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Versão irônica do jogo clássico provoca a ira dos socialistas ao misturar os ideias de Marx com causas progressistas como o veganismo.
Versão irônica do jogo clássico provoca a ira dos socialistas ao misturar os ideias de Marx com causas progressistas como o veganismo.| Foto: Divulgação

Em vez de começar com $200 para caminhar pelo tabuleiro investindo em propriedades e participações em empresas, o jogador começa o jogo sem dinheiro nenhum. Na sequência das rodadas, recebe $50 como ajuda de custo. Ele não compra nada: participa de projetos coletivos. Se não tiver dinheiro, utiliza um fundo comunitário, formado por $1918. Os jogadores podem também enviar dinheiro para o fundo – se ele ficar zerado, todos perdem a partida. Os avatares de cada jogador são peças vermelhas em forma de gramofone e televisão antiga.

Esse é o Monopoly Socialism, o jogo que a fabricante americana Hasbro lançou no ano passado e que ironiza o estilo de vida nos países socialistas. O jogo não havia gerado repercussão alguma até semana passada, quando Nick Kapur, professor de história da Universidade Rutgers, publicou uma sequência de tuítes alegando que o jogo não explica o socialismo, e cita práticas que mais parecem vindas da filantropia praticada por bilionários.

“Há também várias referências a comida saudável e veganismo, apesar de isso não ter qualquer conexão com o socialismo, aparentemente porque o que essas coisas têm em comum é o fato de serem coisas odiosas e fáceis de se tirar sarro”, criticou o professor. Entre as cartas do jogo, há uma que diz: “Todos adoram os biscoitos de tofu que você fez em homenagem ao aniversário de Karl Marx”.

Ted Cruz, senador pelo Texas, respondeu com sua própria sequência de tuítes, sugerindo versões alternativas do jogo: “Poderíamos fazer a edição Venezuela: começando (em 1950) como o maior PIB per capita do mundo: terminando passando fome nas ruas”.

Individual x coletivo

O jogo é irônico desde a capa, que traz o slogan “Vencer é para capitalistas”. A embalagem informa: “Essa edição tem jogadores se movendo ao redor do tabuleiro e contribuindo para projetos comunitários... a não ser que consigam roubar projetos para avançar”. O texto também orienta: “Contribua com o fundo comunitário... a não ser que você prefira esvaziá-lo. Pense no que é melhor para o grupo... a não ser que você queira esquecer tudo isso e fazer o que precisa”.

A mensagem e as regras deixam claro que, para os criadores do jogo, alcançar objetivos comuns é uma meta inconciliável com ambições individuais.

O curioso é que, quando surgiu, em 1904, o Monopoly – que então se chamava Landlord's Game – criticava o capitalismo. Desenvolvido por Elizabeth Magie (1866-1948), o jogo tinha por objetivo demonstrar que o sistema de alugueis pretendia conter o potencial financeiro das classes populares. Desenhado à mão, o jogo circulou pelos Estados Unidos.

Diferentes versões surgiram, com nomes variados como Monopoly, Finance e Auction. Elizabeth Magie acabaria vendendo sua patente em 1935, por US$ 500, para a empresa Parker Brothers. A companhia acrescentou peças, como as cartas de sorte ou azar, e o jogo deixou de criticar a especulação imobiliária e passou a defender a ideia de que, com esforço, disciplina e um pouco de sorte, qualquer pessoa pode enriquecer.

Versão húngara

Desde que comprou a Parker Brothers e adquiriu os direitos sobre o Monopoly, em 1991, a Hasbro passou a apostar em dezenas de versões alternativas. Existem tabuleiros temáticos dedicados a filmes, como Star Wars, Carros e Deadpool, games, como Mario Kart, e séries, caso de Game of Thrones.

Mais recentemente, surgiram as versões irônicas. É o caso, por exemplo, do Monopoly Cheater's Edition, que estimula os participantes a trapacear, e do Monopoly for Millennials, no qual os jogadores não compram imóveis ou empresas, mas usam o dinheiro para coletar “pontos de experiência”, como ir a um festival de música de três dias ou a um bistrô vegano. A versão sobre os millenials já havia provocado polêmica na época do lançamento, em novembro passado.

O jogo tem alcance global. No Brasil, ele foi licenciado pela Estrela, que o lançou, em 1944, com o nome Banco Imobiliário, o jogo mais vendido da história do país. Em 2009 a Hasbro retomou os direitos sobre o Monopoly, mas a Estrela mantém o Banco Imobiliário no mercado.

Na Hungria socialista, havia uma versão pirata do game, chamada Gazdálkodj Okosan, nome que significa “gerencie suas finanças com sabedoria”. Nesse jogo, o ponto de partida é a fábrica onde os competidores proletários trabalhavam. O objetivo do jogo era muito mais modesto do que comprar terrenos e construir casas e hotéis para pagar aluguel – era apenas comprar, terminar de pagar e mobiliar um apartamento.

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