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A organização que diz lutar por justiça social e racial enfrenta acusações de má conduta financeira por parte de suas fundadoras.
A organização que diz lutar por justiça social e racial enfrenta acusações de má conduta financeira por parte de suas fundadoras.| Foto: EFE

Se você fosse um jornalista lacrador, como apresentaria as acusações de má conduta financeira sofridas pela organização Black Lives Matter (BLM)?

Com certeza você poderia ignorar essas questões financeiras a respeito Fundação Rede Global Black Lives Matter. Ou então talvez pudesse apresentar as acusações como fez a "New York Magazine" num artigo recente: com declarações absurdas de gente dizendo que a corrupção da organização prova que seus líderes são capitalistas.

Por precaução, talvez você também sugerisse que as fundadoras do Black Lives Matter – Alicia Garza, Patrisse Cullors, Opal Tometi e Melina Abdullah – não lideraram a barbárie dos últimos anos e que, em vez disso, elas apenas exageraram o próprio papel dentro da instituição. Tudo não passou de uma invenção da imprensa. Essas senhoras não representam um grande e lindo movimento que luta por justiça social.

Sem brincadeira, é assim que o repórter investigativo Sean Campbell está descascando esse abacaxi em seu artigo para a "New York Magazine". Afinal de contas, os relatos de malfeitos não podem ser varridos para debaixo do tapete, ainda que o "New York Times" e o "Washington Post" tenham tentado bastante.

De todos os lugares, foi justamente a Califórnia que suspendeu a isenção fiscal da Fundação Rede Global Black Lives Matter Global, segundo o site Politico Pro.

Os apologistas da principal organização do Black Lives Matter podem ter de se evadir dos fatos relativos aos supostos malfeitos, mas ignoram a formação marxista muitíssimo bem documentada das fundadoras e culpam o capitalismo por sua cobiça.

Campbell sequer teve a cortesia de mencionar que quem deu o furo foi o jornalista investigativo Andrew Kerr, do "Washington Examiner". A descoberta de Kerr incluiu o sumiço de 60 milhões de dólares, a ausência de qualquer pessoa na liderança da fundação por quase um ano e o fato de ela ter gastado 8 milhões de dólares canadenses para comprar o antigo QG do Partido Comunista do Canadá em Toronto.

Entre ladrões e jornalistas, tanto pior para a honestidade. Antes, porém, vamos dar o devido crédito: Campbell fez várias coisas nobres. Ele é franco ao relatar que a Fundação Rede Global Black Lives Matter não ajudou as vítimas de nenhuma ação policial e que a organização não é muito transparente com as finanças. É a primeira vez que vejo uma grande publicação afirmar estas realidades.

Campbell cita Tory Russell, um ativista de Ferguson, no Missouri: “O movimento que foi catapultado aos holofotes se esqueceu de Ferguson e dos lutadores pela liberdade que literalmente deram a vida pela causa”.

Campbell cita ainda outros ativistas sendo bem honestos quanto a uma “perturbadora falta de transparência financeira” na Fundação Rede Global Black Lives Matter, e ele próprio escreve: “A Fundação Rede Global BLM nunca foi um modelo de clareza fiscal.”

É preciso coragem para um jornalista, numa grande publicação de esquerda, escrever essas coisas. Tanto que Campbell se sentiu obrigado a explicar que é um negro criado por mãe solteira e que "a polícia apontou armas contra mim”.

Mas as virtudes acabam aqui. Com a maior torpeza, Campbell se empenha numa história revisionista, levando o leitor a crer que Garza, Cullors e Tometi simplesmente roubaram os holofotes do movimento Black Lives Matter.

Por exemplo: seu artigo na "New York Magazine" cita Ashley Yates, uma furiosa ex-ativista do BLM. Em 2015, numa conferência na Universidade Estadual de Cleveland organizada para discutir o futuro movimento, ela disse: “As organizadoras confrontaram Cullors, dizendo que ela e suas cofundadoras precisavam fazer mais para corrigir as versões da imprensa segundo as quais a organização delas estava orquestrando o movimento”.

Campbell escreve: “Yates diz que mais tarde ela pressionou em privado Cullors, Garza e Tometi quanto ao assunto. ‘Elas disseram: “Não somos nós mesmas, é a mídia quem faz isto”. E eu fiquei: 'Tá certo, mas isso saiu da sua boca'”.

Segundo essa versão, o trabalho chave de Cullors, Garza e Tometi na organização de grupos socialistas em Ferguson no ano de 2014, depois de um policial dar um tiro fatal em Michael Brown, foi mesmo acidental.

Ao que parece, as três brotaram em Ferguson “rotulando o seu feito como Black Lives Matter”, escreve Campbell, que cita Yates: “Ninguém sabia direito por que elas estavam lá. Ninguém sabia direito nem quem eram elas”.

Este artigo de 2014, numa publicação chamada "In These Times" [Nestes Tempos] – a revista comunista fundada por Herbert Marcuse, Julian Bond e Noam Chomsky – traz um relato muito bom do papel de Garza no uso da morte de Brown para lançar uma rede nacional e global que nos faz menos livres hoje.

Ainda assim, até a fundação do BLM em 2013 parece aberta a questionamentos agora.

"Dizem que Garza bebia uísque quando o noticiário revelou que George Zimmerman foi completamente absolvido das acusações de assassinato na morte de Trayvon Martin, e foi ao Facebook expressar seu luto: ‘Povo preto. Eu te amo. Eu nos amo. Nossas vidas importam.”, escreveu. Sua amiga Cullors replicou com uma missiva própria, fechando com #BLACKLIVESMATTER [#VIDASNEGRASIMPORTAM]”, escreve Campbell.

“Elas têm uma sensação de importância muito inflada, nos termos do movimento”, segundo as palavras atribuídas ao professor de Direito Justin Hansford, da Howard University.

Campbell ainda cita outra ativista revoltada, Keyanna Celina: “Acho que é importante, no que diz respeito ao Black Lives Matter, que eles sejam mais ou menos identificados como capitalistas”.

E assim prossegue o artigo da "New York Magazine", por quase 4.200 palavras. Em parte alguma aparece o profundo marxismo de Garza, Cullors e Tometi. Em parte alguma o leitor encontrará seus anos de formação em centros estabelecidos por gente como Eric Mann e Harmony Goldberg: o primeiro, um apologista de Mao e da União Soviética; o outro, um especialista na estratégia do filósofo marxista italiano que consiste em fazer a revolução por meio da doutrinação ideológica.

E ainda é o marxismo que junta tudo isso.

Por anos, gente como eu tem escrito exatamente o que Campbell mostra: as criadoras da Fundação Rede Global BLM não estão interessadas em justiça social, nem em vidas negras. Sabemos disso não só por causa do que Russell e outros vêm dizendo.

As líderes do BLM são também insensíveis às milhares vidas negras perdidas para a violência nas nas mesmas cidades em que o BLM fez manifestações e quebra-quebra, por causa de alguma coisa chamada “o Efeito Ferguson”.

A justiça social e a equidade racial são, na verdade, uma mera fachada para um projeto muito maior: destruir o capitalismo e o sistema americanos, aí inclusa a democracia representativa.

É por isso que Garza diz ao povo que “todos temos muito trabalho pela frente para continuar desmantelando o princípio organizador desta sociedade”, e que Cullors diz que ela e Garza são “marxistas formadas”, e que Tometi elogia a “democracia participativa” da Venezuela.

É por isso que as organizações socialistas mandaram Garza, Cullors e Tometi para Ferguson a fim de fazer estratégias com outros socialistas.

Desde o princípio, a mídia comum acobertou, em vez de cobrir, a Fundação Rede Global BLM. A rendição de Campbell ao escândalo do BLM é mais um exemplo disto.

Ao fim e ao cabo, os jornalistas terão de relatar a má conduta financeira da Fundação BLM. Mas ao menos já sabemos como ela pôde ocorrer: porque seus líderes são capitalistas.

Mike Gonzalez é membro da The Heritage Foundation, além de correspondente internacional, analista e editor.

©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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