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Coleção de livros infantis para meninas passa a ensinar gênero nos EUA
| Foto: Bigstock

No Natal de 2001, eu tinha 8 anos de idade. Correndo escada abaixo na casa da minha família na Nova Inglaterra, eu dava com a sala de estar e encontrava os embrulhos de presentes junto à lareira. Só um não tinha embrulho: Josefina, uma boneca da American Girl [Menina Americana].

Passei horas da minha infância brincando com Josefina e outras bonecas da coleção American Girl que minha amorosa avó dava a mim e à minha irmã.

As bonecas eram uma fonte de brincadeira criativa, mas também de educação. Aprendi muito sobre a História dos EUA, desde a abolição da escravidão até a Grande Depressão, por meio dos livros de ficção histórica que acompanhavam cada boneca.

Mas a empresa que costumava se concentrar em infundir coragem nas meninas por meio do ensino da História hoje diz-lhes que elas podem mudar o próprio gênero.

"Gender joy" [Alegria do gênero] é uma seção de "A Smart Girl’s Guide: Body Image" [Guia para meninas espertas: Imagem corporal], o livro de 96 páginas lançado há pouco pela American Girl. Na Amazon, é recomendado para crianças de 9 a 12 anos.

"A maneira como você mostra o seu gênero para o mundo por meio de roupas e comportamento é a sua expressão de gênero", lê-se numa página fotografada que foi divulgada primeiro pelo jornal britânico Daily Mail.

"Ser transgênero não é uma doença, nem uma vergonha", continua o livro. "Se você estiver questionando sua identidade de gênero — ou se você já souber que é trans ou não-binária — fale com um adulto de sua confiança, como um dos seus pais ou a conselheira escolar."

A página continua: "Se você ainda não tiver passado pela puberdade, o médico pode oferecer remédios para atrasar as mudanças do seu corpo, dando-lhe mais tempo para pensar na sua identidade de gênero"

"Se você não tiver um adulto de sua confiança, há organizações por todo o país que podem lhe ajudar", escreve Mel Hammond, a autora do livro.

Pode-se dizer que o último parágrafo da página é o mais preocupante. Diz aos jovens que, se forem "transgênero ou não-binários, seu jeito de amar o próprio corpo pode ser um pouco diferente do jeito das pessoas cisgênero."

Continua: "Partes do seu corpo podem lhe fazer se sentir desconfortável, e você pode querer mudar a sua aparência. Isso é totalmente OK! Você pode gostar do seu corpo por tudo o que ele lhe permite provar, mas ainda querer mudar algumas coisas nele."

Não é difícil imaginar uma criança de 10 anos lendo essas palavras e perguntando: "Se eu não amar o meu corpo, se eu quiser mudar algumas partes dele, ou se eu me sentir desconfortável com a minha aparência, então eu sou transgênero?"

O variegado livro da American Girl também toca no racismo. "Nos Estados Unidos de hoje, as meninas e mulheres que se enquadram nos padrões de beleza tendem a ser... brancas", diz a página 69. "Não é nenhum segredo que o racismo define quem aparece na TV, filmes e propagandas."

O livro não é totalmente desprovido de bons conselhos para as meninas, pois diz-lhes que a "verdadeira felicidade vem de fazer o bem, e não de parecer bonita", e incita as crianças a fazerem exercícios físicos todo dia.

Mas há uma montanha de bons livros que infundem ânimo nas meninas sem incitá-las a questionar se são de fato meninas, nem fazê-las se sentirem vítimas ou vilãs por causa da cor da própria pele.

Alguns desses livros positivos eram publicados pela American Girl anos atrás.

A American Girl foi fundada em 1986 pela empresária Pleasant Rowland, de 81 anos, depois de uma viagem ao Colonial Williamsburg. Rowland teve a ideia de criar uma série de livros infantis sobre meninas americanas crescendo ao longo da História dos EUA. [O Colonial Williamsburg é uma museu a céu aberto dentro de uma cidade histórica da Virgínia. É uma réplica dos tempos coloniais, com edifícios restaurados e atores com roupa de época passando por transeuntes comuns. (N. t.)]

Uma boneca acompanha cada personagem do livro, e vendem-se roupinhas e acessórios com precisão histórica para botar nelas, "de modo que as meninas pudessem brincar com as histórias", disse Rowland na fala da comemoração dos 25 anos da American Girl.

Sua ideia tornou-se um tremendo sucesso: a American Girl faturou mais de um milhão de dólares em vendas já no primeiro ano.

Desde sua concepção, a American Girl era "uma empresa de meninas, e cabia a nós dar-lhes qualquer coisa que fosse boa para meninas", disse Rowland durante a celebração em 2011.

A companhia começou a se desviar da ideia de sua fundadora em 1998, ao ser vendida para a Mattel, criadora da Barbie. No início a mudança foi sutil, mas não demorou para a companhia se afastar do seu foco de usar bonecas para contar as coisas da História dos EUA.

A visão de Rowland de uma empresa que venderia "qualquer coisa que fosse boa para meninas" foi, em grande medida, trocada por uma agenda que lhes ensina que podem parar a puberdade, descartar suas características de menina e até esconder dos pais a "transição".

Uma caixa com minhas antigas bonecas da American Girl está na casa dos meus pais juntando poeira. É uma sombra do tempo em que a inocência das crianças era protegida.

©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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