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O bombardeio de informações sobre a Covid-19 foi tão impactante que ainda hoje é possível ver pessoas sozinhas dentro do carro dirigindo de máscara.
O bombardeio de informações sobre a Covid-19 foi tão impactante que ainda hoje é possível ver pessoas sozinhas dentro do carro dirigindo de máscara.| Foto: Freepik

No livro ‘Guerra Cultural na Prática’ (Selo Avis Rara), especialistas de diferentes áreas apresentam e analisam as estratégias utilizadas pela nova esquerda para silenciar seus opositores.

São textos sobre meio ambiente, educação, racismo, ativismo judicial, Filosofia, cultura pop – assinados por figuras como Ives Gandra Martins, Patrícia Silva, Eduardo Bolsonaro e Natália Sulman, entre outros.

Autor de um capítulo centrado no campo da saúde, o oftalmologista e professor universitário Hélio Angotti Neto explica por que o elemento cultural também afeta profundamente a prática médica e, por tabela, toda a sociedade. Leia um trecho a seguir.

Um dos estudos mais lembrados quando se fala de manipulação psicológica é o de Stanley Milgram [1933-1984, psicólogo americano], no qual uma pessoa é levada a aplicar choques em outra conforme ela errasse algumas perguntas feitas, tudo sob a supervisão de um pesquisador vestido com jaleco.

Quem recebia o choque e o pesquisador, vestido de jaleco e representando a autoridade científica, eram artistas que simulavam a situação.

O sujeito da pesquisa era, na verdade, o voluntário que fazia perguntas e aplicava o choque. O  objetivo era verificar se essas pessoas teriam coragem de seguir ordens imorais, infligindo tortura e até mesmo o risco de morte sobre outro ser humano.

O resultado foi assustador: a maioria dos indivíduos, esclarecidos e cidadãos de um país democrático, aplicariam até mesmo as mais altas descargas de choque.

A motivação era a figura de autoridade do pesquisador assegurando que era necessário continuar o protocolo de pesquisa e que tudo estava planejado.

O assustador experimento de Stanley Milgram mostrou a forte tendência do ser humano em se submeter às autoridades, e explica em parte a tragédia do holocausto nazista e o porquê de muitos dos monstros que praticaram atos terríveis nos campos de concentração terem se desculpado dizendo que estavam apenas “cumprindo ordens”.

Durante a pandemia, foi possível observar a força da autoridade ao lidar com questões ligadas diretamente ao medo e à sobrevivência.

Um  vírus potencialmente letal e desconhecido junto a uma pandemia trouxe o medo generalizado. Com base nesse medo, as autoridades agarraram a oportunidade e prontamente agiram.

Com base no que afirmavam ser a ciência e arrogando o monopólio do anúncio profético dessa ciência por meio da voz de especialistas alimentados com polpudas verbas de laboratórios farmacêuticos e espaço na imprensa de grande impacto nas massas, as autoridades implementaram restrições extremas à mobilidade – os famigerados lockdowns – e preconizaram o uso disseminado de máscaras, só para citar alguns breves exemplos. Ambas as medidas desguarnecidas de amparo científico real.

Ainda hoje, em 2023, quando alguns órgãos de imprensa falam sobre a questão das máscaras, por exemplo, afirmam que especialistas asseguram sua importância, contrariando os achados de uma meta-análise produzida pela Cochrane [base de dados com informações atualizadas sobre medicina], o que se tem de mais elevado em nível de evidências científicas na atualidade.

O impacto do bombardeio autoritário sobre a população, feito pelos especialistas que reproduziam o que deveria ser a “voz da ciência”, foi tão intenso que ainda hoje é possível ver algumas pessoas sozinhas dentro do carro dirigindo de máscara, ou utilizando máscaras ao correrem sozinhas em parques.

Em relação ao lockdown, a conduta de isolar pessoas saudáveis por meses, fechar comércios e impedir a compra de produtos considerados não essenciais gerou desemprego, pobreza e graves transtornos na saúde mental da população do mundo inteiro.

Muitos cientistas renomados, inclusive, atacaram essa ideia absurda, buscando opções menos radicais e já conhecidas como o isolamento de sintomáticos e pacientes diagnosticados, mas foram ignorados pela tecnocracia, que já decidira exercer sua autoridade e tinha a narrativa para isso.

Como foi possível trancar pessoas em suas casas e, contra toda a lógica, agredir o direito de ir e vir e até mesmo de trabalhar (direito fundamental previsto na Constituição), obrigando-as a utilizar máscaras mesmo nas mais excêntricas situações?

O mau uso da autoridade fez isso.

A imagem de autoridade do profissional médico está no imaginário de nossa civilização há milênios, desde o tempo em que médicos eram consultados pelos cidadãos na ágora para deliberar questões de saúde pública na Grécia Antiga até os dias atuais, em que médicos constituem uma douta classe que deve ser ouvida em questões que tratam da vida e da morte.

Essa autoridade se reveste de aspecto carismático, na figura de Hipócrates, e de aspecto tradicional e sacerdotal ao longo dos séculos, endossada pela defesa de valores morais elevados que permeiam o cuidado com o próximo que se encontra fragilizado, fundamentando assim a primordial relação médico-paciente.

Aproveitando-se dessa imagem profissional de autoridade, do medo que a morte traz para quase todos e da credibilidade que o nome “ciência” transmite, ordens foram dadas.

E a população obedeceu aos especialistas de televisão, que contaram com o apoio das autoridades de segurança pública, muitas vezes flagradas em cenas de violência física e moral no combate a crimes horrorosos como, por exemplo, alguém ousar ir à praia com sua filha, manter aberto o negócio que sustenta sua família ou sentar-se de dia no banco da praça ao ar livre.

Afinal de contas, essas autoridades que algemaram, apontaram fuzis e oprimiram esses “perigosos” criminosos, estavam somente seguindo ordens, não é mesmo? Ordens essas assinadas por burocratas e profissionais da saúde ideologicamente comprometidos.

Para os burocratas que se dispuseram a jogar o jogo sujo da política rasteira, utilizando-se da crise para mover um projeto de poder contra o governo instalado, em vez de ajudar o Brasil de fato, foi muito fácil promover atos imorais, pois, como afirmou Stanley Milgram em Obedience to Authority [‘Obediência à Autoridade’, 1974]:

(...) é psicologicamente fácil ignorar a responsabilidade [pelos seus atos] quando se é somente um elo intermediário em uma ação maligna, mas se está distante das consequências finais da ação. Até mesmo [o nazista] Eichmann passou mal quando visitou os campos de concentração, mas para participar do ato de assassinato em massa ele precisava somente sentar-se à sua escrivaninha e trabalhar com papelada. Ao mesmo tempo que o soldado no campo que de fato derramava Cyclon-B nas câmaras de gás podia justificar seu comportamento ao afirmar que estava somente obedecendo ordens vindas “de cima”.

Logo, havia uma fragmentação do ato humano total; ninguém que decidia levar adiante o ato de crueldade era confrontado de fato com as suas consequências. A pessoa que assumiria total responsabilidade evaporara. Talvez seja essa a característica mais comum da maldade instalada na sociedade moderna.

Outras técnicas que foram utilizadas, em plena consciência ou não, durante a pandemia, fortaleceram o mecanismo de obediência a uma autoridade imoral e tirânica e incluíram a espiral do silêncio, que levava vozes dissonantes a se calarem por medo do ridículo causado por inúmeros ataques e tentativas de assassinato de reputação.

Um instrumento político utilizado para afastar as vozes dissonantes foi, por exemplo, a Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) da Pandemia, aberta pelo Senado Federal e liderada por agressivos senadores de oposição ao governo federal.

Os “convidados” e convocados que não concordavam com o discurso que se queria impor eram achincalhados e assediados de todas as formas mais degradantes possíveis.

Acompanhando e divulgando todo o show macabro fornecido por senadores, em sua maioria completamente ignorantes dos assuntos que debatiam, estava a velha imprensa, que rapidamente também aproveitava conteúdos antiéticos vazados de quebras de sigilo para expor ainda mais as vítimas da famigerada CPI. Abutres sedentos de sangue.

Pessoas que enxergavam o absurdo que se vivia muitas vezes se calaram com medo de serem identificadas como obscurantistas, terraplanistas, “anticiência” ou qualquer coisa que o valha, mesmo sabendo muitas vezes que os verdadeiros obscurantistas eram exatamente os que estavam emplacando o falso discurso hegemônico que incluía coisas insustentáveis como lockdown e a concepção potencialmente letal de que se devia obedecer o comando “fique em casa até sentir falta de ar”.

Com um grupo recebendo os holofotes para disseminar um discurso específico, abusando da imagem de autoridade que detinha, seja esta real, seja esta fornecida artificialmente pelo espaço livre na velha imprensa marrom (em referência à fétida substância que a inspira); e os grupos discordantes em sua maioria calados, com medo da exposição e do ridículo, além do receio de processos judiciais descabidos, tudo ficou perfeito para que se impusesse a conformidade grupal.

A conformidade grupal é um mecanismo psicológico descrito por Solomon Asch [1907-1996, psicólogo polonês-americano] no qual um indivíduo afirma coisas erradas e insustentáveis por causa do receio de diferir de seus pares.

Em sua experiência, um indivíduo é chamado a dar uma resposta relativamente simples e muito fácil. Contudo, após diversos atores contratados responderem de forma errada, muitas vezes o sujeito da pesquisa errava absurdamente só para não diferir do grupo e não se submeter à pressão de ser aquele que rema contra a maré.

Quando as autoridades e “porta-vozes” da ciência diziam que o céu era verde com bolinhas amarelas e que chovia para cima, ficava difícil para muitos afirmarem o óbvio: o céu é azul e a chuva desce!

Isolar pessoas saudáveis ou evitar que procurassem diagnóstico e tratamento precocemente constituíam absurdos criminosos, mas que foram repetidos ad nauseam por pessoas muitas vezes inteligentes, porém, hipnotizadas e amedrontadas.

Tal timidez moral, embora compreensível, constituiu falha moral mesmo assim, e permitiu muitos abusos.

Muzafer Sherif [1906-1988, psicólogo turco-americano] aplica esse conformismo observado por Asch em um contexto de criação de normas e padrões, justamente o cenário trazido pela pandemia e outras situações em saúde. Mesmo as regras mais absurdas inventadas podem ser incorporadas se houver a devida pressão social.

Há muitas formas de se manipular a vontade do indivíduo e da sociedade, seja por meio de atos de engajamento ou dessensibilização, por exemplo.

Uma vez que uma atitude ridícula ou contraditória tenha sido adotada, o caminho estará aberto para a mudança de comportamento gerada pela dissonância cognitiva. Quanto mais ridículo o ato realizado e mais público, maior o poder de gerar mutação na psique do indivíduo.

Alguém que tenha defendido, por exemplo, a absurda concepção de que se devia ficar em casa até sentir falta de ar, caso tivesse algum sintoma gripal, chegou a um ponto no qual poderia mostrar profundo arrependimento por colocar a vida alheia em risco ou, de outra forma, evitaria o arrependimento e partiria para uma aposta psicológica ainda mais ousada, do tipo tudo ou nada.

Afirmaria de forma ainda mais veemente o absurdo, talvez tornando-se até mesmo um militante desse absurdo. Afinal, não deve ser fácil carregar consigo a culpa por ter potencialmente eliminado muitas vidas, sendo até mesmo um mecanismo de defesa o ato de reiterar a posição errada.

Um indivíduo que esteja correndo no parque, andando de bicicleta ao ar livre ou dirigindo sozinho dentro de seu carro enquanto usa máscara poderá perceber que comete um ato completamente inócuo.

Mas a sensação de que caiu no engodo é tão vergonhosa que prefere muitas vezes arrumar racionalizações explicativas para defender seu ato e contornar o vexame.

Torna-se um radical defensor das máscaras, portanto, e talvez um dia até mesmo use a máscara no banho ou na piscina (de fato, alguns o fizeram durante a pandemia, acredite se quiser).

Tais ferramentas de controle e manipulação são muito fortalecidas pela importância dada ao cuidado com a saúde. Por meio dessas não tão sutis artimanhas, verdadeiras mutações culturais podem ocorrer.

Alguns exemplos de mutações recentes preocupantes:

• Isenção de responsabilidade em relação a laboratórios farmacêuticos fabricantes de medicamentos e vacinas com tecnologias ainda pouco conhecidas e efeitos adversos igualmente obscuros.

• Aplicação de substâncias ainda pouco conhecidas com dispensa de termos de consentimento livre e esclarecido, o que fere profundamente o princípio da autonomia na Bioética.

• Supressão de liberdades individuais e direitos humanos em prol de um bem da coletividade pouco fundamentado em reais evidências de efetividade.

• Alterações geopolíticas de grande impacto e negociações abusivas entre grandes laboratórios multinacionais e governos de nações diversas, que se tornaram reféns de um mercado baseado no pavor da doença.

• Uso de dados de saúde de caráter tradicionalmente privativo por autoridades sanitárias e implementação de sanções diversas não previstas em lei, abrindo espaço para uso abusivo do poder pelo Estado e seus agentes.

A saúde é uma potente desculpa para os mais apavorantes arroubos totalitários. É uma arma potencialmente destrutiva de manipulação e transformação da sociedade, principalmente durante uma crise de proporções globais envolvendo um agente patogênico e interesses ideológicos e financeiros inconfessáveis.

Tanta autoridade nas mãos de uma classe profissional como a da saúde tem um enorme potencial de estrago. Porém, a afiliação moral ao legado hipocrático de defesa da vida e da dignidade humana sempre foi um freio contra a corrupção absoluta e a tentação totalitária.

Quando, na história, a ética médica se desviou do caminho hipocrático, por exemplo, surgiram os horrores da medicina nazista e comunista, com seus massacres indesculpáveis.

Em uma sociedade sem parâmetros morais sólidos, tudo é permitido. Onde tudo é permitido, impera a lei de quem tem mais força para se impor.

Hoje, a força para se impor se encontra concentrada nas mãos de uma velha elite corrompida capaz de engajar tecnocratas que se prestam ao serviço de fomentar os mais loucos planos e ideias.

Fortalecer a tradição moral hipocrática da saúde e, em especial, a da boa medicina, que sobreviveu milênios salvando incontáveis vidas e angariando o respeito, a confiança e a gratidão das mais diversas sociedades, é obrigação de todos aqueles que ainda não tiveram suas consciências cauterizadas.

Por fim, nossas vidas são profundamente impactadas pela visão que se tem da saúde e, como diz o grande Médico dos médicos, Cristo, “se teus olhos forem trevas, que grandes trevas serão!”.

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