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“Nunca abaixei a cabeça para esse grupo” – Rodrigo Pacheco, senador (PSD-MG), criticando os “bolsonaristas” ao declarar apoio a Lula em 2026. De fato, não abaixou. Seria um feito anatomicamente impossível para quem não possui espinha dorsal.
“Fim da obesidade será mais difícil que fim da fome” – José Graziano da Silva, o pai do Fome Zero. Sempre um passo à frente, o governo Lula já vem implementando com estrondoso sucesso o “Programa de Combate à Picanha com Cervejinha”.
“O resultado apresentou inconsistências históricas na representação do 14 Bis, notadamente em sua estrutura e proporções” – errata da Agência Espacial Brasileira, após postar imagem do 14-bis voando ao contrário, para comemorar os 152 anos de Santos Dumont. Provando que segue na vanguarda do atraso, o governo apresentou sua mais nova invenção: o 14-bisonho, primeiro avião do mundo que voa em marcha à ré.
“Parece um bordel” – comentou o New York Times, sobre os quartos que receberão os delegados da COP 30, em Belém. Em defesa da hotelaria nacional, Janja teria inspecionado os quartos e garantido que tudo é absolutamente normal, do espelho no teto à cama em formato de coração.
“É hora de despolarizar o Brasil. Lógica binária tomou conta do debate público e contaminou a política” – Eduardo Leite, governador do RS (PSDB). Peraí, ele finalmente se assumiu não-binário?
“Sabe por que tem essa máfia? Porque é tão caro que não basta a pessoa pagar uma vez o preço alto” – Renan Filho, ministro dos Transportes, defendendo o fim das autoescolas. Silêncio, por favor. Quando um Calheiros disserta sobre a máfia, devemos todos nos calar e tomar notas.
“Somos a democracia mais consolidada do mundo” – Fernando Haddad, poste do Lula e ministro da Fazenda. Tão consolidada que os três poderes funcionam como se fossem um só.
“A inteligência dos artistas incomoda a extrema-direita” – Ivan Lins, cantor. Dizem que ele possui uma inteligência tão rica e vasta que a mantém trancada a sete chaves, jamais a exibindo em público para não humilhar os menos afortunados.
Uma Semana Magnitska
“Tem uma ironia do destino: essas medidas podem ser impostas a agentes que reprimem denúncias de corrupção, cerceiam liberdades fundamentais ou, pasmem, atuam contra eleições democráticas” – Natuza Nery, comentarista da GloboNews, sobre a Lei Magnitsky. É o tipo de pessoa que lê “Frankenstein” e acha que o vilão é o monstro, e não o cientista maluco que vive torturando a criatura.
“Tem um dado cruel: o risco de a mulher de um ministro do STF chegar nos EUA e o agente da imigração mandar deportar” – Eliane Cantanhêde, no mesmo canal, solidarizando-se com sancionados por violações de direitos humanos. Que crueldade! Imagine serem tratados lá fora com a mesma insegurança jurídica que o STF garante aos brasileiros aqui dentro.
“Moraes não tem contas, nem bens nos EUA” – esclarece Míriam Leitão. Mas agora ele tem a desculpa perfeita para cancelar o cartão internacional da esposa, e ainda dizer que fez isso em defesa da democracia.
“A nossa preocupação é não escalar o conflito” – Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo (STF-RJ), em notinha oficial da Corte após sanções a Moraes. Ué, o que houve com o Barroso? Aposentou os microfones da noite, largou o deboche, abandonou o linguajar de malandro... Será que ele está doente?
“Somos todos Alexandre de Moraes” – Lindbergh Farias, deputado federal (PT-RJ), saindo em defesa de ministro sancionado. Então, favor encaminhar cópia do passaporte ao Tesouro Americano. Solidariedade de verdade é dividir o bloqueio da conta.
“Sanção dos EUA iguala Moraes a xerife do talibã e líder de gangue haitiana” – informa a CNN Brasil. Um belo reconhecimento pelo conjunto da obra.
“Diante dos ataques injustos, declaro integral apoio ao ministro Alexandre de Moraes” – Gilmar Mendes, ministro do Supremo (STF-MT). Moraes teria agradecido o gesto durante o almoço, e aproveitado para confirmar se o “apoio integral” cobria um empréstimo de 50 mangos porque seu cartão, misteriosamente, não passou.
“A lavagem de dinheiro acontece quando você dá aparência legal a algo que é feito para burlar a legislação. Obviamente, não estou sugerindo que um ministro do STF vá utilizar mecanismos ilegais...” – Marcelo Lins, comentarista da GloboNews, discutindo como Moraes poderia evitar as sanções. Se o ministro precisar de consultoria no assunto, certamente não faltarão especialistas com vasta experiência entre os defensores da democracia em Brasília.
“É a maior agressão à nossa soberania da história” – Reinaldo Azevedo, blogueiro. Mais especificamente, à soberania que o STF exerce sobre o povo.
“Eu vi a imagem do gesto obsceno de Alexandre de Moraes, e achei que era montagem” – Marco Aurélio Mello, ex-ministro do STF, reprovando o comportamento vulgar de Moraes. Montagem seria um vídeo do Barroso se manifestando nos autos. Já um do Gilmar mandando prender um corrupto, eu só acreditaria não ser deepfake após perícia judicial. No exterior.
“Lula ficou preso um ano e meio e nunca quis derrubar a democracia nem o Judiciário” – Geraldo Alckmin, sobre a capivara do chefinho. É verdade, ele nunca quis derrubar o Judiciário. Só usá-lo para derrubar suas sentenças.
Os Especialistas
“Eu faço uma aposta com vocês: não vai acontecer nada” – Arthur do Val, o Mamãe Falei, sobre a possibilidade de sanções da Lei Magnitsky, uma hora antes de serem aplicadas. Mamãe, falhei.
“É quase zero a chance de o governo dos EUA aplicar sanções contra Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky” – Thomas Traumann, ex-porta-voz de Dilma Rousseff. Aprendeu com a chefe: primeiro deixou a meta em aberto. Agora, vai poder ir lá e dobrar a meta.
Cenas do Próximo Capítulo
“Maduro não é o presidente da Venezuela. Maduro é o chefe do Cartel de Los Soles, uma organização narco-terrorista que tomou posse de um país” – Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA. Por acaso ele não sabe que, nas maiores democracias latino-americanas, as figuras de chefe de Estado, chefe de governo e chefe de quadrilha são tradicionalmente exercidas pela mesma pessoa?
A Semana do Molusco
“Ele só é rico porque já roubou” – Lula, criticando o voto dos pobres nos ricos. Eis a tão aguardada autocrítica do PT. A única dúvida é por que ele resolveu fazer na terceira pessoa.
“Ninguém põe a mão” – Lula, sobre os minerais raros em terras brasileiras, que alega ser alvo da cobiça americana. Afinal, já são um negócio da China.
“Lula não vai dizer ‘I love you‘ como Bolsonaro” – Fernando Haddad, ministro da Fazenda, num raro momento de honestidade, admite a limitação idiomática do patrão. Ele não vai dizer “I love you” pelo mesmo motivo que não recita Shakespeare no original.
Cantinho da Corte
“O Brasil conseguiu avançar com essa, vamos chamar, entre aspas, legislação feita pelo STF” – Gilmar Mendes, ministro do Supremo (STF-MT), sobre a regulação das redes sociais. E, assim, avançamos na “democracia”, defendemos a “soberania” e garantimos nossos “direitos”. Tudo com as devidas aspas.
“Esperamos bastante tempo para ver se o Congresso legislaria sobre o tema, o que nunca aconteceu. Então tivemos que decidir” – Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo (STF-RJ), sobre a regulação das redes. A democracia é o regime em que, se você demorar muito para escolher, o Barroso vai lá e decide por você.
“Está faltando uma manifestação muito clara de Luiz Fux sobre isso” – Demétrio Magnoli, jornalista, cobrando apoio aos ministros do STF sancionados pelos EUA. Serve um emoji com carinha de choro no grupo do zap ou precisa de um stories no Instagram com música triste no fundo?
“Não vou criticar!” – Janaina Paschoal, jurista e vereadora (Progressistas-SP), sobre decisão de Moraes proibindo deputados de se reunirem em praça pública. É como dizem, em boca fechada não entra mordaça.
“Autoridades públicas permitiram os ilegais acampamentos golpistas em frente aos quartéis, em uma repetição da ignóbil política de apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo entre Chamberlain e Hitler” – Alexandre de Moraes, ministro do Supremo (STF-SP). Por enquanto, ele só pensa que é o Churchill. Mas, se começar a achar que é o Napoleão é bom internar rápido. Antes que o quadro evolua e ele decida invadir a Polônia.
“Neste momento, há três perfis que foram banidos por decisão da Corte. Então, o preço que pagamos é bem baixo. Porque conseguimos preservar a democracia no Brasil” – Luís Roberto Barroso. É a democracia a preço de banana. Dá até medo de olhar a etiqueta e descobrir que é “Made in China”.
“Só não saiu correndo porque não pode” – Flávio Dino, ministro do Supremo (STF-MT) sobre a estátua do STF pintada com batom durante os atos de 8 de janeiro. Fosse uma estátua do distinto ministro, talvez pudesse sair rolando.
“Vai participar, doutor. É só tirar a roupa” – Rafael Henrique Tamai, juiz auxiliar de Alexandre de Moraes, intimando militar a trocar a farda antes de interrogatório. Tudo bem que o inquérito já era indecoroso, mas agora estão passando dos limites.
“Coronel Cid, não precisa responder. Próxima pergunta” – Alexandre de Moraes, interrompendo questionamento de advogado sobre contradições na delação de Mauro Cid. É o “Monólogo da Justiça”: uma peça onde o juiz pergunta, ele mesmo responde e, ao final, se parabeniza pela brilhante condução do processo. Dizem que a obra já ganhou um Magnitsky e agora é candidata ao Prêmio Jabuti.
Tarifacinho
“Lula mantém uma mão sempre estendida para uma negociação, mas com a outra mão mantém a guarda alta para poder golpear” – Beto Vasques, professor de sociologia. Quando o Lula estende uma mão é bom ficar esperto, porque a outra já está pronta para o bote.
“Brasileiros de todos os perfis estão apoiando seu presidente diante dos ataques de Donald Trump” – The Economist, revista britânica. Também pudera, os perfis que não apoiam correm o risco de ser derrubados pelo STF...
“Ninguém quer um país próspero economicamente ao custo do sofrimento de pessoas inocentes” – Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado (PL-SP), sobre o tarifaço. Tudo bem, mas um país quebrado onde os inocentes sofrem do mesmo jeito não parece exatamente um grande avanço.
“Mostramos para eles também que é uma situação ruim para o Brasil, porém muito ruim para os EUA também” – Nelsinho Trad, senador (PSD-MS) após reunião com empresários nos EUA. Ou, em português alexandrino: “vai ser muito mais pior pros estadunidenses”.
“Tarifaço nos EUA já reduz preços de alimentos no Brasil” – manchete do jornal O Globo. Em menos de um mês, Eduardo Bolsonaro já fez mais pelo combate à inflação no Brasil que o governo Lula em três anos.
“Estamos enfrentando um iceberg” – Carlos Viana, senador (Podemos-MG), sobre a relação Brasil-EUA. Enfrentando? Nós já batemos no iceberg faz tempo. Agora estamos na fase de descobrir que os botes estão furados e não tem colete salva-vidas para todo mundo.
“Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo” – Eduardo Bolsonaro, sobre falta de interlocução entre Brasil e EUA. É um absurdo ele querer levar o crédito pelo belíssimo trabalho desenvolvido por Celso Amorim e equipe
“É uma armadilha da oposição!” – Renata Lo Prete, no Jornal da Globo, aconselhando Lula a não ligar para Donald Trump. Pra fazer o Lula trabalhar, é só na base da armadilha.
“Enfrentando as Ameaças do Governo do Brasil aos Estados Unidos” – título de medida de Donald Trump, promulgando o tarifaço. Também, mandaram Janja, Benedita da Silva e Jandira Feghali para negociar com os EUA. Os gringos se assustaram e acharam que era uma declaração de guerra.
“Todo dia Alckmin liga para alguém, mas ninguém quer conversar com ele” – Lula, lamentando o fracasso de seu vice nas negociações sobre o tarifaço nos EUA. Vai ver que as mães dos americanos não deixam eles brincarem com o Alckmin, porque ele só anda com más companhias.



