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Comrade Cluck, proteína vegana da empresa No Evil Foods
Comrade Cluck, proteína vegana da empresa No Evil Foods| Foto: No Evil Foods / Divulgação

Com produtos como o Camarada Cluck (uma carne vegetal, não é frango de verdade), a No Evil Foods foi alçada ao sucesso promovendo-se como uma empresa de alimentos “revolucionária” que incorpora valores progressistas.

Mas a empresa está aprendendo que promover ideias progressistas é mais fácil do que implementar de fato uma economia seguindo o estilo socialista.

Durante meses, os líderes da empresa têm resistido a um esforço de sindicalização por parte dos trabalhadores de sua fábrica em Weaverville, na Carolina do Norte.

“Eu acredito sinceramente que criar um sindicato agora seria uma coisa terrível para vocês e para a No Evil Foods”, disse Mike Woliansky, co-fundador e CEO da empresa, a seus funcionários no início deste ano. “Com um sindicato, no máximo vocês poderiam ter a mesma coisa que já têm atualmente. Na verdade, vocês podem conseguir menos do que têm atualmente. Eu não acho que vocês precisam de uma voz sindical aqui.”

As palavras de Woliansky aparentemente tiveram um impacto.

O esforço de sindicalização da No Evil Foods, uma marca de alimentos veganos cujos alimentos podem ser encontrados em mais de 5.500 lojas de varejo (incluindo a Whole Foods, supermercado americano de produtos de primeira linha), não se concretizou. Em 13 de fevereiro, os empregados decidiram, em uma votação de 43 a 15, contra a sindicalização. Mas a batalha não tinha acabado.

Dois dos organizadores do sindicato foram demitidos mais tarde, supostamente por violar o distanciamento social e as políticas de vestimenta da empresa.

No início deste mês, a VICE News trouxe a informação de que o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas emitiu uma queixa federal na qual alega que os funcionários foram demitidos ilegalmente. Segundo a queixa, a No Evil Foods demitiu os trabalhadores porque eles “ajudaram na criação de um sindicato” e “fizeram circular uma petição pedindo pagamento de adicionais de risco (...) para fins de ajuda mútua e proteção.”

A No Evil Foods negou que as demissões sejam uma forma de retaliação. Os trabalhadores discordam, e dizem que a empresa não era progressista de verdade.

“Eles estão fingindo um apoio às causas esquerdistas”, disse Jon Reynolds, um dos trabalhadores demitidos da No Evil Foods, em entrevista à revista esquerdista Jacobin.

Quando a realidade econômica colide com os ideais

É possível que os funcionários da No Evil Foods estejam certos, e que os temas revolucionários da empresa sejam simplesmente uma jogada de marketing destinada a atrair clientes progressistas. Por outro lado, há outro cenário possível: Mike Woliansky e a co-fundadora da No Evil Foods, Sadrah Schadel, são profundamente progressistas, mas também seres humanos tentando fazer um negócio ter sucesso.

Não é a primeira vez que a realidade econômica colide com os valores progressistas. No ano passado, a Vox Media foi forçada a cortar 200 blogueiros na SB Nation depois que o governo da Califórnia aprovou um projeto de lei que forçou várias indústrias a mudar o status dos trabalhadores de freelancers para empregados contratados.

Alguns observadores astutos apontaram que as demissões vieram apenas alguns meses depois de a Vox, uma marca de mídia progressista, ter defendido o projeto de lei como uma “vitória para os trabalhadores em todos os lugares.”

Um cenário semelhante pode estar acontecendo na No Evil Foods. Woliansky pode ser alguém que é progressista, mas também percebe que a sindicalização pode causar sérios problemas tanto para sua empresa quanto para os trabalhadores.

Embora demitir trabalhadores em retaliação à organização sindical seja de fato ilegal – a Lei Nacional de Relações do Trabalho de 1935 proíbe os empregadores de promoverem retaliações contra trabalhadores que tentam formar sindicatos – não há nada de errado em tentar convencer os trabalhadores de que a formação de um sindicato poderia prejudicar tanto a empresa quanto seus próprios interesses.

Uma das maneiras pelas quais os sindicatos prejudicam o trabalho é que eles realmente diminuem os salários como um todo. Economistas há muito apontam que os salários deveriam estar atrelados à produtividade.

Como bem notou Milton Friedman, em um mercado livre o crescimento dos salários vem do aumento da produtividade e do maior investimento de capital. Salários artificialmente aumentados — seja por sindicatos ou salário mínimo — só podem existir às custas de outros trabalhadores que acabam tendo suas oportunidades reduzidas.

“Quando os sindicatos garantem salários mais altos para seus membros restringindo a entrada de outras pessoas em uma determinada ocupação, esses salários mais altos só existem às custas de outros trabalhadores que encontram suas oportunidades reduzidas”, explicou Friedman.

Mas a redução do emprego não é o único custo. Como observou o economista George Reisman, os sindicatos diminuem os salários porque diminuem a produtividade:

“Do ponto de vista da maioria dos que tiveram a sorte de manter seus empregos, a consequência mais grave dos sindicatos é a retenção ou redução total da produtividade do trabalho. Com poucas exceções, os sindicatos combatem abertamente o aumento da produtividade do trabalho. Eles fazem isso aparentemente por uma questão de princípio. Eles se opõem à introdução de máquinas que economizam tempo de mão-de-obra, alegando que isso causa desemprego. Eles se opõem à concorrência entre os trabalhadores. Como Henry Hazlitt apontou, eles forçam os empregadores a contratar mais empregados do que o realmente necessário para cumprir as tarefas, como a exigência clássica de que pessoas cuja função era jogar carvão nas fornalhas das locomotivas a vapor tenham seus empregos mantidos em locomotivas a diesel. Eles impõem esquemas de trabalho em que o salário do empregado custa mais do que os benefícios econômicos trazidos pela tarefa por ele executada. Um exemplo é exigir que os canos entregues em canteiros de obras já com roscas feitas em suas extremidades tenham suas pontas cortadas para que receba novas roscas no local. Eles impõem classificações restritivas de ocupações, e exigem que especialistas sejam contratados para receberem por dia de trabalho, e para fazer uma tarefa que poderia facilmente ser feita por outro trabalhador – pense no caso de um especialista em aplicação de gesso contratado para reparar os danos incidentais causados por um eletricista, reparo que o próprio eletricista poderia fazer.

“Para alguém que entende o papel da produtividade do trabalho na elevação dos salários reais, deveria ser óbvio que a política dos sindicatos de combater o aumento da produtividade do trabalho os torna de fato um dos principais inimigos do aumento dos salários reais. Por mais radical que essa conclusão possa parecer, por mais que esteja em desacordo com a visão predominante dos sindicatos como a principal fonte do aumento dos salários reais nos últimos cento e cinquenta anos ou mais, o fato é que, no combate ao aumento da produtividade do trabalho, os sindicatos combatem ativamente o aumento dos salários reais!”

Woliansky e Schadel estão familiarizados com as teorias econômicas de Friedman e Reisman? Talvez não.

Mas, como empresários, eles provavelmente estão profundamente cientes de que aumentar os salários sem aumentar a produtividade resultaria em uma perda para os trabalhadores, menos produção e menos investimento de capital.

A teoria marxista do trabalho rejeita tudo isso, é claro. Em sua obra seminal "O Capital" (1867), Marx explicou sua teoria: o valor de uma mercadoria pode ser medido simplesmente pela relação com o número de horas que leva para ser produzida.

Se um iPhone leva o dobro de tempo de produção de um Apple Watch, então o iPhone deve ser duas vezes mais valioso que o Apple Watch. Assim, o preço competitivo de um iPhone precisa ser o dobro do Apple Watch, a longo prazo, independentemente de quaisquer outros fatores.

A teoria do valor intrínseco do trabalho de Marx foi desmascarada há mais de um século, é claro. No entanto, suas ideias ainda vivem.

Não está claro se os líderes da No Evil Foods ou seus trabalhadores se reconhecem como marxistas, mas o confronto entre eles tem todas as marcas da luta sem fim que Marx via entre o burguês e o proletariado.

Infelizmente para os proprietários da No Evil Foods, eles estão aprendendo da maneira mais difícil que os princípios socialistas são tão problemáticos na prática como são em teoria.

©2020 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.
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