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Em 3 de dezembro de 2024, James Lindsay, provocador de direita, revelou que havia “editado levemente” “vários milhares de palavras que vieram diretamente” do Manifesto Comunista e submetido o texto à revista online American Reformer. Ele a considera a principal voz da “direita woke” nacionalista cristã (woke é um termo usado normalmente para o identitarismo da esquerda).
Sob o pseudônimo de “Marcus Carlson” (um trocadilho com “Karl Marx”), Lindsay substituiu o termo “burguesia” no manifesto por liberalismo, liberais ou “o consenso liberal do pós-guerra”, entre outros. Então enviou sua criação ao American Reformer para provar a existência da “direita woke”. E conseguiu. Eles publicaram o texto, enganados pelo Manifesto Comunista disfarçado com a fina retórica do nacionalismo cristão.
Lindsay, assim como outros, como o apologista cristão Neil Shenvi, argumenta que há uma “direita woke” que raciocina exatamente como a esquerda woke, apenas com heróis e vítimas diferentes. Já argumentei que a direita woke usa a história exatamente como a esquerda: reinventando-a para nos alienar do mito americano, na esperança de que aceitemos sua visão de futuro.
George Orwell disse: “A maneira mais eficaz de destruir um povo é negar e obliterar seu entendimento sobre sua própria história.” Se você quer tomar um país, comece por manchar seus mitos fundadores. Isso desmoraliza o povo. Marxistas revolucionários fizeram exatamente isso na China, incitando uma “revolução cultural”. O primeiro passo foi plantar as sementes do repúdio cultural: fazer as pessoas odiarem sua própria cultura.
Os Estados Unidos são o país que menos merece perder sua gloriosa história — seu mito — para os estragos das distorções históricas da esquerda, como o Projeto 1619 (que buscou reinterpretar a fundação do país como a chegada do primeiro navio negreiro), as acusações de “genocídio” contra os povos nativos e as obsessões sobre a escravidão que ignoram o óbvio: os Estados Unidos acabaram com a escravidão. Ainda assim, vivemos, na última geração, uma tentativa de revolução cultural. Isso se intensificou tanto na última década que até ganhou um nome: woke ou wokismo. É a etapa final em alienar os americanos de sua história e cultura, na esperança de que aceitem uma nova.
Por exemplo, Ben Garrett, coapresentador do podcast The Haunted Cosmos ("O Cosmos Assombrado"), afirmou que um professor “não sabe muito sobre Churchill.” O professor estava elogiando Winston Churchill, e Garrett alegou saber mais. Ele “fez as leituras,” ou assim diz. Ele sabe que Churchill foi o vilão da Segunda Guerra Mundial, ou algo do tipo. Ele alcançou o “insight gnóstico,” um nível superior de compreensão que nós, simplórios doutrinados pelo “consenso do pós-guerra” a serviço do “globohomo” (um termo pejorativo surgido na Internet que junta "global" e "homogeneização", com possível referência à sexualidade) não temos.
Esses direitistas assimilaram os reflexos da esquerda pensando que podem usá-los para servir à agenda deles. Acham que despertaram (o termo woke vem da raiz do verbo despertar) para a verdade sobre a história americana e agora estão em uma cruzada para nos converter à sua visão de um glorioso passado americano, para que os acompanhemos em um reavivamento disso. Eles nos dizem que:
- A Revolução Americana foi uma guerra injusta;
- A Constituição foi um erro;
- “A escravidão produziu no Sul uma genuína afeição entre as raças que, acreditamos, nunca existiu em nenhuma nação antes [da Guerra Civil] ou desde então” (do livro de Douglas Wilson e Steve Wilkins, "Southern Slavery: As It Was" ["A escravidão do sul dos EUA como ela foi", em tradução livre], p. 38);
- Abraham Lincoln foi um tirano;
- Os Estados Unidos foram enganados pelo “belicista” Churchill para entrar na Segunda Guerra Mundial (segundo Darryl Cooper);
- A conduta americana naquela guerra foi marcada por “crimes de guerra,” como os bombardeios de Dresden e Hiroshima;
- Brown v. Board of Education, decisão judicial que acabou com a segregação racial nas escolas, foi um erro;
- O “consenso do pós-guerra” foi uma conspiração nefasta para usar o poder americano em prol do “globohomo”;
- … e por aí vai.
Como suas imagens espelhadas na esquerda, o propósito de toda essa ficção histórica é fazer com que os americanos odeiem seu próprio país para que estejam dispostos a destruí-lo e começar de novo. Para esses “conservadores” — pseudo, semi ou alternativos — os EUA ideais se perderam em algum ponto do passado imaginário, talvez em Appomattox (uma das últimas batalhas da Guerra Civil americana), talvez com o presidente Woodrow Wilson, o New Deal ou mais recentemente, enquanto os esquerdistas, como Kamala Harris, que compartilham a tática de desconstruir nossa história, enxergam isso no futuro. Assim, Harris nos convida, como os “quatro velhos” (os quatro elementos da cultura chinesa purgados na Revolução Cultural) de Mao, a estarmos “desimpedidos pelo que aconteceu.” Esses pseudoconservadores desiludidos sentem-se tão alienados dos Estados Unidos como eles são agora que estão dispostos a destruir todo o mito. Contudo, não percebem que são os idiotas úteis da esquerda.
A grandiosidade do mito americano está em grande parte no fato de ele ser real. É verdade que os heróis americanos tinham falhas. Mas os Peregrinos realmente vieram para Plymouth para adorar a Deus, lançando o Projeto 1620. Uma década depois, o pioneiro John Winthrop, navegando rumo à América, realmente declarou que eles plantariam “uma Cidade sobre uma Colina”. Duas gerações depois, o clérigo puritano Increase Mather realmente declarou, sobre esses fundadores: “Foi um grande e elevado empreendimento de nossos pais quando se arriscaram com seus pequenos sobre as ondas rudes do vasto oceano para seguir o Senhor até sua terra.” Os Estados Unidos realmente tiveram uma fundação cristã. Washington realmente foi um grande homem; ele pode não ter derrubado uma cerejeira e se recusado a mentir (como diz um livro popular que o mitificou), mas foi um homem íntegro que animou suas tropas cavalgando entre as linhas de batalha britânicas avançadas e as americanas em retirada. Ele realmente deixou a presidência, criando o precedente de transferência pacífica de poder.
Lincoln realmente salvou o país e libertou os escravos; pode ter recorrido a medidas extremas, como suspender o habeas corpus, mas a Constituição permitia isso em “casos de rebelião”; ele o fez para que um país “do povo, pelo povo e para o povo não perecesse da Terra.” Os Estados Unidos realmente derrotaram dois inimigos fascistas ao mesmo tempo, foram tão humanos e justos que tanto o exército alemão quanto o Japão correram para se render aos americanos em vez de cair nas mãos das alternativas; os Estados Unidos, únicos a possuir a bomba atômica, poderiam ter dominado o mundo, mas deixaram os povos serem livres. Encararam os soviéticos em Berlim, no Vietnã, em Reykjavik e criaram uma “Pax Americana” global. Todd Beamer, passageiro de um dos aviões sequestrados no 11 de Setembro de 2001, realmente disse “Let’s roll” (gíria para "Vamos lá") e, com os outros heróis do voo 93, frustrou os terroristas fazendo-os errar o alvo. Enquanto isso, realmente foi assegurada justiça interna para os descendentes de escravos e agora podemos fazer o mesmo pelos não nascidos.
Chega de pseudoconservadores julgando os Estados Unidos como indignos de salvação, difamando nossos heróis como tiranos ou criminosos de guerra. Chega dos direitistas woke que justificam a escravidão para depois condenar os Estados Unidos por aboli-la. Foram doutrinados nas táticas revolucionárias culturais da esquerda e agora são seus fantoches. E estão errados.
John B. Carpenter é pastor da Igreja Batista Reformada da Aliança em Danville, Virgínia (EUA), autor do livro "Os Sete Pilares de uma Igreja Bíblica" (2022, em trad. livre) e doutor pela Escola Luterana de Teologia de Chicago.
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©2024 The Imaginative Conservative. Publicado com permissão. Original em inglês.
Conteúdo editado por: Eli Vieira