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O presidente francês Emmanuel Macron em conversas para tentar viabilizar seu governo depois das eleições parlamentares.
O presidente francês Emmanuel Macron em conversas para tentar viabilizar seu governo depois das eleições parlamentares.| Foto: EFE/EPA/GONZALO FUENTES

As eleições parlamentares francesas deixaram o presidente Emmanuel Macron não apenas sem o apoio da maioria, mas também com um Parlamento dividido em tantos grupos que alguns analistas dizem que o país se tornou “ingovernável”, com aconteceu sob a Quarta República até Charles de Gaulle estabelecer a Quinta.

“Ingovernável” é uma palavra forte. As eleições foram realizadas com tranquilidade, ainda que essa tranquilidade fosse sinal de apatia. Nem a administração de um país se importa com seu governo. A Bélgica passou 500 dias sem um governo federal e nada mudou por lá. A vida segue enquanto os políticos negociam.

No primeiro turno das eleições, o partido do presidente, que acabou por conquistar muitos lugares no Parlamento, mas não a maioria, conseguiu amealhar incríveis 12 por cento dos votos (52 por cento dos eleitores se abstiveram). Desses 12 por cento, boa parte votou contra os outros partidos, e não em apoio a Macron e seu partido. Não é uma base popular que confere legitimidade a um governo de reformas amplas, entre elas a reforma do sistema previdenciário, que o presidente considera necessária.

Macron teria maioria parlamentar se tivesse formado uma coalizão com o tradicional partido de centro-direita Les Républicains, uma vez que, exceto por ambições pessoais, não há muitas questões a separá-los. Mas na política a ambição é um fator importante. Lembro-me de Ernest Bevin, importante membro do governo trabalhista na Grã-Bretanha do pós-guerra, respondendo a alguém que lhe disse que Aneurin Bevan, outro membro importante do mesmo governo, era seu pior inimigo. “Enquanto eu estiver vivo, não é”. Aí está – a política em resumo.

A extrema-direita e extrema-esquerda se deram bem nas eleições, até onde se pode dizer que alguém se deu bem numa eleição com 54 por cento de abstenção. Na França, os extremos estão separados por suas ideias quanto à imigração e identidade nacional, mas em questões econômicas não estão tão distantes assim. Ambos são extremamente estatistas.

A coalizão de esquerda, liderada por Jean-Luc Mélenchon e agora a segunda maior força no Parlamento, foi formada por vários grupos díspares que começaram a brigar assim que os votos foram apurados. Mélenchon é um demagogo que às vezes (dependendo da plateia) usa roupas chiques de proletário, daquele tipo que o proletário de verdade nunca usa, da mesma forma que os líderes comunistas faziam.

A extrema-esquerda atraiu sobretudo os mais jovens, que são ao mesmo tempo ansiosos e deprimidos, o que não surpreende, levando em conta as dificuldades reais enfrentadas pelos mais jovens. Os jovens eleitores eram provavelmente os mais bem educados entre todos, o que confirma algo que já se sabe: educação não é o mesmo que sabedoria política.

A política econômica de Mélenchon é conter a inflação controlando os preços, aumentando o salário mínimo e as aposentadorias, diminuindo as horas trabalhadas e reduzindo a idade mínima de aposentadoria para 60 anos. Ao mesmo tempo, ele pretende aumentar os gastos do governo em mais de 250 bilhões de dólares – a serem pagos com impostos cobrados dos mais ricos, uma medida sempre popular entre os que enfrentam dificuldades econômicas. Chavista declarado, Mélenchon não tem vergonha de dizer que a França de hoje é um inferno.

A verdade, contudo, é que essa receita econômica não tem nada a ver com as circunstâncias difíceis atuais, causadas pela irresponsabilidade pretérita: Mélenchon proporia essas medidas independentemente das condições do país. É uma receita que sempre atrai eleitores, por mais que já tenha levado países ao desastre repetidas vezes. Mas dessa vez será diferente, acredita ele.

Theodore Dalrymple é editor-colaborador do City Journal, membro do Manhattan Institute, e é autor de vários livros.

© 2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês 
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