• Carregando...
Alejandro Cao de Benos (esq) em um evento da KFA sobre “mentiras e verdades da Coreia do Norte”
Alejandro Cao de Benos (esq) em um evento da KFA sobre “mentiras e verdades da Coreia do Norte”| Foto: Reprodução/Facebook

Muito, ou quase tudo no fio condutor da incrível história do cozinheiro e do traficante de drogas que enganaram a Coreia do Norte, exibida no documentário “The Mole” (“O Infiltrado”) da BBC, tem a ver com as ligações do governo de Pyongyang e a Korea Friendship Association (KFA), uma entidade que tem ramificações em vários países do mundo – Brasil inclusive – e que na teoria se presta a mostrar a realidade da Coreia do Norte para o mundo. Na prática, porém, o trabalho de seu fundador, o aristocrata espanhol Alejandro Cao de Benós, pode ser outro bem menos elogioso.

Em alguns pontos, a Associação de Amizade com a Coréia do Norte lembra a promessa de atuação dos Institutos Confúcio, ligados ao governo chinês. Com a premissa de divulgar a cultura e a história da península, a KFA conta com participantes de 120 países. A associação afirma receber informações oficiais de Pyongyang e garante ter contato com todas as autoridades da Coreia do Norte. Graças a esse acesso facilitado, a KFA afirma trabalhar em exposições públicas de livros e músicas norte-coreanas, consultoria em assuntos diplomáticos e aproximar empresas e pessoas interessadas na Coreia do Norte. E é justamente este último ponto que é exposto pelo filme da BBC.

No decorrer do documentário, o espanhol conhecido como o “Guardião da Coreia do Norte” e descrito como um animador de torcida entre aqueles que enxergam no regime de Kim Jong Un o paraíso na Terra é retratado como alguém intimamente ligado ao governo central da Coreia do Norte. E essa ligação íntima se torna explícita quando Cao de Benós se vê diante de um potencial investidor disposto a colocar pelo menos 50 milhões de euros em negócios no país asiático. “Tenho contatos diretos com Kim Jong Un. Então, se necessário, eu posso me reportar diretamente à autoridade máxima no país, ao nosso grande líder Kim Jong Un”, afirma, enfático.

Na sequência, ele explica que por causa das fortes sanções impostas pelas Nações Unidas e reforçadas pelos Estados Unidos, “nós temos uma forma paralela de fazer as coisas. Eles seguem as sanções da ONU na frente da TV, mas na verdade eles fazem as coisas de outro jeito. Nossa vantagem é que a Coreia do Norte é o único país que não precisa seguir nenhuma regra, vinda de ninguém. Nós podemos fazer coisas que ninguém mais pode fazer”, como drogas e armas.

O documentário segue mostrando que estes seriam os principais produtos de uma fábrica a ser construída pelo investidor em uma ilha na capital de Uganda. Um contrato foi assinado, mas o negócio não chegou a ser concretizado porque o espião foi retirado de campo quando as cobranças pelo dinheiro se intensificaram. Cao de Benós sabia do negócio, e quando a ele foi revelado que Ulrich Larsen, o cozinheiro que chegou a ser nomeado delegado da KFA para a Escandinávia, era na verdade um espião infiltrado, sua atitude foi dizer que tudo o que ele fez foi uma encenação.

No Brasil

A KFA-Brasil existe desde 2005, e não conta com uma sede física no país. Mesmo assim, tem delegados regionais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Sergipe. A associação garante que não recebe financiamento da KFA central, e que todas as atividades realizadas no país são custeadas com financiamento coletivo.

A filiação é feita através do site oficial da KFA, e não há nenhum processo de seleção. A associação também garante que ninguém precisa jurar lealdade aos líderes da Coreia do Norte, basta demonstrar aptidão para a área e conhecimento sobre o país asiático.

A agenda de atividades está fechada por conta da pandemia, e só deve ser retomada em meados de 2021. Entre as atividades anteriores, destacadas pela KFA -Brasil em email enviado à Gazeta do Povo, estão a participação em eventos da embaixada da Coreia do Norte em Brasília e a colaboração como voluntários em apoio à delegação norte-coreana nas Olimpíadas do Rio em 2016.

Sobre o conteúdo mostrado no documentário da BBC, a KFA-Brasil afirmou que existem problemas “com a questão do que é fato e do que é movido oportunamente com o intuito de gerar cenários vexatórios para nossa associação.” A KFA-Brasil classificou de injustas as sanções aplicadas pela ONU contra a Coreia do Norte, mas afirmou que “em momento algum a KFA-Brasil trabalhou para driblá-las. Não é nossa missão e nunca nos foi requisitada tal coisa.”

Sobre as atividades do fundador e presidente da KFA mostradas em “The Mole”, o braço brasileiro da associação afirmou: “acreditamos que Alejandro Cao de Benós tenha sido enganado por um membro que passou 10 anos no grupo para dizer que encontrou algo de errado e que se vendeu com a ideia de expor a RPDC à todo custo. O país é soberano e responde por si. A KFA seguirá com seu trabalho justo e agregador, pois esta não é a primeira e nem será a última tentativa de minar os nossos esforços.”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]