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Refinaria da Exxon em Baytown, Texas | JR/tzJESSICA RINALDI
Refinaria da Exxon em Baytown, Texas| Foto: JR/tzJESSICA RINALDI

Em 2015, dois jornais publicaram uma série investigativa mostrando que a empresa de petróleo e gás ExxonMobil realizou uma pesquisa de ponta sobre mudança climática na década de 1980, antes de lançar dúvidas sobre a mesma pesquisa na década seguinte em uma tentativa de bloquear possíveis legislações sobre emissões de gases do efeito estufa. 

Mas a companhia rejeitou aquela narrativa, pedindo para o público “ler os documentos” descobertos pelos jornalistas e chegar às suas próprias conclusões. Em post em um blog, um porta-voz da Exxon chegou nominar pessoalmente uma pesquisadora de Harvard após ela reiterar as alegações dos jornais

Agora, dois anos depois, aquela professora, Naomi Oreskes, virou coautora de um estudo que atende ao pedido da Exxon e investiga os documentos – 187 deles, escritos entre 1977 e 2014

Em um artigo publicado no jornal Environmental Research Letters, Oreskes oferece uma análise que reforça as conclusões daquelas reportagens da InsideClimate News e do Los Angeles Times: a Exxon contradisse as palavras dos seus cientistas. 

“A Exxon acusou jornalistas de usar declarações fora de contexto”, disse Geoffrey Supran, pós-doutorando de Harvard que escreveu o estudo com Oreskes. “Mas o que descobrimos quando analisamos todos os documentos relevantes é que podemos observar tendências claras. Nós olhamos para o panorama completo.” 

Procurando trechos em uma série de documentos sobre o nível de dúvida quanto à mudança climática que eles apresentariam, os pesquisadores descobriram que pelo menos 80% dos documentos internos da empresa e estudos publicados pela Exxon reconheciam que a mudança climática era real e causada por seres humanosenquanto 81% das peças publicitárias publicadas no The New York Times e outros jornais diziam o contrário e expressavam dúvidas. 

“Vamos reconhecer”, um anúncio de jornal da Exxon em 1997 dizia, por exemplo. “A ciência da mudança climática é muito incerta para exigir um plano de ação que pode lançar as economias em turbulência.” Mas apenas um ano antes, um pesquisador da Exxon escreveu em um artigo que o “volume de evidências estatísticas (...) agora aponta para uma influência humana perceptível na mudança climática”. 

Em resposta, a empresa insistiu que as suas pesquisas sobre clima foram consistentes e descartou o estudo como um trabalho de ativistas tentando manchar a sua imagem. 

“O estudo foi financiado, escrito e publicado por ativistas em uma campanha de cinco anos contra a companhia”, disse a Exxon em uma declaração. “Isso é incorreto e absurdo.” 

O novo estudo foi financiado em parte pelo capital da família Rockefeller, que apesar de ser administrado por descendentes de John D. Rockefeller, fundador da Standard Oil, que deu origem à Exxon, contribuiu com investimentos para a InsideClimate News e a Columbia Journalism School, que produziram a série do Los Angeles Times 

Na sua resposta ao estudo, a Exxon acrescentou que “as declarações da empresa foram consistentes com o nosso conhecimento sobre a ciência climática”, apontando duas propagandas veiculadas em 2000, nas quais a empresa diz que a mudança climática pode ser uma “ameaça legítima em longo prazo”. Certamente, o estudo de Harvard revelou que 12% das peças publicitárias reconhecem a contribuição humana para o aquecimento global. 

“A ExxonMobil alega que algumas frases de dois documentos refutam a nossa análise de 187 documentos”, respoderam Oreskes e Supran. “Mas nós consideramos esses dois documentos.” 

Pouco depois da InsideClimate News e o Los Angles Times publicarem as suas reportagens, os procuradores gerais de Nova York e de outros estados, além da Comissão de Valores Monetários (SEC), iniciaram investigações sobre as pesquisas da empresa. A Exxon lançou a sua primeira declaração confirmando a ideia de que a queima dos seus principais produtos é nociva ao planeta, em 2007, e desde então tem apoiado publicamente uma proposta de impostos sobre emissões de carbono. 

As críticas à companhia evidenciam o histórico de pressão sobre cientistas que estudam mudança climática e outros tópicos igualmente controversos para que falem a favor de políticas públicas, apesar do risco de prejudicar a sua credibilidade por meio de ativismo. Supran e Oreskes, que escreveram, em 2010, no livro Merchants of Doubt, sobre os paralelos entre as campanhas contra as pesquisas sobre mudança climática e contra tabagismo, dizem que estão confortáveis com esse papel duplo. 

“A ExxonMobil também nos acusa de ser ‘ativistas’, como se isso fosse algo para se envergonhar”, eles escreveram. “Mas nós temos orgulho de ser ativistas. Como cientistas antes de nós mostraram, falar a verdade é um dever cívico.” 

Oreskes disse que havia se esquecido do chamado da Exxon no post do blog até a semana passada. “Mas parece irônico”, disse. “Eles me atacaram, me desafiaram virtualmente a fazer esse estudo.”

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