Durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), a notícia sobre a suposta “morte da Amazônia” causada pelas intensas chamas no bioma devido ao descuido por parte do então governo e de seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, espalhou-se internacionalmente. Meios de comunicação, artistas, políticos e ONGs endossavam a narrativa. A mudança de presidente não alterou a situação da Amazônia, pelo contrário. O mês de fevereiro registrou o maior número de queimadas no Brasil desde que os números começaram a ser medidos e divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 1999. Desde 2007, a Amazônia também não registrava um número tão alto de focos de incêndio para o mês de fevereiro. A única coisa que mudou foi o silêncio. Agora nem ONGs, nem artistas levantam a voz para defender a floresta.
Eleito tendo como bandeira, entre outras, a do meio ambiente, o petista enfrenta recordes de queimadas na Amazônia. Além dos dados expostos acima, não é a primeira vez que os números chamam a atenção. Em outubro de 2023, as queimadas na Amazônia tiveram alta de 60%. O governo Lula culpou o ex-presidente Bolsonaro, o vento e a seca pela situação.
Agora, ao ser questionado sobre o recorde de queimadas em fevereiro, o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) alegaram que os incêndios florestais, concentrados em Roraima, “são agravados pela estiagem prolongada, intensificada pela mudança do clima e por um dos El Niños mais fortes da história”.
O fenômeno El Niño refere-se ao aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial e que ocorre em intervalos irregulares de cinco a sete anos. Ele é o responsável por alterar a distribuição de umidade e as temperaturas em várias áreas do planeta. No Brasil, ele ocasiona secas prolongadas nas regiões Norte e Nordeste e chuvas intensas e volumosas no Sul.
A reportagem da Gazeta do Povo buscou, junto ao governo, informações sobre medidas de prevenção específicas para a região amazônica contra queimadas. Em resposta, o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente afirmaram que, desde janeiro, há 251 combatentes enviados pelo Ibama para a região, apoiados por quatro aeronaves. “Em 2024, o instituto contratou duas brigadas para atender exclusivamente a Terra Indígena Yanomami, dentro e fora da região”, diz a nota.
O Ibama também disse que instalou em Roraima um Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional (Ciman), que reúne mais de dez órgãos federais, para coordenar o combate e monitorar os incêndios florestais. No estado, a fumaça chegou a encobrir partes de Boa Vista e trechos da RR-206, rodovia estadual.
Na semana passada, uma comitiva de ministros - entre eles Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) - foram à capital roraimense para inaugurar um espaço de coordenação das ações na terra indígena Yanomami.
A situação é preocupante, um balanço do governo federal mostrou que o número de mortes de indígenas na reserva, a maior do tipo do País, aumentou em um ano apesar do decreto de emergência de saúde de Lula. Foram registradas 363 mortes em 2023, enquanto em 2022 foram registradas 343 mortes.
Mais dados
Apesar das alegações de que durante o governo de Jair Bolsonaro houve a maior concentração de focos de queimadas, os dados do INPE não sustentam essas informações. Durante a gestão, foram registrados recorde de queimadas apenas nos meses de setembro e outubro de 2020. Já no governo petista, foram registrados recorde de queimadas em todos os demais meses no período de 2003-2010, em abril de 2016 e em julho de 2018, durante a gestão de Michel Temer.
Os estados com mais queimadas registradas são Roraima (2817 focos), Mato Grosso (2817 focos) e Pará (927 focos); os com menos são Amapá (4 focos), Distrito Federal (6 focos) e Rio de Janeiro (14 focos).
Por outro lado, o Brasil lidera a lista de países da América do Sul com a maior quantidade de queimadas em 2024, com mais de 10.107 focos, perdendo apenas para a Venezuela que registrou 21 mil focos.
O silêncio das ONGs e artistas
Bem diferente dos anos em que Bolsonaro governou o país, agora com o atual mandatário grande parte das ONGs e dos artistas prefere ficar em silêncio diante do atual cenário com recorde de queimadas em fevereiro. E os poucos se manifestaram preferiram colocar a culpa nas mudanças climáticas.
A Gazeta do Povo entrou em contato com as ONGs Greenpeace, Imaflora e com o Instituto Socioambiental, para buscar informações sobre o assunto e, até o momento, não recebeu retorno.
Em sua página web, o Greenpeace publicou uma nota em que o seu porta-voz, Rômulo Batista, atribui a vários fatores o recorde de fogo observado no bioma neste início de ano, com destaque para a crise do clima e o aumento global das temperaturas.
“É difícil apontarmos um único fator para o aumento vertiginoso dos focos de queimadas na Amazônia e em Roraima em 2024, mas é preciso lembrar que, no ano passado, a crise climática foi classificada pelos cientistas como a principal causa da seca na região. Não por coincidência, acabamos de sair do ano mais quente registrado na História, 2023, e ainda enfrentamos efeitos intensos do fenômeno El Niño”, diz Batista.
Além dos fatores ambientais, Batista destaca que “o número alto de queimadas na Amazônia também pode estar relacionado com a paralisação nas ações de fiscalização e controle do Ibama, assim como com as licenças para queimadas em Roraima, concedidas pelo governo estadual durante o período de estiagem. Ainda é preciso considerar programas de prevenção a incêndio florestais e queimadas insuficientes, com poucas pessoas, recursos e materiais, o que se torna ainda mais grave num momento de crise climática, em que cientistas preveem um aumento tanto na quantidade, quanto intensidade de secas na Amazônia”, afirma Batista.
Por sua parte, o Instituto Socioambiental também realizou uma reportagem sobre as queimadas e a falta de água potável, e explicou as dificuldades das comunidades indígenas.
Em 2021, quando houve acusações a respeito da suposta má gestão de Bolsonaro para frear o aumento das queimadas na Amazônia, o Greenpeace Brasil reuniu mais de 30 artistas para lançar a Canção pra Amazônia, assinada pelo compositor Carlos Rennó e pelo cantor Nando Reis, como um “grito em defesa” da floresta. Dos artistas que participaram do projeto, nenhum se pronunciou até o momento sobre o aumento do número de queimadas no bioma, durante o atual governo.
Alguns parlamentares ironizaram em suas redes sociais o posicionamento dos artistas que antes criticavam o ex-chefe de Estado pelas queimadas e que agora preferem não se posicionar sobre o ocorrido. Os artistas internacionais como o ator americano Leonardo Di Caprio e ativistas ambientais como a sueca Greta Thunberg, também preferiram guardar silêncio apesar de terem criticado fortemente o então presidente Bolsonaro durante o seu governo.
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