronegócio somou quase R$ 2 trilhões. O setor poderia ser ainda mais eficiente, com a adoção de tecnologias relacionadas à agricultura 4.0, que possibilitariam o aumento da produtividade sem a necessidade da ampliação das áreas de cultivo.

Um estudo contratado pelo BNDES mostrou que o ganho econômico com a adoção da chamada Internet das Coisas (IOT) poderia variar de US$ 5,5 bilhões a US$ 21,1 bilhões, dependendo do grau de adesão. IOT é a tecnologia que permite a conexão digital entre diferentes dispositivos, permitindo a troca de dados entre eles, dando mais controle e informações para a tomada de decisão no campo. Essa tecnologia auxiliaria em eficiência, gestão de equipamentos e de ativos e em produtividade humana.

“Não é possível gerenciar aquilo que não se mede. A agricultura 4.0 é capaz de coletar dados precisos e em tempo real. Com as informações do solo, é possível ser mais preciso e mais inteligente em relação a diversos fatores, inclusive o controle de uso da água em momentos de irrigação”, analisa um dos sócios e diretor técnico da Caltim, Claudius Augustus Faggion Filho.

De acordo com ele, a agricultura não tem verdades absolutas, e o uso de insumos de maneira personalizada beneficia a todos. “Se consigo usar recursos naturais e matérias-primas de forma mais inteligente, caso dos fertilizantes, posso construir um solo mais adequado, no qual a planta acesse a água adequadamente. Além disso, torna-se mais simples monitorar a irrigação e a existência de pragas, dando mais informações para usar recursos de forma inteligente”, ressalta Faggion Filho.

Entre as vantagens da adoção desse tipo de tecnologia, estão a otimização de operações, redução do custo de produtos, aumento da produtividade, diminuição de despesas e crescimento da eficiência logística.

Muito além da economia

Apesar da importância econômica da agricultura, a adoção de tecnologias no segmento é fundamental para outro propósito: garantir a oferta de alimentos. Estima-se que a demanda por comida deve crescer 47% até 2050. Isso só será possível com o uso inteligente das tecnologias, especialmente em relação ao aproveitamento dos recursos naturais, permitindo o aumento da produtividade sem necessariamente avançar com o cultivo, especialmente para ecossistemas como a Amazônia e o Pantanal.

A análise do BNDES aponta como o uso de IOT resulta em uma agricultura mais sustentável, já que possibilita a medição e o monitoramento de recursos – hídricos e energéticos – e oferece outros índices de análise relacionados ao ar, o solo e a água. A tecnologia oferece benefícios na gestão de recursos naturais e monitoramento de insumos, atuando em situações como:

Desequilíbrio entre oferta e demanda de água – Dados da Agência Nacional de Águas (ANA) estimam que 72% da água consumida no Brasil seja direcionada ao agronegócio. Boa parte deste consumo está relacionado às chuvas e práticas como controlar e ter mais eficiência no uso e captação da chuva contribuem neste quesito.

Consumo de agrotóxicos – De acordo com a Anvisa, 18% dos alimentos do país são contaminados com agrotóxicos -- Brasil é o principal consumidor global deste insumo. A Internet das Coisas auxilia a monitorar a sua aplicação, de acordo com a real necessidade.

“O produtor agrícola é um protetor do meio ambiente. Ele não quer usar mal os recursos, pelos aspectos ambientais e também pelos econômicos”, diz Faggion Filho. “Alguns agricultores são mais abertos à tecnologia, com máquinas que fazem contagens com precisão e o uso de imagem de drones e de satélite. Mas ainda há muito a evoluir”, acrescenta o diretor da Caltim.

Demanda por alimentos deve crescer 47% até 2050, o que exige uma agricultura mais produtiva e eficiente.
Demanda por alimentos deve crescer 47% até 2050, o que exige uma agricultura mais produtiva e eficiente.| Gilson Abreu/AEN

O status da agricultura 4.0 no Brasil

Um estudo conduzido pela Embrapa mostrou que 84% dos agricultores usam ao menos uma tecnologia em seus processos produtivos. No entanto, os índices mostram que há um longo caminho de evolução até se chegar à agricultura 4.0. O uso de sensores no campo e máquinas com tecnologias embarcadas aparecem apenas na sexta e sétima colocações (são as últimas tecnologias mencionadas).

Entre as inovações mais usadas no campo, os respondentes afirmaram que adotam a internet para atividades gerais (70%); redes sociais para comercializar produtos (58%); uso de aplicativos para gestão (22%); GPS (20%); imagens de satélite, drones ou aviões (17%); sensores instalados no campo (16%); e máquinas com eletrônica embarcada (9%).

Agricultura 4.0: os desafios do IOT

De acordo com o BNDES, o Brasil conta com alguns desafios para implantar o IOT e atingir um grau de maturidade da agricultura 4.0. Veja quais são:

Capital humano – Formação e capacitação da mão de obra do país.

Inovação e inserção internacional – Engloba questões como o fortalecimento de um ambiente de negócios, o apoio ao investimento, financiamento e fomento de projetos relacionados à área e à criação de uma governança específica de IOT.

Infraestrutura – Por se tratar de tecnologia que demanda a conectividade em tempo integral, é preciso que o país conte com uma infraestrutura capaz de suportar as novas exigências do campo.

Regulatório – Inclui as modificações na legislação e ajustes que precisam ser feitos para fomentar este investimento por parte dos agricultores.

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