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Enquanto as militantes voltam-se para os cargos executivos, esquecem-se de olhar para essas vidas masculinas que enfrentam trabalhos pesados com baixíssima remuneração
Enquanto as militantes voltam-se para os cargos executivos, esquecem-se de olhar para essas vidas masculinas que enfrentam trabalhos pesados com baixíssima remuneração| Foto: Pixabay

O conceito de "patriarcado" é o principal ponto de divergência entre conservadores e progressistas no debate atual das relações entre o homem e a mulher. Para as feministas, existe um sistema de supremacia masculina que oprime as mulheres, atribuindo aos homens mais privilégios, autoridade e controle na sociedade. Elas apoiam-se em dados estatísticos, como a predominância da propriedade e riqueza entre os homens, enquanto os trabalhos não remunerados são mais visíveis entre as mulheres. Raramente se testemunha um homem deixando sua vida profissional para cuidar exclusivamente do lar ou recusando uma promoção para usufruir de mais tempo com os filhos, o que é sinal, para as ativistas, da realidade desse sistema de dominação.

Já os conservadores defendem que essas decisões são oriundas, primordialmente, da natureza humana. Ainda que eles admitam haver exceções, consideram-nas acidentais, não essenciais. Como exemplo, a maioria das mulheres prefere carreiras estáveis e dedicadas ao cuidado, o que explica a predominância masculina em ocupações de maior instabilidade ou risco, como na Presidência da República ou na Polícia Militar, em contraste com os papéis de pedagogos ou enfermeiros, que são mais ocupados por mulheres. Não há nenhum mal nisso, e ninguém precisa mudar o rumo natural das coisas, pois o problema só existe quando os seres humanos confundem "inclinação" com "limitação". Desde a antiguidade há mulheres filosóficas e heroicas como Hipácia de Alexandria e Joana D'arc. Acontece que elas sempre foram minoria e, quaisquer restrições que o sexo feminino tenha enfrentado, decorreram de um acidente, uma radicalização dos princípios naturais, não da essência do patriarcado.

Neste conexto, os conservadores partem de um dado inconteste da realidade: uma proporção ínfima de homens ocupa cargos altamente privilegiados tais quais as feministas almejam, e a maior parte dos seres humanos que enfrenta trabalhos perigosos é composta de homens. Eles formam a maioria dos operadores de máquinas pesadas, cujos riscos associados a acidentes de trabalho são enormes. Assim também dos mineradores que se expõem a substâncias tóxicas, desmoronamentos e explosões; dos bombeiros que enfrentam incêndios e complexas operações de resgate; dos policias que arriscam suas vidas combatendo criminosos armados, etc. Enquanto as militantes voltam-se para os cargos executivos, esquecem-se de olhar para essas vidas masculinas que enfrentam trabalhos pesados com baixíssima remuneração, e pior ainda, compõem o grupo de seres humanos que mais morre em guerras. Não seria um raciocínio falacioso pegar uma pequena amostra dos sujeitos mais bem-sucedidos e utilizá-la como representação de toda a estrutura da sociedade patriarcal?

Além disso, se há uma dominação masculina nos cargos mais desejados, por que considerar que a sua razão decorre necessariamente do poder político? Será que os lutadores de MMA não ganhariam facilmente das mulheres por pura competência individual? Inclusive ao explorar as tendências dos sexos, os psicólogos que não são politicamente enviesados defendem que as relações fundamentais da nossa sociedade são feitas simplesmente por competência, e, como diz Jordan Peterson, somente quando uma estrutura degenera-se em tirania é que se baseiam no exercício do poder. Um exemplo disso é o panorama político brasileiro, onde, entre 2016 e 2022, apenas 33% das candidaturas foram femininas, e somente 15% resultaram em eleições bem-sucedidas. Isso não se deve à existência de gangues perigosas que coagem a população a eleger candidatos masculinos. Pelo contrário, existe um incentivo incisivo à participação das mulheres na política, com a reserva de 30% do Fundo Eleitoral para candidaturas femininas, de acordo com a Emenda Constitucional 117 (oriunda da PEC 18/21). Mesmo assim, por escolha natural, a maioria das mulheres não busca esses cargos.

A conclusão evidente é que um intelectual honesto não pode inferir de números pequenos uma opressão. Ele precisa investigar outras causas, tais como tendências biológicas e psicológicas, antes de supor causas arbitrárias. Tanto é assim que pessoas comuns (sem motivações ideológicas) contratam profissionais com base no currículo e competência, com raras exceções, como a escolha de ginecologistas, baseada em prefências que beneficiam o sexo biológico feminino. Mas em linhas gerais, presidentes, senadores, advogados, etc. são escolhidos pela competência, não por serem mulheres ou homens. De modo que essa argumentação de que os homens estão oprimindo as mulheres ainda hoje é extremamente injusta, além de perigosa para a saúde e harmonia da nossa sociedade.

Aqui lembro que o psiquiatra Carl Jung descrevia a necessidade da presença do feminino e do masculino dentro de cada indivíduo, simbolizados pelo animus e pela anima. O animus representa as características masculinas, como racionalidade, lógica, assertividade, objetividade e autoridade, enquanto a anima representa as características femininas, como intuição, emoção, sensibilidade e criatividade. Sendo assim, quando pensamos a totalidade do ser humano, nós precisamos de ambos os polos em níveis diferentes. E por que estamos querendo que as mulheres sejam mais masculinas do que naturalmente são? A obra de Jung mostra que os homens tendem a manifestar mais características do animus, o que pode levá-los a escolher profissões de maior risco, enquanto as mulheres expressam mais características da anima, optando por papéis sociais mais seguros. Como maiores riscos costumam levar a recompensas financeiras mais substanciais em caso de sucesso, esta é a razão natural para os homens ocuparem o topo da pirâmide financeira, sem nenhum tipo de opressão patriarcal. Entendendo essa psicologia, deixamos de lado a "necessidade" de alterar o funcionamento das coisas.

Aliás, é preciso estar vivendo certa artificialidade para desejá-la. Tanto é que as revoluções sexuais só surgiram quando a sociedade desfrutou de uma relativa segurança, sem enfrentar visceralmente as calamidades da existência. Já não há alta taxa de mortalidade infantil, doenças sem intervenção medicamentosa, ameaças constantes de tribos estranhas, animais ferozes e desastres naturais inesperados. Quando havia todas essas tensões, os homens e as mulheres dividiam tarefas de forma hamoniosa, mais por necessidade do que por opressão. Até os papéis sociais não eram caricatos, excluindo qualquer diversidade e singularidade. Pelo contrário, uma das maiores mentiras ditas pelos progressistas é que o Conservadorismo é uma teoria política que condena a diversidade.

Basta mergulhar na obra de Russell Kirk, um dos mais influentes pensadores conservadores do século XX, para ter a certeza a partir do quinto dos 'Dez Princípios Conservadores' que ele formulou. Nesse princípio, Kirk diz o seguinte: “Os conservadores prestam atenção ao princípio da variedade. Sentem afeição pela complexidade prolífera das instituições sociais há muito estabelecidas e seus modos de vida, em contraposição à uniformidade estreita e ao igualitarismo sufocante dos sistemas radicais. No entanto, o conservadorismo entende que para a preservação de uma diversidade saudável devem remanescer ordens e classes, diferenças na condição material, e muitos tipos de diversidade. As únicas formas reais de igualdade são a do Juízo Final e a perante uma corte de justiça”.

A impressão de que os conservadores rejeitam a diversidade é, de fato, consequência de uma narrativa criada pelos progressitas que, ironicamente, nega às maiorias o direito sobre sua própria identidade. Esse direito é concedido de forma monopólica a uma minoria que, embora fosse estatisticamente insignificante, cresce dia após dia por causa da doutrinação política. Essa situação leva os homens comuns à repressão de sua própria identidade com receio de "magoar" essa minoria. Assim, na moda atual, a "diversidade" significa todo mundo pensar a mesma coisa; e o relativismo, em autocontradição, transforma-se em um dogmatismo absoluto, tornando-se a única visão aceitável do mundo. Tudo o que não se encaixa nesse paradigma – desde Moisés e Cristo, Platão e Aristóteles, até Agostinho e Aquino – é condenado como fundamentalismo, fanatismo religioso, radicalismo político e retrocesso social. Em resumo, a suposta intenção de derrubar as barreiras do preconceito constrói muralhas de exclusão ainda mais poderosas, tornando o relativismo um dos dogmatismos mais opressivos, pois ele julga e condena sob a ilusão de que está isento de julgamento.

No contexto do feminismo, observamos uma dinâmica similar. Em muitos círculos de ativismo, apenas as mulheres que adotam papéis tradicionalmente masculinos e pensamento revolucionário são valorizadas, como exemplificado no filme 'Barbie'. A personagem Glória, inicialmente caracterizada por suas virtudes maternas, só passa a ser reconhecida quando adota um discurso de empoderamento. Ao longo de anos, ela busca a aprovação de sua filha por meio de atitudes tipicamente femininas, mas só obtém respeito quando profere um discurso político tipicamente masculino. Essa dinâmica sugere que o feminismo contemporâneo insinua que a maternidade e o cuidado doméstico não garantem o respeito de ninguém; as mulheres não devem se submeter aos rótulos tradicionais dos homens, mas devem abraçar a agenda de empoderamento da pós-modernidade. Elas podem adotar uma variedade de correntes filosóficas, como o pós-estruturalismo, o relativismo, o feminismo e o existencialismo, mas não filosofias tradicionais, como o Platonismo, Aristotelismo e Cristianismo. No entanto, será mesmo que o pensamento e o modo de vida ocidental sempre oprimiu as mulheres?

No livro 'Feminismo: Perversão e Subversão', Ana Campagnolo afirma que esta nem sempre foi a resposta do movimento feminista. A autora ressalta que a primeira grande revolucionária, Mary Wollstonecraft, via as mulheres como envoltas em uma casca social protetora, e não necessariamente opressora. O problema é que viver uma vida excessivamente confortável não incentiva ninguém, segundo Wollstonecraft, ao desenvolvimento de virtudes. Pelo contrário, a ausência de desafios resulta em habilidades medíocres e desinteresse por temas profundos. Quem nunca ouviu aquele provérbio oriental: tempos difíceis produzem pessoas fortes, que por sua vez geram tempos fáceis, culminando em pessoas fracas que, consequentemente, criam tempos difíceis novamente?

Historicamente, Wollstonecraft observava que as mulheres burguesas estariam nesta condição de pessoas fracas, oriundas de tempos fáceis, pois viviam em condições mais confortáveis do que os homens. Ela escreveu que as moças eram tão mimadas quanto os nobres, pois baseados em algumas premissas, como a da fragilidade física feminina e do dever masculino de proteção da prole, os homens burgueses mantinham suas esposas em casa, desobrigadas de qualquer serviço braçal ou responsabildiades financeiras. Sendo que a autora defende que a dificuldade e a necessidade é que motivam o desenvolvimento de virtudes e inovações. Portanto, Mary acreditava que, para o progresso das mulheres, era necessário exigir delas o mesmo que se exigia dos homens. Contudo, a questão que eu coloco é se, diante da atual trajetória do movimento feminista, em vez de desenvolver virtudes femininas, não estamos destruindo a própria essência da feminilidade.

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