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A tradicional bandeira de cartões de crédito é mais uma gigante a sucumbir às ideias progressistas no ambiente de trabalho.
A tradicional bandeira de cartões de crédito é mais uma gigante a sucumbir às ideias progressistas no ambiente de trabalho.| Foto: Bigstock

A empresa de cartões de crédito American Express criou um programa de treinamento racialista que ensina os funcionários que o capitalismo é fundamentalmente racista e pede que eles desconstruam suas identidades sexuais e raciais, classificando a si mesmos de acordo com seus “privilégios”.

De acordo com documentos que obtive de um informante, os executivos da AmEx criaram a “Iniciativa Antirracismo” logo depois da morte de George Floyd, no ano passado. A iniciativa sujeita os funcionários a um extenso programa de treinamento baseado nos preceitos da teoria racialista, entre eles o “racismo sistêmico”, o “privilégio branco” e a “interseccionalidade” – componente da teoria que reduz o indivíduo a um condensado de identidades racial, sexual e de gênero, determinando, assim, se a pessoa é opressora ou oprimida.

Numa sessão introdutória, uma consultoria externa chamada Paradigm ensinou os funcionários da AmEx a desconstruírem suas identidades interseccionais, mapeando sua condição “racial sexual, religiosa, corporal, etária e cidadã” num papel timbrado da empresa. Depois que os funcionários classificavam suas identidades, eles concluíam se eram privilegiados ou se faziam parte de um grupo marginalizado que é “sub-representado, estigmatizado ou subvalorizado na sociedade”. Assim, os funcionários podiam ver sua posição na hierarquia interseccional – supostamente com os homens brancos héteros na condição de opressores e as minorias raciais e sexuais na condição de oprimidos.

Numa lição posterior, a American Express instrui os funcionários a alterarem seu comportamento no trabalho com base na sua posição relativa na hierarquia racial e sexual. Os professores deram aos funcionários um gráfico com regras específicas para que eles interajam com os negros, as mulheres e os funcionários LGBTQ: se um membro de um grupo “inferiorizado” estiver presente, os funcionários devem praticar a “solidariedade interseccional”, pedindo permissão antes de falar. Em outro manual, as instruções para os funcionários brancos são ainda mais explícitas: “identifique os privilégios e as vantagens que você tem”. “não interrompa membros das comunidades negra e afro-americana”; “não tem a ver com sua intenção, e sim com o impacto que você causa no seu colega”. Até mesmo expressões de uso comum estão sujeitas à regulamentação racial: os funcionários brancos são instruídos a não falarem coisas como “não vejo raça”, “somos todos seres humanos” e “todos podem ser bem-sucedidos nessa sociedade se trabalharmos duro”. Essas falas são consideradas “microagressões” contra os funcionários negros.

Num dos eventos de “antirracismo” para o alto escalão da empresa, a American Express convidou o professor Khalil Muhammad — bisneto de Elijah Muhammad, que liderou a Nação do Islã — para falar sobre “racismo na América corporativa”. Muhammad disse que o capitalismo se baseia no racismo e que a “lógica racista e outras formas de dominação” moldaram a sociedade ocidental desde a Revolução Industrial. “A American Express tem que investigar seu papel na história do capitalismo racial”, disse Muhammad. “Vocês são cúmplices ao imporem privilégios numa comunidade sobre as outras, sob o pretexto de que vivemos num sistema meritocrático no qual o mercado considera todos iguais”.

Depois de acusar a empresa de participar da opressão racista, Muhammad estimulou os executivos da AmEx a começarem a “promover um profundo trabalho redistributivo e reparativo” e a “pressionarem o governo para que ele promova políticas sociais que reflitam seus valores”. Muhammad disse ainda que a empresa deveria reduzir os padrões de crédito para os clientes negros e sacrificar os lucros para o bem das reparações raciais. “Se a American Express se importa com a justiça social no mundo, ela não pode dizer que o mercado definirá como precificarmos clientes que vêm de comunidades carentes”, disse Muhammad. “Se vocês querem fazer o bem, então terão de criar produtos que não priorizem o lucro”.

Por fim, num módulo da Iniciativa Antirracismo, a AmEx recomenda uma série de leituras para que os funcionários “aprendam a combater o supremacismo branco” (nas palavras de Ibram X. Kendi), dedicando-se a “tarefa perpétua de reverter a herança cultural racista do país”. Os funcionários são levados, então, a ouvirem um podcast que defende o abolicionismo penal. Depois, eles têm que ler uma série de artigos que prometem “obrigar os brancos a ver e entender como o supremacismo permeia suas vidas”, argumentando que as crianças brancas se tornam racistas antes mesmo de começarem a falar e persuadindo os funcionários de que o Congresso deveria aprovar leis de indenização racial reparatória.

A American Express, claro, tem o direito de promover as causas esquerdistas entre seus funcionários. Mas essas práticas merecem ser investigadas. De acordo com informantes, a empresa está criando um ambiente interno de medo e divisionismo. Na melhor das hipóteses, parte do material é paternalista; na pior, parte dele viola a Lei dos Direitos Civis, que proíbe a caracterização racial e os bodes-expiatórios no ambiente de trabalho. Os executivos da AmEx deveriam pensar melhor do que estão fazendo – e, se têm coragem, deveriam retirar esse absurdo do programa de treinamento de seus funcionários.

Christopher F. Rufo é membro do Manhattan Institute e colaborador do City Journal.

©2021 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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