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Numa das escolas mais ricas dos EUA, com 94% de alunos não-brancos, as crianças aprendem que o mundo se divide entre opressores e oprimidos.
Numa das escolas mais ricas dos EUA, com 94% de alunos não-brancos, as crianças aprendem que o mundo se divide entre opressores e oprimidos.| Foto: Pixabay

Uma escola de ensino fundamental de Cupertino, na Califórnia — uma comunidade do Vale do Silício onde as casas custam, em média, US$2,3 milhões — recentemente obrigou uma turma do terceiro ano a desconstruir suas identidades raciais e depois avaliarem hierarquicamente seus “poderes e privilégios”.

De acordo com documentos e denúncias de pais, um professor do terceiro ano da R.I. Meyerholz Elementary School começou a falar de “identidade social” na aula de matemática. O professor pediu aos alunos que criassem um “mapa de diversidade”, citando sua raça, classe social, gênero, religião, estrutura familiar e outras características. O professor explicou que os alunos vivem numa “cultura dominante” de “brancos de classe média, cisgêneros, esclarecidos, cristãos e anglófonos” que, de acordo com a aula, “criaram e mantiveram” essa cultura a fim de “tomar e se manter no poder”.

Depois, os alunos leram “This Book Is Antiracist” [Este livro é antirracista] e aprenderam que “os privilegiados têm poder sobre os demais” e que “pessoas que não tiram proveito de suas identidades sociais e que pertencem a uma cultura subordinada não têm privilégios nem poder”. Como exemplo, o livro diz que “um homem cis branco heterossexual, considerado bonito e anglófono, tem mais privilégios do que uma mulher negra trans”. Em alguns casos, por causa do princípio da interseccionalidade, “uma parte da gente é opressora e outra parte é oprimida”, tudo dentro de um mesmo indivíduo.

Depois de discutir isso, o professor mandou os alunos “desconstruírem” suas identidades interseccionais e “marcarem as identidades opressoras e privilegiadas” em seus mapas identitários, avaliando as características hierarquicamente. O professor ainda ordenou que os alunos escrevessem redações falando quais aspectos de suas identidades “tinham poder e privilégios” e quais não tinham. Os alunos tiveram que escrever “ao menos uma página inteira” sobre isso. Como exemplo, a apresentação incluía um parágrafo curto sobre sexualidade não-binária e transgêneros.

A aula revoltou os pais. “Ficamos chocados”, disse um dos pais que concordou em falar comigo, desde que permanecesse anônimo. “Eles estão basicamente ensinando racismo ao meu filho de oito anos de idade”. Esse pai, que por acaso é asiático-americano, reuniu um grupo de meia dúzia de famílias para reclamar do currículo da escola. O grupo foi recebido pela diretora da escola e exigiu o fim das aulas racialistas. Depois de uma conversa tensa, a administração concordou em suspender esse tipo de aula. (Respondendo ao pedido de entrevista, a diretora da escola, Jenn Lashier, disse que a aula “não fazia parte do currículo formal, e sim do processo diário de aprendizado facilitado por um professor qualificado”.)

A ameaça do racialismo

A ironia é que, apesar de ter 94% de alunos não-brancos, a Meyerholz Elementary é uma das escolas mais privilegiadas do país. A renda média em Cupertino é de US$172 mil por ano e quase 80% dos moradores têm ao menos o ensino superior completo. Na escola, onde a maioria das famílias é de origem asiática, os alunos têm notas excepcionalmente altas e a escola costuma figurar entre as primeiras no ranking das escolas de ensino fundamental do estado. Em resumo, ninguém na escola é oprimido e os pais dos alunos sabem que ensinar interseccionalidade no lugar de matemática é uma perda de tempo — e algo potencialmente perigoso.

Um pai me disse que o racialismo lembrava a Revolução Cultural chinesa. “Ela divide a sociedade entre opressores e oprimidos e, como essas identidades são inatas e as pessoas não podem mudar, a única forma de mudar é por meio da revolução violenta”, disse. “Cresci na China e aprendi isso várias vezes. O resultado é uma família destruída; O marido odeia a esposa, os filhos odeiam os pais. Acho que isso já está acontecendo aqui”.

A luta na escola reflete algo maior. Pela primeira vez, americanos de origem asiática na Costa Oeste estão se mobilizando politicamente. Em 2019, eles deram início a uma campanha bem-sucedida contra as ações afirmativas no estado de Washington. Em 2020, uma campanha semelhante foi realizada na Califórnia e obteve uma impressionante vitória por 57% a 43%. Em ambos os casos, eles defendiam os princípios da meritocracia, direitos individuais e igualdade jurídica — e, assim, derrotaram uma supercoalizão de políticos, ativistas, universidades, imprensa e empresas progressistas.

Há muita coisa em jogo para a comunidade de norte-americanos de origem asiática. Para os progressistas que insistem na narrativa da “supremacia branca” ou do “racismo sistêmico”, os asiáticos-americanos são uma “minoria inconveniente”: eles geralmente se saem menor do que os demais grupos raciais, inclusive os brancos, em termos de realização acadêmica, matrícula nas universidades, renda familiar, estabilidade e outros elementos importantes. As ações afirmativas e outros programas baseados no racialismo prejudicaria a entrada deles nas universidades e seu futuro.

Na Meyerholz Elementary, as famílias de origem asiática estão em alerta para sinais do racialismo na sala de aula. Desde sua vitória inicial, eles têm cogitado fazer campanha contra o conselho da escola. “Consideramos alguns dos membros do conselho da escola como ativistas raciais, e eles têm de sair”, disse um pai. O sequestro das instituições públicas por progressistas obcecados por raça e privilégios merece encontrar oposição em todos os níveis. Os pais de Cupertino acabaram de entrar para essa luta.

Christopher F. Rufo é editor do City Journal e diretor do Discovery Institute’s Center on Wealth & Poverty.

© 2021 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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