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Fundado por uma ambientalista que abandonou o extremismo da esquerda, este grupo quer melhorar o clima com base em boa ciência
Fundado por uma ambientalista que abandonou o extremismo da esquerda, este grupo quer melhorar o clima com base em boa ciência| Foto: EFE

Além dos interesses abertamente imperialistas da Rússia, da verve autoritária de Vladimir Putin e da completa inépcia das principais lideranças ocidentais para fazer frente às potências antidemocráticas que emergem no Oriente, a guerra na Ucrânia serviu para evidenciar outro problema a ser enfrentado pelas nações que se pretendem livres: a severa dependência de boa parte do continente europeu do gás russo.

Por trás da escalada dos preços dos combustíveis em todo o mundo, o cenário é agravado por uma mistura de ideologia com negacionismo: enquanto até as Nações Unidas, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPPCC) e até a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecem a importância da energia nuclear como uma alternativa limpa e rentável para produção energética, o ativismo ambientalista continua a convencer líderes globais a atrasar ou suspender a construção de novas usinas, deixando-os à mercê dos produtores tradicionais. O caso da Alemanha, que fechou três de suas seis usinas nucleares para, hoje, lidar com ameaças de corte de fornecimento energético, é o mais emblemático.

A boa notícia é que, apesar de grupos radicais como Extinction Rebellion - que, inclusive, sequer escondem seu objetivo de acabar não apenas com a produção nuclear, mas com o próprio capitalismo - continuarem a exercer influência sobre decisões ambientais que acabam por castigar o bolso da população, do outro lado, novos movimentos surgem com o objetivo de conscientizar a população acerca dos benefícios da tecnologia nuclear. É o caso do Emergency Reactor, fundado em 2021 por um time de ambientalistas capitaneado pela ativista Zion Lights, ex-porta-voz do Extinction Rebellion. Depois de contar os motivos de seu abandono do ambientalismo radical em uma carta aberta, Lights descreve como sua trajetória levou à criação da ONG:

“Eu costumava defender que o armazenamento de baterias como forma de melhorar a produção de energias renováveis ​​estava logo ali, e ainda ouço as pessoas usando esse argumento. Mas, com o tempo, percebi que a mudança climática está piorando e que não temos tempo para esperar soluções que estão ‘logo ali’. Então, decidi defender publicamente a energia nuclear”, escreve Lights, no portal da Emergency Reactor.

“As mudanças que faremos para lidar com as mudanças climáticas precisam ser baseadas em evidências robustas, caso contrário corremos o risco de piorar as coisas. Precisamos reagir agora, racionalmente, com base em evidências científicas. O ambientalismo fez muito bem, mas quando se trata de fontes de energia limpa, cometemos um erro. Esse erro nos custou a solução do problema, que é a energia nuclear, e levou a uma maior dependência dos combustíveis fósseis que estão destruindo nosso planeta e nossos pulmões”.

Com a ciência e contra o lobby do Greenpeace

Além de Lights, o grupo conta com a participação do cineasta Robert Stone que, em 2013, foi premiado no Sundance Festival pelo documentário "Pandora's Promise", contando a história de outros ambientalistas que se tornaram pró-energia nuclear. No quadro de conselheiros, consta também o nome da engenheira Sue Ion, uma das maiores referências do Reino Unido em energias renováveis, homenageada com o título de “dama” pelo Palácio de Buckingham. "Acho que ainda em nossa era a energia nuclear será vista como um recurso positivo a ser utilizado. É uma fonte de energia incrível - sem dúvida um dos recursos mais sustentáveis já oferecidos à humanidade", diz Ion, em uma publicação do grupo. Há também artistas, professores e cientistas envolvidos no movimento, cujos custos iniciais foram cobertos pelo empresário suíço Daniel Aegerter, filho de dois cientistas nucleares.

Pelas redes sociais, é possível conhecer melhor o trabalho da Emergency Reactor, principalmente focado em comunicação: há publicações desmentindo mitos variados a respeito das usinas nucleares - desde que demoram muito para serem construídas à falácia de que causam poluição hídrica. Em julho deste ano, alguns representantes foram à sede do Greenpeace em Londres para protestar contra o agressivo lobby anti-nuclear do grupo bilionário e não foram recebidos. A carta aberta enviada aos líderes da ONG também segue sem resposta:

"O Greenpeace faz lobby contra a energia nuclear há décadas, tornando mais difícil para que países construam novas usinas. Recentemente, o Greenpeace lançou uma ação legal contra a União Europeia por incluir a energia nuclear em sua taxonomia, apesar de a decisão ter sido baseada na ciência", diz o texto.

"Entendemos que vocês têm receios com relação à energia nuclear e alguns de nós já compartilhamos destes medos. Talvez os tranquilize saber que, embora os métodos de gerenciamento de resíduos variem de país para país, o lixo nuclear é realmente bem tratado e não faz mal a ninguém. Enquanto isso, os resíduos de combustíveis fósseis continuam sendo armazenados na atmosfera da Terra. A qual deles os ambientalistas devem se opor?".

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