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Um número relativamente pequeno de players (Facebook, Twitter, Google, etc.) conquistou imenso poder para determinar quais vozes podem ser ouvidas através de normas comunitárias e constantes mudanças nos (nebulosos) algoritmos | Pixabay
Um número relativamente pequeno de players (Facebook, Twitter, Google, etc.) conquistou imenso poder para determinar quais vozes podem ser ouvidas através de normas comunitárias e constantes mudanças nos (nebulosos) algoritmos| Foto: Pixabay

Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais evidente que a esperança utópica dos primeiros proponentes da internet, assim como a de entusiastas de projetos semelhantes, resultou, em alguns casos, em reviravoltas surpreendentes. Uma das alegações dos pioneiros da internet é que a World Wide Web ajudaria a conectar diversas comunidades e democratizar a cultura.

De certa forma, as mídias sociais cumpriram essa promessa. Agora, todos podem ter uma plataforma aberta a pessoas no mundo inteiro. O formato simples das redes sociais modernas é muito mais acessível do que a programação HTML. Houve uma proliferação de variedades online de simulacros de comunidades. 

No entanto, o crescimento das plataformas de redes sociais também levou à criação de alguns nós centralizados. Um número relativamente pequeno de players (Facebook, Twitter, Google, etc.) conquistou imenso poder para determinar quais vozes podem ser ouvidas através de normas comunitárias e constantes mudanças nos (nebulosos) algoritmos. Essas empresas construíram atraentes “jardins murados” e fingem que tais zonas seriam a praça pública. 

Nos últimos meses, essa pretensão à universalidade tornou-se cada vez menos plausível. Em parte, como reação ao movimento populista em curso, as empresas de mídias sociais adotaram uma abordagem muito mais agressiva para remover usuários da plataforma. 

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O fato de as normas comunitárias não serem aplicadas de maneira uniforme em todo o espectro ideológico só aumenta o poder quase editorial dessas plataformas. O poder dessas normas pode ser comprovado pela constatação de considerável energia política ser gasta em batalhas para definir quem pode ter voz nas plataformas. 

As guerras que costumavam acontecer em fóruns de discussão e blogs em toda a internet foram canalizadas para alguns poucos lugares, dando aos moderadores desses lugares crescente poder. Agora, a suposta praça pública digital mais parece uma sala de aula de primeira série, ecoando gritos estridentes de “Minha vez de falar!” (Que algumas empresas de mídia tenham empreendido esforços para excluir das plataformas organizações de mídia desonestas é outro sinal de como a elite atual pode usar o cenário digital para proteger o seu próprio poder.) 

É claro que a caça a cabeças nas redes sociais não se limita a expulsar alguns indesejados da plataforma; muitas vezes envolve atacar as pessoas na vida real. Como grande parte da mídia gasta uma quantidade excessiva de tempo no Twitter, e como esta classe está particularmente atenta a todos os sinais de seu grupo, a plataforma se transformou num campo de batalha para aqueles que controlam (ou querem controlar) a cultura, desde cima. 

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Seguir a mídia no Twitter é ver uma negociação em tempo real dos limites do debate público, que posteriormente será reforçada pela cobertura da imprensa, críticas culturais, editoriais etc. 

A esfera da mídia nessas plataformas costuma ser uma arena sangrenta. Publicações são denunciadas e carreiras são torpedeadas. Os críticos da excomunhão das redes sociais às vezes citam a “máfia do Twitter”, e pode haver mesmo um elemento da mentalidade mafiosa de achaque. No entanto, muitas vezes essas campanhas mediáticas não surgem de baixo para cima. 

Ao contrário, campanhas de pressão na mídia são frequentemente comandadas por pessoas que já dispõem de plataformas significativas com a finalidade de defender uma determinada causa. Os principais influenciadores escolhem alvos para os seus seguidores atacarem, compartilham mensagens que atacam o objeto de ódio e colaboram entre si para exagerar determinada mensagem. 

Por exemplo, quando Steve Bannon teve seu convite para o Festival da New Yorker cancelado no início deste ano, celebridades e escritores de alto nível lideraram a campanha para expulsá-lo da plataforma. Portanto, quando rescindiu o convite de Bannon, o editor da New Yorker David Remnick estava menos preocupado em ceder ao apelo das massas online, e mais em cooperar com uma facção da elite midiática que se opunha a dar um fórum público a Bannon. (Parte desta facção parece incluir funcionários da própria New Yorker.) 

Às vezes, os protestos nas redes sociais podem ser mais pretexto do que causa para um disparo. O programa da Megyn Kelly na NBC foi cancelado depois de ela ter feito alguns comentários controversos, mas há muitas razões para atribuir esse desfecho a outros problemas de longa data. 

Durante meses, o programa de Kelly foi desmoralizado por histórias sobre a desilusão da NBC com os índices de audiência, e era possível ler nas entrelinhas de boa parte da cobertura da imprensa que ela tinha alguns inimigos dentro da própria NBC. A reação após os comentários de Kelly (alguns dos quais foram alimentados por seus colegas na rede) foi uma desculpa conveniente para a sua saída, mas há evidência de que não foi a causa principal. 

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Isso não quer dizer que a cultura da internet em 2018 seja puramente uma questão de poder de cima-para-baixo. Campanhas orgânicas de baixo para cima ainda acontecem. Também é preciso considerar que a dinâmica atual das redes sociais aumenta o poder da classe midiática intermediária, já que promove uma consciência de classe entre os jornalistas e permite que editores de nível médio cruzem linhas institucionais. 

A negociação pública de reputações também pode ajudar a estimular a conformidade ideológica entre as instituições (como indica o fenômeno do “Grande Despertar”); mesmo que a mídia possa dar às suas fileiras de combatentes um veículo que faça oposição aos imperativos de editores poderosos, o ônus do policiamento entre pares pode ser muito pesado. 

Além disso, os mais altos escalões das instituições de mídia sabem que o escrutínio do trabalho de colegas deixará de ser feito apenas na mesa do bar. Em vez disso, ele será transmitido pela internet, com desdobramentos a cada segundo. O receio do constrangimento nas mídias sociais pode levar as grandes instituições a demitir alguém por uma única infração. (Por outro lado, a vontade das organizações de demitir um funcionário antes de qualquer sinal de boicote pode ser indício de que elas estão menos preocupadas com o comportamento do consumidor e mais preocupadas com a opinião de seus pares.) 

Em todo o caso, pelo menos algumas batalhas online podem ser vistas não como uma manifestação do “povo”, mas como membros da elite entrincheirada falando em nome do “povo” para atingir alguns de seus rivais dentro da própria elite, ou aqueles que ousam aspirar aos corredores do poder. A história romana oferece muitos exemplos de como os poderosos usaram a demagogia para despertar multidões para os seus próprios objetivos. A nova ordem do Vale do Silício pode acabar não fugindo à regra da história (como muitos utópicos fantasiam), mas, em vez disso, repeti-la em formato digital. 

Fred Bauer é escritor da Nova Inglaterra. O seu trabalho foi publicado em inúmeras publicações, incluindo The Weekly Standard e The Daily Caller. Ele também escreve em seu blog em “A Certain Enthusiasm”

Tradução: Ana Peregrino

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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