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Concordia University em Montreal: projeto é liderado pela doutora Tanja Tajmel, conselheira especial de diversidade, equidade e inclusão da universidade
Concordia University em Montreal: projeto é liderado pela doutora Tanja Tajmel, conselheira especial de diversidade, equidade e inclusão da universidade| Foto: Reprodução Facebook/Concordia University Future Students

Uma pesquisa nos registros de doações do governo canadense confirmou que quase 164 mil dólares foram concedidos a um grupo de acadêmicos em vista de um projeto de pesquisa chamado “Decolonizando a luz: identificando e combatendo o colonialismo na física contemporânea”.

De modo perturbador, os acadêmicos envolvidos admitem que não têm nenhum interesse em fazer ciência ou buscar a verdade, mas estão interessados em espalhar ideologia woke. “O objetivo do nosso projeto não é encontrar novas ou melhores explicações para a luz; não estamos buscando melhorar a ‘verdade’ científica”, escreveram os estudiosos envolvidos no projeto em um de seus poucos trabalhos publicados. “Em vez disso, nossas iniciativas são motivadas pela marginalização de mulheres, negros e indígenas, particularmente na física”, afirmam.

Em 2018, o projeto “Decolonizando a luz” recebeu uma doação de US$ 163.567 diretamente do governo do Canadá, por meio do New Frontiers in Research Fund [NFRF, sigla em inglês para Fundo Novas Fronteiras de Pesquisa, em tradução livre]. O site do NFRF afirma que o fundo é dedicado a garantir “as melhores práticas em equidade, diversidade e inclusão em pesquisa”.

“Para restringir nossa pesquisa, o projeto se concentrará na luz em geral e em instalações de pesquisa em grande escala (fontes de luz 'síncrotron') em particular, que empregam a luz em pesquisas no campo da física”, diz o pedido de concessão do financiamento. “Consideramos o síncrotron como paradigma prototípico para a pesquisa em física contemporânea, para o conhecimento e para a cultura profissional nesse campo, cuja decolonização é o objetivo do projeto em questão. Para a exploração proposta, seguiremos abordagens complementares: o diálogo com ontologias e epistemologias indígenas e a capacitação de estudantes indígenas para se envolverem na ciência contemporânea e assim alcançar a soberania indígena”.

Estranho? Tem mais. Os acadêmicos planejam decolonizar a própria luz “descentralizando” a astronomia e a ciência ocidentais em favor do desenvolvimento de cursos com estudiosos indígenas e “guardiões do conhecimento” por meio da “visão com dois olhos”. Os pesquisadores afirmam que essa abordagem “permite a colaboração intercultural, bem como múltiplas perspectivas [...], encorajando a constatação de que resultados benéficos são muito mais prováveis em qualquer situação quando estamos abertos à colaboração de duas ou mais perspectivas”.

Essa salada de palavras presumivelmente significa que o projeto pretende promover a compreensão astronômica da era pré-colonial das populações indígenas da América do Norte, colocando-a no lugar do conhecimento moderno nos currículos universitários. “Até o momento, não existem exemplos de cursos e currículos de física decolonizada estabelecidos com sucesso nas universidades canadenses”, de acordo com o pedido de concessão do financiamento. Os pesquisadores esperam mudar isso substituindo a ciência astronômica por “narrativas estrelares indígenas”, de modo que alguém poderia obter um diploma em astronomia simplesmente aprendendo lendas indígenas sobre constelações.

O projeto é liderado pela doutora Tanja Tajmel, conselheira especial do reitor de diversidade, equidade e inclusão da Concordia University em Montreal, cujos interesses de pesquisa incluem “investigar a alteridade, explorar abordagens decolonizadoras e desenvolver o significado e a compreensão da equidade nos campos STEM [conjunto de disciplinas que envolvem ciências, tecnologia, engenharia e matemática, cujas iniciais em inglês formam a sigla]”. Dos 18 pesquisadores listados no site do projeto, apenas um tem doutorado em astronomia – Tajmel é formada em “didática de física”. A especialização de todos os outros é em campos não relacionados, geralmente focados em questões identitárias, como “estudos dos povos originários”.

A equipe interdisciplinar de estudiosos do projeto publicou apenas um artigo de seis páginas, sobre suas intenções, na revista Physics in Canada em 2021, apesar de o projeto estar ativo desde 2018, e produziu um único evento sobre narrativas indígenas, que incluiu um longo momento de reconhecimento das terras indígenas e a execução de percussão tradicional indígena. O conferencista principal, Wilfred Buck, foi apresentado, entre outras coisas, como astrólogo e “a maior autoridade em astronomia indígena do mundo”.

Buck contou a um público universitário uma história sobre uma constelação cri [grupo étnico da América do Norte] chamada “Avó Aranha” que se sobrepõe à constelação de Cassiopeia (o nome grego pelo qual a União Astronômica Internacional se refere à constelação). Nessa história de origem, antes da existência dos humanos, a Avó Aranha ajudou uma “mulher estelar” feita de pura energia a viajar através de outra constelação, o Buraco no Céu (as Plêiades), até a Terra.

Aprender sobre a mitologia nativa pode ser valioso, mas surgem problemas quando a mitologia é ensinada como um fato. Por exemplo, a menção de uma constelação de cavalos agiu como uma sugestão para o orador afirmar incorretamente que os indígenas tinham e usavam cavalos antes do contato com os europeus. Ao longo da palestra, o conferencista enfatizou a importância de receber orientações de sonhos e visões, em vez de experimentos ou dados. Ele sugeriu que os sonhos poderiam contribuir para recuperar o conhecimento indígena pré-colonial perdido e até mesmo nos ajudar a nos “sincronizar com outra realidade” dentro do multiverso.

“Para o nosso propósito, é importante entender a física como um campo social e não como ‘conhecimento puro’ independente de valores e decisões sociais”, escrevem os pesquisadores em seu artigo na Physics in Canada. “A física é mais do que as leis que descrevem e preveem os fenômenos naturais: é um campo abrangente de trabalho com sua dimensão social, sua história e as circunstâncias e propósitos da produção de conhecimento sobre a física. A oportunidade de participar na produção desse conhecimento científico, bem como os propósitos e benefícios desse conhecimento, são enquadrados pelas relações de poder social, pela política e também pelo colonialismo”.

O governo dos Estados Unidos financiou pesquisas ideológicas semelhantes (embora não tão abertamente woke). Um grande estudo, financiado diretamente pela NASA, sobre o potencial do contato de civilizações alienígenas com a humanidade, questiona se os pecados da humanidade – “racismo, genocídio, desigualdade, sabotagem, [...] a lista é longa” – podem erradicar nossa espécie antes que ela tenha a chance de fazer contato com extraterrestres.

As revistas científicas norte-americanas também demonstraram grande interesse no tema da “decolonização”. “A decolonização deve se estender a questões como a colaboração, a autoria e a cocriação de conhecimento”, tuitou a outrora prestigiada revista Nature no final de novembro. A instituição, deve-se notar, é uma invenção ocidental originária da Inglaterra, de modo que, se os editores da Nature desejam remover a influência europeia da ciência, eles podem considerar o fim de suas próprias publicações como um bom começo.

No mesmo mês, a Nature publicou um artigo intitulado “Semeando uma cultura antirracista nos jardins botânicos da Escócia”, que descrevia o anúncio por parte dessa instituição de um “plano de ação para 'incorporar' o trabalho de justiça racial como um 'aspecto central' da botânica de modo a 'tornar os jardins um espaço mais inclusivo’”. De acordo com a Nature, isso seria necessário para homenagear George Floyd, já que “antes do assassinato de Floyd, os jardins botânicos haviam em grande parte escapado do escrutínio” ao qual aparentemente tudo agora deve ser submetido.

Essas incursões na astronomia supostamente decolonizada e na ciência botânica supostamente antirracista são representativas de uma tendência crescente. Da física à botânica, campos científicos até então sérios estão sendo infectados por políticas identitárias radicais – o que Elon Musk chamou de “the woke mind virus” [uma crítica à disseminação do politicamente correto como um vírus]. O extremismo ideológico que até recentemente estava restrito sobretudo às humanidades, em campos explicitamente focados em identitarismo (por exemplo, fat studies [estudos sobre gordos], “Latinx” [pessoas latino-americanas de gênero neutro] studies, queer studies [teoria que afirma que o gênero é uma construção social], etc.) e em certas áreas das ciências sociais, está se estendendo gradualmente às ciências exatas.

O projeto “Decolonizar a luz” de fato lançou luz sobre algo: demonstrou que nenhuma disciplina acadêmica está imune à ameaça de domínio pela esquerda radical.

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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