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A indústria da fertilidade parece ter decido “terceirizar a ética” e realizar estudos controversos com mulheres pobres em países de Terceiro Mundo, como o México.
A indústria da fertilidade parece ter decido “terceirizar a ética” e realizar estudos controversos com mulheres pobres em países de Terceiro Mundo, como o México.| Foto: Pixabay

As mexicanas recebem US$1.400 para serem hiperestimuladas a fim de que seus ovários liberem vários óvulos, e não só um, durante seu ciclo. Depois, elas são submetidas a uma inseminação artificial que resulta numa gestação com vários embriões que, por sua vez, são retirados do corpo delas para serem estudados. É o que diz uma matéria da NPR:

Pesquisadores conduziram um estudo controverso que envolveu o pagamento a dezenas de jovens mulheres num hospital perto de Puerto Vallarta, no México, para que elas fossem artificialmente inseminadas de modo que seus embriões pudessem ser tirados de seus corpos e analisados para fins científicos.

O estudo mostrou que os embriões criados assim parecem ser tão geneticamente saudáveis quanto os embriões criados por meio da fertilização in vitro padrão. Fisicamente, os embriões talvez sejam ainda mais saudáveis, descobriu o estudo (...).

Além disso, algumas mulheres foram submetidas a abortos químicos ou cirúrgicos posteriormente, quando exames indicaram que alguns dos embriões talvez não pudessem ser removidos.

Alguns dos embriões sobreviventes foram mais tarde usados em outras mulheres. Outros foram congelados.

Esse “experimento” é muito errado em pelo menos quatro aspectos. Primeiro, ele cria vida humana apenas para fins científicos. Depois, ele paga para que mulheres se submetam a abortos (quando os embriões todos não são descartados). Terceiro, ele trata mulheres como objetos, como apenas “placas de Petri”, para citar a especialista em bioética Lorie Zoloth (com a qual tive minhas diferenças no passado, mas não neste caso). Em quarto lugar, a hiperestimulação pode ter sérios efeitos colaterais, levando até à morte. Acrescente a possibilidade de as mulheres serem muito pobres e você tem um cenário de exploração.

Meu amigo e especialista em bioética William Hurlbut, de Stanford, chama esse tipo de experiência de “ética terceirizada”, isto é, os cientistas conduzem estudos imorais ou questionáveis fora dos Estados Unidos, onde eles provavelmente não seriam permitidos – e ninguém ousaria fazê-los.

Mas esse dilema ético já foi superado, você não sabia?

Munne [o geneticista que chefia o estudo] defende a pesquisa, dizendo que ela passou por várias revisões e foi aprovada pelo Ministério da Saúde do estado de Nayarit, no México, e pelo Comitê de Ética dos Estados Unidos. As mulheres foram informadas dos riscos potenciais, diz Munne.

“Fomos aprovados em todos os comitês e todas as avaliações éticas”, diz ele.

E o que você entende a partir disso?

A ideia, aqui, é criar um novo método para a indústria da fertilidade, na qual as mulheres serão pagas para produzir embriões em massa dentro de seus corpos – concepção terceirizada, digamos assim —, embriões esses que depois serão manipulados em laboratório. Depois disso, os embriões passarão por procedimentos de controle de qualidade – talvez incluindo a seleção do sexo. Aqueles que passarem pelo controle de qualidade serão implantados em mulheres que darão à luz seus próprios filhos ou que ficarão grávidas como “barrigas de aluguel”, para usar o termo desumanizante da indústria. Tudo por dinheiro.

As grandes empresas de fertilidade estão se tornando um problema moral.

Wesley J. Smith é escritor e membro do Centro de Excepcionalismo Humano do Discovery Institute.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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