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Depois de foto "ousada" com freiras em Roma e vídeo com críticas à Igreja Católica, chef Henrique Fogaça pede perdão - no que é prontamente atendido.
Depois de foto “ousada” com freiras em Roma e vídeo com críticas à Igreja Católica, chef Henrique Fogaça pede perdão – no que é prontamente atendido.| Foto: Reprodução

O cozinheiro Henrique Fogaça, que também trabalha como jurado de um programa de culinária, publicou no fim de semana uma foto em suas redes sociais para tentar, de alguma forma, se fazer relevante no debate público. E, a julgar pela existência deste texto, ele conseguiu.

Na foto, Fogaça aparece vestindo uma camiseta na qual duas mulheres usando hábito de freira se beijam na boca. Por sobre a imagem “escandalosa”, lê-se a palavra “blasfêmia”. Seria apenas uma camiseta que um adolescente entediado veste durante um passeio em Roma se Fogaça não a tivesse usado para visitar o Vaticano e se não tivesse posado com a indumentária na companhia de duas freiras brasileiras, aparentemente fãs de programas de culinária.

Diante da reação negativa, Fogaça reagiu – como era de se esperar de uma peça de marketing. E, ao reagir à reação, ele acabou revelando que não é preciso muito enlevo espiritual e intelectual para preparar um hambúrguer rosadinho, servido ao som de rock pesado por um senhor tatuado que, não fosse careca, exibiria experientes cabelos brancos.

“Eu sou uma pessoa do bem”, disse Fogaça, defendendo-se e, para tanto, usando a linguagem de uma criança de cinco anos. Mas o que significa exatamente ser “do bem"? Seria o contrário de ser “do mal” - como as pessoas que reagiram negativamente à provocação do chef? Com vocês, o filósofo da moral Henrique Fogaça: “Falaram que eu sou desrespeitoso. Isso para mim são pessoas desonestas, que matam, roubam”.

Aventura espiritual no Instagram

Antes disso, um Fogaça-filósofo gravou vários stories no Instagram narrando sua aventura espiritual dentro do Vaticano. Na sequência de vídeos curtos, primeiro ele diz que “hoje é dia de se confessar aqui com o Papa (sic)” e depois pergunta: “Será que ele vai me redimir?” Já na saída de seu passeio pela Santa Sé, ele conta que se confessou e que foi absolvido, mas que o padre questionou a camiseta. “Aí eu falei ‘ô, Papa (sic), cê tá desatualizado. O mundo hoje tá assim’”. Sempre bom poder contar com pessoas esclarecidas para dizerem que o mundo está assim ou assado (com trocadilho).

Depois, possuído por aquele conhecimento histórico com o qual muitos de nós travamos contatos nas aulas do ensino médio, Fogaça reclama que muita gente “deixa todo o seu salário pra esse império milionário aqui”. Mas não antes de fazer um importante e humilde alerta: “Não me interprete mal. Só estou falando uma verdade da vida, certo?”.

Eis então que Fogaça tem sua epifania. “É bom vim (sic) nestes lugares pra poder pensar e ter uma reflexão”, diz. Logo em seguida, ele nos brinda com o produto de todo o pensamento e reflexão que lhe foi possível sob o teto da Capela Sistina, na forma de um enigma histórico/moral: “Há dois mil anos atrás não tinha freira gay?”, pergunta. Uma questão que contém mais equívocos conceituais do que um hambúrguer vegano.

Ao que consta, depois dessa pregação para as redes sociais, Fogaça foi abordado por duas freiras brasileiras que assistem ao programa de que ele faz parte, interpretando o papel de jurado “malvado”. Daí nasceu a foto tão ousada, tão provocativa, tão polêmica, tão controversa, tão herética – que teve de ser apagada. “Sou uma pessoa do bem, verdadeira e autêntica”, disse Fogaça, em defesa de si mesmo e novamente demonstrando que palavras não são mesmo o seu forte.

Houve também quem reclamasse das freiras que, de passeio por Roma, aparecem na foto, aparentemente ignorando a mensagem da camiseta/outdoor do cozinheiro. Aqui, prefiro dar voz ao colunista da Gazeta do Povo Francisco Razzo, que escreveu: “as duas irmãs dão exemplo de santidade cristã e firmeza na fé, inclusive dentro da Igreja de S. Pedro. Elas não representam valores modernos de tolerância ou liberdade de expressão, não estão nem aí para as sensibilidades contemporâneas e suas exigências de respeito a entidades abstratas. Elas ultrapassam tudo isso, pois representam o valor cristão de santidade, humildade e caridade. Ele, antes de ser um cozinheiro famoso, também é uma pessoa convidada a viver a ‘boa nova’”.

A festa das polêmicas religiosas

Fogaça chegou tarde à festa das polêmicas religiosas envolvendo a igreja católica. No longínquo ano de 1992, por exemplo, o fotógrafo italiano Oliviero Toscani chocou a sociedade italiana, predominantemente católica, ao estampar uma freira e um padre num beijo apaixonado para o catálogo das multicoloridas e hoje fora de moda roupas da Benetton.

Madonna, sempre desesperada para se manter relevante, apareceu em 2005 com seu então marido, Guy Ritchie, vestida de freira (e ele de Papa). Ela já tinha causado alguma revolta em 1989, quando lançou seu “herético” álbum Like a Prayer. Lady Gaga bebeu da mesma fonte. E Miley Cyrus foi pelo mesmo caminho num ensaio fotográfico recente.

Sobre Madonna, aliás, o presidente da Liga Católica dos Estados Unidos, Bill Donohue, disse à rede americana Fox News que a caricatura que a cantora insistia em fazer da religião fazia parte de “sua tentativa de evitar se tornar uma personalidade ultrapassada no mundo do entretenimento. Para ela e seus fãs, aparentemente zombar do catolicismo é a única coisa que nunca sai da moda”.

Fogaça talvez não seja muito versado em história, teologia e sociologia. Mas de moda e marketing ele aparentemente entende. Prova disso é eu ter escrito quase mil palavras para falar de uma foto na qual a única coisa sincera é mesmo é o sorriso de admiração ingênua das freiras.

Perdão

Na tarde de terça (1º.), Fogaça publicou outro vídeo, dessa vez pedindo desculpas “a toda a Igreja Católica e a todos os cristãos” que se sentiram ofendidos tanto com seus stories quanto com a foto.

Diante do que não há o que fazer senão perdoar.

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