• Carregando...
40.000 foram às ruas em Roma para a manifestação "Escolha a vida". Não apenas contra o aborto, mas também uma defesa completa das mulheres
40.000 foram às ruas em Roma para a manifestação “Escolha a vida”. Não apenas contra o aborto, mas também uma defesa completa das mulheres| Foto: Reprodução

A nova marcha pela vida não é mais apenas contra o aborto. Um robusto e contundente “não” à ideologia de gênero e, em particular, à barriga de aluguel, chamada “escravidão do terceiro milênio”, soou alto e claro do palco da Praça San Giovanni, em Roma, durante a segunda edição de “Scegliamo la Vita” [Escolhemos a vida], realizada neste final de semana.

Outros pontos fortes do acontecimento: a força do testemunho, mais incisivo e eficaz do que a pura afirmação de questões de princípio e, sobretudo, a quebra do paradigma feminista segundo o qual a vida no ventre seria inimiga das mulheres. A proteção da vida, ao contrário, está profundamente enraizada no coração das mulheres, que devem ser deixadas livres para acolher os próprios filhos que estão chegando.

O mau tempo que ainda assola Roma e toda a Itália reduziu, mas não excessivamente, a participação em relação ao ano passado. Um bom sucesso, portanto, para a marcha pró-vida (40.000 participantes, segundo os organizadores), para o qual não faltou uma presença discreta da Emilia-Romagna, embora assolada pela emergência das inundações na Itália.

Na linha de partida da marcha, na Piazza della Repubblica [Praça da República], foram lidas as duas menções institucionais de maior prestígio. A primeira foi a do Presidente da Câmara dos Deputados, Lorenzo Fontana, que, na sua mensagem de apoio a “Scegliamo la Vita”, chamou a atenção para o "compromisso da política e das instituições no apoio à formação de novas famílias".

O Presidente da Câmara espera, assim, a promoção de todas as formas possíveis de “crescimento da natalidade” e de resposta ao “inverno demográfico”, por meio de “políticas — habitacionais, laborais e sociais — capazes de responder às legítimas aspirações dos jovens casais de verem seus projetos de vida realizados”.

A segunda — e, em certo sentido, menos óbvia — mensagem de apoio foi a do presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Matteo Maria Zuppi. “Dizemos sempre sim à vida, desde a concepção, guardada no seio materno, até a que se abre para a eternidade numa cama de hospital”, escreve o purpurado. “A vida não é consumo, performance, potência, força. O homem não é uma ilha! Uma vida reduzida dessa forma — continua Zuppi — assusta, tira a dignidade da fraqueza, se exalta e se abate quando se descobre frágil. A vida é sempre bela quando é amada. É encontro, relacionamento, comunicação. E família. Por isso dizemos não à cultura da morte, que começa com a indiferença, com a crença de que desejos são direitos. Dizemos sim à cultura da vida, a começar pela dos pequenos e dos últimos, dos rejeitados e dos não aceitos”.

O presidente da CEI mencionou uma série de desafios, a começar pela “chamada barriga de aluguel, que usa a mulher muitas vezes pobre para concretizar o desejo dos outros pela paternidade”. Zuppi debruça-se então sobre a “crise demográfica, que está a chegar a um ponto gravíssimo” e sobre a “banalização da interrupção voluntária da gravidez” que gera uma “ferida profunda” nas mulheres que a ela recorrem.

O arcebispo de Bolonha, no entanto, continua defendendo a Lei 194, a qual muitos partidários históricos da manifestação pró-vida (entre eles a ex-senadora Simone Pillon) ainda esperam ser superada e abolida. Na verdade, o cardeal se refere ao apoio que as mulheres poderiam receber para poderem fazer uma “escolha diferente [do aborto] e que não será lamentada; como prevê, aliás, a mesma Lei 194, no artigo 5”. O esclarecimento solicitado no mês passado à Zuppi pelo presidente da Pro Vita & Famiglia Onlus (uma das principais patrocinadoras do "Scegliamo la Vita"), Toni Brandi, em relação à Lei 194, evidentemente não chegou. [Nota da tradução: O Cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, chamou a Lei 194 sobre o aborto de "uma lei dolorosa", mas reconheceu que ela garante uma tradução laica importante e que ninguém pensa em contestar. Sua Eminência disse — com razão — que "a Igreja é a favor dos direitos". No entanto, seria necessário clarificar que direitos, ou melhor, o que se entende por tais direitos. É certo de que o Cardeal Zuppi não considera o aborto um direito. Mas se "ninguém" questiona o 194, então o nascituro não teria direito à vida, numa flagrante violação da lei moral natural.]

A segunda parte da manifestação, após a chegada da procissão a San Giovanni, contou — como no ano passado — com a atuação da banda de rock veneziana The Sun, cujas letras são verdadeiros hinos à vida e ao seu valor imprescindível. Somam-se a isso os depoimentos de três mulheres que praticaram o aborto ou estiveram a um passo da trágica escolha. Em todos os três casos, o resultado final é o mesmo: salvar uma vida por nascer sempre compensa.

De todos os depoimentos, sobressai um fato significativo: em comparação com seus companheiros ou maridos, as mulheres estão cada vez mais inclinadas, mesmo em situações de dificuldade objetiva, a prosseguir com a gravidez. Um movimento que inverte e desmonta o lugar-comum “pró-escolha”, segundo o qual, na Itália, as mulheres não seriam livres para abortar.

A verdade é o contrário, como sublinhou Maria Rachele Ruiu, uma das duas porta-vozes da manifestação, que denunciou a "ausência de alternativas válidas para as mulheres". Portanto, “uma sociedade que não oferece nada além de abandoná-las a esse profundo engano do aborto não é civilizada. Por isso estamos aqui também para pedir que seja dada às mulheres a liberdade de não fazer um aborto", continuou Ruiu, estigmatizando o falso mito: “Não há nenhuma mulher na Itália que, devido a possíveis aplicações da Lei 194, tenha sido forçada a dar à luz. Mas ainda há muitas mulheres que são abandonadas e não têm alternativa”.

Ruiu mais uma vez denunciou o “opróbrio” da barriga de aluguel, referindo-se claramente a feira que, nos últimos dias, em Milão, promove e incentiva esta “escravidão do terceiro milénio”. “Crianças não se compram, crianças não se vendem e crianças nem mesmo se oferecem”; ao mesmo tempo, “as mulheres não se exploram”, acrescentou a porta-voz de "Scegliamo la Vita”.

Na saudação final, o outro porta-voz da manifestação, Massimo Gandolfini, quis deixar uma nota de esperança: “A ditadura do pensamento único e do relativismo parece hoje vitoriosa, mas não esqueçamos que a verdade nunca pode ser suprimida. No final, a verdade sempre vencerá. A história nos ensina que todas as ideologias que foram contra o homem, “pensemos no comunismo" e no "nazi-fascismo, ruíram". Até a “ideologia de gênero, essa ideologia que quer desnaturar o humano, certamente cairá, mas a verdade precisa de profetas e apóstolos, e esses profetas, esses apóstolos, são vocês", declarou ao concluir Gandolfini, dirigindo-se aos manifestantes.

Luca Marcolivio é jornalista.

© 2023 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano: “Scegliamo la Vita, in 40mila contro l'aborto e per le donne”.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]