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A americana Sharonell Fulton, que acolheu mais de 40 crianças em situação de vulnerabilidade nos últimos 25 anos. | Reprodução/Facebook/
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A americana Sharonell Fulton, que acolheu mais de 40 crianças em situação de vulnerabilidade nos últimos 25 anos.| Foto: Reprodução/Facebook/ Beckett

Wayne e Sean foram a resposta para as orações de uma menina chamada Brittany. Há 25 anos, quando tinha três anos de idade, Brittany via as crianças brincando no playground da Escola Católica Our Lady of Victory, em frente à casa da avó, Sharonell Fulton, na Filadélfia. Ela ansiava pela companhia de crianças. 

Brittany não conhecia os irmãos Wayne e Sean, mas a situação deles não era nada invejável. Eles viviam com o tio e a tia em uma casa em ruínas, onde o vício nas drogas e as brigas eram constantes. O ponto de ruptura veio quando o tio, de forma não intencional, jogou água fervendo sobre os meninos durante uma das brigas com a sua esposa. Depois de um vizinho ouvir os gritos e chamar a polícia, Wayne e Sean foram levados para o hospital com queimaduras de terceiro grau. Na época, eles tinham cinco e sete anos. Eram dois de doze irmãos, cuja mãe biológica enfrentava problemas com drogas e passava temporadas na prisão. 

Quando os rapazes saíram do hospital, eles foram encaminhados para a casa da avó de Brittany, pelos Serviços Sociais da Igreja Católica. Wayne ficou lá até os 19 anos. Sharonell nunca tentou adotá-los, e sempre incentivou a presença dos pais biológicos na vida dos meninos, inclusive organizando visitas não só deles, como dos meio-irmãos e outros familiares. Nos últimos anos, os pais eram convidados para os aniversários dos meninos na casa de Sharonell. 

“Ela acreditava que, como que tínhamos nossos pais, ela deveria ajudar da maneira que pudesse para mantermos um vínculo com eles”, disse Wayne a Andrea Picciotti-Bayer, da Associação Católica, numa entrevista para um breve amicus curiae, em virtude de um processo em curso contra a cidade de Filadélfia (Fulton et al. vs. Cidade da Philadelphia). 

“Mas, ao mesmo tempo, ela não deixaria que nada de mal nos acontecesse”. Mesmo quando os pais estavam limpos, os meninos sentiam que a casa de Sharonell era a sua casa. “Eu era feliz com a Meme”, disse Wayne, usando o apelido pelo qual como chamavam Sharonell. Hoje, aos trinta anos e poucos anos, ele se lembra do amor de Sharonell: “Ela não nos tratou de maneira diferente... O que era deles era nosso”.

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Wayne acabou frequentando a escola católica do outro lado da rua e, no sexto ano, foi para a Alemanha, representando a escola no Dia Mundial da Juventude, festival católico internacional que teve início quando João Paulo II era papa — um deleite para Meme e Wayne. Quando terminou o ensino médio, ele estudou em uma escola técnica católica e trabalha como técnico de climatização na mesma empresa desde que se formou, há doze anos. Ele credita sua trajetória à Sharonell e sua experiência em um lar estável e amoroso com ela.

“Olho para a minha vida e para as vidas dos meus outros irmãos, que não foram abrigados por outras famílias”, diz ele. “Acho que a minha vida é melhor por causa da experiência que recebi no acolhimento. Meme era como uma mãe para mim”. 

Wayne e o Sean não foram os únicos que Sharonell recebeu em casa, encaminhados pelos Serviços Sociais da Igreja Católica. Ela acolheu mais de 40 crianças nos últimos 25 anos. Quando Wayne era criança, cada vez que uma nova criança se juntava a eles, ele plantava uma árvore com Sharonell em frente à casa.

“Ela dizia que a árvore representava um novo crescimento, novas oportunidades”, diz Wayne. “Agora, quando visito a casa de Meme, vejo todas aquelas árvores. Penso na minha vida – ainda crescendo, ainda florescendo”. 

“Esses meninos viveram na minha casa durante toda sua infância, e eu os criei como se fossem meus, cuidando não apenas de seus ferimentos, mas de seus corações”, escreveu Sharonell recentemente. 

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A experiência dos irmãos com os Serviços Sociais da Igreja Católica permitiu que eles se desenvolvessem.

“Tudo o que passei, e que envolveu os Serviços Sociais da Igreja Católica, me deu muita esperança”, diz Wayne. “Todos os funcionários que nos ajudaram foram ótimos. Eles trazem para as crianças que serão acolhidas, e que precisam de sua ajuda, um sentimento positivo de respeito”. 

No início deste ano, entretanto, a cidade de Filadélfia decidiu deixar de trabalhar com o Serviços Sociais da Igreja. Sharonell, representada pelo Becket Fund for Religious Liberty, é a principal autora de um processo que visa lutar por crianças como Wayne e Sean. Ela diz que procurou ser um “porto seguro para crianças que sofreram abusos e traumas indescritíveis”. 

Estamos vivendo um momento de confusão e debate sobre algumas questões fundamentais, e temos de insistir em ter mais opções, e não menos, quando se trata de promover acolhimento e adoção de crianças. Se não tivermos opções, veremos mais discriminação contra pessoas que têm opiniões tradicionais. 

"Como mãe solteira e mulher negra, já tive alguma experiência com discriminação esses anos todos”, diz Sharonell. “Mas nunca tinha visto uma discriminação religiosa vingativa como esta, e sinto uma nova forma de preconceito ao ver a minha fé ser publicamente ridicularizada pelos políticos da Filadélfia”. 

Se houve um lado positivo no fato de Sharonell Fulton ter de levar a briga para o tribunal, foi que tivemos a oportunidade de saber o nome dela. Precisamos saber que há pessoas como ela, que fazem o árduo trabalho de estender o acolhimento a crianças que, de outra forma, não teriam a oportunidade de viver sua vida. 

A simples existência de Sharonell Fulton muda tudo – para uma criança, para os pais biológicos que tentam melhorar, e para todos nós. Seu testemunho nos desafia e nos impulsiona no sentido da esperança. Ela é uma inspiração e um convite para um exame de consciência. Ela é uma porta que se abre para o verdadeiro significado do amor – altruísmo em meio as dificuldades da vida. 

Kathryn Jean Lopez é pesquisadora sênior do National Review Institute e editora-geral da National Review. 

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Ana Peregrino
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