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Ele esperou o momento em que a exposição da ex-colega do ensino médio lhe causasse mais danos. Tudo por causa de um vídeo de 3 segundos.
Ele esperou o momento em que a exposição da ex-colega do ensino médio lhe causasse mais danos. Tudo por causa de um vídeo de 3 segundos.| Foto: Reprodução

Jimmy Galligan – o menino de 18 anos que “não se arrepende” de propositadamente destruir a vida de sua ex-colega de classe branca por ela ter dito um termo racista aos 15 anos — não é exatamente o primeiro adolescente a bancar o valentão. De qualquer forma, nem ele nem seu alvo merecem a atenção que a imprensa está lhes dispensando.

Eis aqui a situação: em 2016, Mimi Groves, então caloura na Heritage High School, em Loudoun County, na Virgínia, mandou um vídeo para a amiga no Snapchat, no qual dizia “Agora eu posso dirigir, negona!”. Essa mensagem inapropriada e desleixada foi, então, compartilhada até chegar e Galligan, que, revoltado com tamanha insensibilidade racial, decidiu guardar o vídeo para postá-lo “na hora certa”, que, disse Galligan ao New York Times, seria no exato instante em que “ela pudesse perceber a gravidade do que disse”.

Assim, Galligan esperou que Groves fosse aceita na universidade de seus sonhos, a Universidade do Tennessee, em cuja equipe de cheerleaders ela também foi aceita. Enquanto isso, no mundo dos adultos, a tensão racial e os distúrbios civis se espalhavam pelo país em reação à morte de George Floyd. Agora mais velha e sensibilizada por essas questões, Groves publicou seu apoio ao movimento Black Lives Matter no Instagram. Foi então que Galligan a surpreendeu. Ele publicou as palavras racistas dela no Snapchat, TikTok e Twitter. A reação foi exatamente a que ele esperava. A vida de Groves sofreu um solavanco. Ela foi expulsa da equipe de cheerleaders. Ela foi desconvidada a se matricular na faculdade. Estranhos lhe enviaram mensagens de ódio. Tudo isso por causa de uma palavrinha num vídeo de três segundos enviado a uma amiga.

A única forma de qualquer adulto moralmente consciente participar assim da humilhação de um jovem – e ainda se considerar virtuoso – é se submetendo a uma ideologia na qual as pessoas (ainda que jovens) não são tratadas como indivíduos, com todo o contexto que isso exige, e sim como representantes de um grupo racial. Mimi Groves é branca. E é preciso fazer dela um exemplo. Na verdade, essa é justamente a lógica que permeia a reportagem incrivelmente irresponsável sobre o episódio, escrita por Dan Levin, do New York Times.

Levin compõe a cena dizendo ao leitor que Galligan afirmou que esse tipo de vocabulário racista “era usada regularmente nas salas de aula e corredores ao longo de todos os anos que ele passou nas escolas de Loudoun County”. (Isso pode muito bem ser verdade, mas estranhamente Levin não se dá ao trabalho de investigar. Ele não inclui nenhum comentário da escola nem fala do contexto específico). Em vez disso, Levin nos diz que a decisão de Galligan de soltar o vídeo no momento em que ele causaria mais prejuízo a Groves “ricochetearia em Leesburg, Virgínia, cidadezinha batizada em homenagem a um ancestral do general confederado Robert E. Lee e cujo sistema escolar contestou a ordem de integrar negros e brancos durante mais de uma década depois da decisão da Suprema Corte”. Será que ele está querendo dizer que Mimi Groves, nascida no século 21, é cúmplice do racismo dos líderes e legisladores do passado? Isso não parece justo.

As circunstâncias e o contexto, a verdade e a justiça, a misericórdia e a proporcionalidade fazem parte do reino do indivíduo e simplesmente não importam quando vão contra o objetivo coletivista. Para quem pensa assim, os fins sempre justificam os meios. Como o inimigo é o racismo, qualquer sinal dele deve ser identificado e exposto com força. Mas as pessoas são seres complexos e nem todos os que expressam palavras racialmente ofensivas são membros da Klu Klux Klan.

Uma das amigas negras de Groves, e que saiu em defesa dela nas redes sociais, disse: “Supostamente deveríamos educar as pessoas (...) não arruinar a vida delas só porque você quer se sentir empoderado”. Quem não disse uma idiotice assim quando adolescente? “Nós nos avaliamos por nossas intenções e avaliamos os outros por seu comportamento”, como diz certa vez Stephen M. R. Covey. Novamente, a história aqui não é a da crueldade de Galligan, e sim como uma ideologia encravada na vida civil é capaz de irresponsavelmente destruí-la. O New York Times chamou o caso de Mimi Groves “a julgamento sumário”, sem espaço para o perdão.

Você há de ter pena dos adolescentes – famosos por serem obcecados pela própria imagem, imaturos e por não demonstrarem empatia – que jamais estiveram tão expostos e vulneráveis quanto agora. Antes das redes sociais, adolescentes tinham várias coisas com as quais se preocupar: talvez não fossem bonitos, populares ou não estivessem na moda o bastante. Hoje, tudo o que eles fazem tem o potencial de viralizar e ser julgado por uma plateia mundial – não é de se espantar que seus níveis de ansiedade estejam nas alturas.

Imagine ser uma menina de Utah que usa um traje tradicional chinês na formatura, só para acordar com o mundo todo à sua porta a acusando de racismo ou apropriação cultural. Ou imaginem o estresse de Matthew Burdette, menino de 14 anos de San Diego que foi filmado por um colega no banheiro. O colega publicou o vídeo e disse que Burdette estava se masturbando. (Burdette se matou pouco depois).

A ideia adolescente do “eu contra o mundo” se transforou no pesadelo adolescente do “todos me odeiam”. As redes sociais e a Internet levaram isso a outro patamar.

Madeleine Kearns é escritora na National Review.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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