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Para o professor Antony Mueller, nenhum país socialista jamais deu ou dará certo em termos políticos e sobretudo econômicos.
Para o professor Antony Mueller, nenhum país socialista jamais deu ou dará certo em termos políticos e sobretudo econômicos.| Foto: Reprodução

O socialismo promete acabar com as desigualdades sociais e garantir boas condições de vida para a população, mas não é isso que a história mostra. Países como Cuba, Venezuela e União Soviética alcançaram níveis extremos de pobreza e baixo desenvolvimento econômico.

Nada disso acontece por acaso, ou porque o "comunismo foi deturpado" nesses países. A explicação está na própria composição do sistema socialista, assegura Antony P. Mueller, professor de Economia na Universidade Federal de Sergipe e doutor pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha.

"O socialismo não é benéfico para a classe trabalhadora. Os trabalhadores são as maiores vítimas do socialismo", afirma. Segundo ele, o socialismo opera na criação de uma classe privilegiada e espalha desigualdade de pobreza na população.

Como o socialismo representa uma barreira ao desenvolvimento econômico? Por que os países socialistas apresentam pior desempenho econômico?

A definição correta do socialismo é a abolição do direito à propriedade privada dos meios de produção. A propriedade privada para bens de consumo básicos ainda pode existir. No entanto, é a propriedade dos meios de produção que conta. Quando o governo extingue a propriedade privada dos meios de produção, também elimina os preços e o papel do lucro e da perda. Dessa forma, mesmo que consideremos um ditador socialista benevolente, é impossível alocar os fatores de produção ao seu melhor uso econômico.

Os planejadores econômicos socialistas operam no escuro. Sem preços, eles não conhecem a relação de escassez dos recursos. Juntamente com a abolição dos lucros e perdas, eles não sabem se o rendimento do projeto de investimento é positivo ou negativo. Sob o socialismo, ocorrem alocações sistemáticas. Em um sistema de mercado com propriedade privada, os empresários devem se afastar das atividades deficitárias. No capitalismo, alocações errôneas também acontecem, mas elas são limitadas a projetos individuais, em contraste com o socialismo, no qual a má alocação é sistêmica.

Pode-se acrescentar também que, em nossa economia hoje no Brasil, muitas alocações erradas acontecem porque não temos uma economia de livre mercado, mas um capitalismo político ou uma espécie de capitalismo de Estado. Quanto mais uma economia é capitalista, livre da intervenção do Estado, menos alocações erradas. Quanto mais nos movemos para o socialismo, mais alocações erradas surgem. Portanto, o socialismo dificulta o desenvolvimento econômico e bloqueia o progresso econômico. O socialismo não é benéfico para a classe trabalhadora. Os trabalhadores são as maiores vítimas do socialismo.

Essa má alocação de recursos também ocorre em países que adotam um governo de esquerda menos rígido, como os países social democratas?

Sim, isso acontece. O socialismo rastejante traz consigo uma deterioração progressiva da economia por causa do aumento das alocações erradas. Desde o final da década de 1960 e da década de 1970, quando o Estado de bem-estar social iniciou sua expansão, a taxa de produtividade diminuiu em todos os países industrializados, nos Estados Unidos, na Alemanha e na França e nos países nórdicos da Europa.

A queda foi progressiva, mas ao longo das décadas tornou-se significativo. Os salários estão estagnados por causa do Estado de bem-estar social. Esse é o triste resultado.

Quais são os maiores fracassos dos países socialistas em relação à economia?

Alguém poderia ser mais tolerante com o socialismo, se esse sistema apenas reduzisse o nível material de bem-estar, mas não é o caso. Como não há sistema de preços, a adaptação ativa e voluntária à escassez, como acontece no capitalismo, não se dá no socialismo. Dessa forma, o sistema socialista precisa de uma ordem hierárquica de comando.

Enquanto sob o capitalismo os custos da decisão econômica equivocada fazem com que o indivíduo evite tais erros, no socialismo há sanções.

A realidade do socialismo - e temos casos em todos os grandes continentes, da Europa, América, Ásia e África - mostra que o socialismo vem acompanhado de ditadura política e todo tipo de controle social brutal. O socialismo torna os países não apenas mais pobres, mas também menos livres.

Há algum exemplo de que o socialismo possa existir sem uma ditadura?

Como países explicitamente socialistas, temos hoje apenas Cuba e a Coreia do Norte. Quanto a estes dois, não há dúvida de que as pessoas comuns são extremamente pobres e vivem sob severa repressão. Ambos os países têm uma elite comunista que vive como rei. O terror na União Soviética era pavoroso. Milhões de pessoas morreram. A onda de terror e a eliminação sistemática de pessoas que o regime classificou como perigosas para a causa comunista foram cruéis: padres, lojistas, pequenos agricultores, intelectuais. O terror foi o princípio do governo já sob Lênin. Na China, aconteceu o mesmo.

Atualmente, no entanto, a China é um caso estranho, porque liberou sua economia e manteve, ao mesmo tempo, um governo socialista. Assim, a economia não é tão distorcida como na Coreia do Norte e em Cuba, ou como na União Soviética, mas a supressão está igualmente em vigor e o terror na China está realmente em ascensão. O plano do Partido Comunista da China é ter o controle total sobre o povo. Eles usam vigilância eletrônica e "pontos de crédito social". Ainda acho que esse projeto falhará terrivelmente. É impossível combinar progresso econômico e repressão política. A China fracassará: ou o Partido Comunista ou a economia chinesa entrará em colapso.

Existem exemplos de países socialistas que tiveram sucesso econômico?

Nem um único Estado socialista nesta terra foi economicamente bem-sucedido para fornecer bens para as massas. Em todo o Universo não haverá socialismo de sucesso. Os exemplos da União Soviética e seus satélites mostraram isso, e Cuba e Coreia do Norte conseguiram até mostrar que o socialismo traz consigo a criação de uma classe privilegiada composta de políticos e funcionários públicos de alto escalão e militares. A única empresa que trabalha sob o socialismo é a militar, porque é uma máquina que funciona dando e seguindo ordens e aplicando punições severas, e porque está isenta de levar em conta o lucro e o prejuízo comercial.

Quais são os pontos em comum entre os países que abandonam o socialismo e adotam políticas capitalistas? Existe uma forma"padrão" de uma economia deixar de ser socialista e se tornar capitalista?

Sob o socialismo, há um conflito permanente entre o partido único governante e a população. Aqueles que estão no topo do partido do Estado têm privilégios que perderiam sob o capitalismo. Portanto, no sistema socialista eles são economicamente disfuncionais e podem continuar a existir durante um período muito longo, até mesmo por décadas.

Como as condições de vida não melhoram e, na verdade, pioram em comparação com o mundo capitalista, mais e mais pessoas ficam insatisfeitas com o sistema. Dissidentes crescem. No entanto, não é fácil fazer uma mudança, porque todo o sistema socialista é construído sobre uma estrutura de poder massiva. Não existe uma regra geral de transição porque depende não apenas do país específico, mas também do seu ambiente internacional.

Assim, no caso de Cuba, deve-se levar em conta o papel dos Estados Unidos. No caso da Europa Oriental, a existência de uma Europa Ocidental livre que foi fundamental. Não se pode analisar a transição da Alemanha Oriental comunista sem levar em conta o papel da Alemanha Ocidental. O mesmo acontecerá com a Coreia do Norte. Alguns países cometeram grandes erros de transição, como a Rússia, cuja liderança foi enganada por conselheiros estrangeiros que colocaram seus próprios interesses à frente dos interesses do povo. A transição foi muito melhor na Polônia e em outros países da Europa Oriental. Os países bálticos, Estônia, Lituânia e Letônia, por exemplo, alcançaram rapidamente o status de países de alta renda.

O senhor afirma que o socialismo traz consigo a criação de uma classe privilegiada. Mas o discurso da esquerda é de que o socialismo provê aos pobres e elimina desigualdades sociais. Por que isso não é verdade? Se não os pobres, a quem o socialismo realmente está servindo?

Essa é provavelmente a maior ilusão daqueles que não sabem como o socialismo funciona. Há socialistas que acreditam que o socialismo é bom para os pobres. Mas a experiência mostra que é diferente. Há igualdade de pobreza para as massas sob o socialismo.

Em contraste, mesmo as pessoas pobres nos países industrializados avançados vivem melhor do que quase todo mundo fora da classe privilegiada nos países socialistas.

Mesmo se houvesse um regime socialista que quisesse ajudar os pobres, o socialismo seria o caminho errado. Basta olhar o que acontece na Venezuela. Para ajudar os pobres, o caminho não é tornar os ricos também pobres. O caminho para ajudar os pobres é tornar os pobres mais ricos. Teoria e história mostram claramente que, para que isso aconteça, o capitalismo de livre mercado é o único caminho.

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