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Por meio da terceirização da consciência política e cultural, os progressistas promovem e aderem a uma série de pautas que depois são impostas à sociedade.
Por meio da terceirização da consciência política e cultural, os progressistas promovem e aderem a uma série de pautas que depois são impostas à sociedade.| Foto: Bigstock

A política de hoje parece ter saído de um pântano hobbesiano. A criatura desse pântano é um anão moral asqueroso e violento aonde quer que ela se manifeste – e ela parece estar por todos os cantos. Suas ações – porque tudo hoje em dia é arte performática – são uma farsa. Nas ruas, sua palavra de ordem é a confusão; na Internet, violência; na academia e na imprensa, uma equalização coordenada que beira o totalitário. Nos altos escalões do governo, ela tem preguiça ou é estúpida demais para convencer, optando pela manipulação, intimidação, espionagem e castigo.

O homem hobbesiano age movido pelas paixões do orgulho e do medo. Sua vaidade e a alegria com que se coloca acima dos demais geram guerras. O horror à anarquia e o medo da morte o faz buscar a paz. A política de esquerda, repugnante e onipresente, agora canaliza essas paixões, transformando-as num enorme projeto de engenharia social: a construção da nova Torre de Babel.

O medo e o orgulho ergueram a antiga Torre de Babel, criada por aventureiros anônimos que queriam fazer para si “um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra”. O anonimato faz sentido, porque havia então “apenas um idioma, um conjunto de palavras (...) um povo” no mundo. Os babilônios cozinharam tijolos com a terra — “adamah” em hebraico, a mesma substância usada por Deus para criar o primeiro ser humano (“ha’adam”) — e começaram a “construir uma cidade e uma torre que alcançasse os céus”. Esses tijolos, uns iguais aos outros, são imagens de seres humanos sem o sopro divino e sem individualidade.

Já houve outras tentativas de reconstruir a Torre, principalmente na União Soviética e na China. Hoje, uma língua inumanamente igualitária se afirma como a medida de todas as coisas e mais uma vez ameaça destruir a individualidade e os muitos idiomas do pensamento, da fala e da criatividade humanas.

As bases da nova Torre já foram estabelecidas. Numa entrevista recente, perguntaram ao artista dissidente chinês Ai Weiwei se ele considerava Donald Trump um autoritário. Ele disse que não:

“Para que você seja autoritário, precisa de um sistema que lhe dê apoio. Você não pode ser um autoritário em si. Mas nos Estados Unidos de hoje você pode facilmente ter um autoritário no poder. De certa forma, vocês já são um Estado autoritário. Vocês só não sabem disso ainda”, disse ele.

“Muitas coisas que acontecem nos Estados Unidos hoje em dia podem ser comparadas ao que aconteceu na Revolução Cultural a China, como pessoas tentando se unir em torno de um conceito do que é politicamente correto”, acrescentou. “Isso é muito perigoso”. Ele disse ainda que a tecnologia cria consumidores de informação passivos. “Você não precisa fazer nada. você simplesmente se considera purificado por concordar com certas ideias. Isso representa um perigo para a sociedade, para uma sociedade extremamente dividida”.

Ainda que o norte-americano comum pareça rejeitar o politicamente correto, essa ideia prospera nos centros de riqueza e poder. Para empresas, instituições filantrópicas e indivíduos, a purificação — motivada tanto por medo quanto pela crença — exige a afirmação pública da ortodoxia woke. Como estou falando dos Estados Unidos, esse processo pode ser terceirizado: como diz Ai Weiwei, não é preciso fazer nada. Toda uma indústria de consultoria surgiu para lucrar com o que, para alguns, não passa de um esquema de proteção política.

Pegue, por exemplo, o Building Movement Project, que ensina organizações sem fins lucrativos a “se alinharem e estabelecerem relações corretas com os valores sociais em transformação” e que oferece “uma série de recursos para instituições arrecadadoras que querem e expandir e aprofundarem o apoio a organizações, redes de contato e líderes envolvidos com os movimentos de transformação social”.

O grupo é patrocinado pela ONG TSNE MissionWorks, sediada em Boston, e compara sua atuação à da Fundação Ford, entre outras. O grupo descreve seu programa Solidarity Is This como “uma prática transformadora e uma estratégia de poder coletivo, libertação, inclusão, pacificação e igualdade”. Mas inclusão e pacificação são raras em sua declaração de princípios e práticas:

Nosso trabalho se baseia na ideia de que leis, processos, sistemas e instituições norte-americanas servem para reforçar o supremacismo branco, o patriarcado, o capitalismo e a xenofobia. Por meio do nosso trabalho, reconhecemos que esses sistemas e comportamentos abrem caminho para o racismo sistêmico; o genocídio, diáspora e preconceito contra as comunidades nativas; as medidas patriarcais e heteronormativas que ameaçam as vidas de mulheres, queers e transgêneros; e leis e comportamentos que têm como alvo imigrantes, refugiados e as comunidades muçulmana, sul-asiática e árabe.

Solidarity Schools ajudará a ensinar essa doutrina radical de rejeição política e cultural para “jovens líderes de 18 a 25 anos em todo o país” e, no futuro, a trabalhadores do terceiro setor. O alinhamento tem que começar cedo.

A construção da nova Torre de babel está acontecendo em vários níveis. Em grande medida, esse trabalho é financiado por organizações ricas, dispostas a terceirizar seu pensamento e consciência estimulando a ação dos ativistas e promovendo as pautas deles. O executivo lacrador de uma ONG nada mais é do que a faceta boazinha do bandido Antifa mascarado. Essa combinação peculiar de conveniência corporativa e idiotice política é um mau sinal para a república norte-americana.

Jacob Howland é professor emérito de filosofia na Universidade de Tulsa e membro do Tikvah Fund.

© 2021 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês 
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